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Leia na Fonte: Insight - Laboratório de Ideias
[29/08/11]  Reflexões sobre o atual momento da Telebras

Após reativada em maio de 2010, a Telebras está chegando a uma fase importante de sua nova vida, onde começa a se firmar como uma grande empresa de telecomunicações, com abrangência nacional e de fundamental importância para os planos futuros do País.

Por sua vez, o mercado começa também a percebê-la como uma empresa que veio para ficar, que crescerá muito e que gerará valor para seus acionistas. Sintonizando com os novos tempos da estatal, a corretora Strategic Invest indicou a compra de suas ações no último dia 25 de agosto, algo que não ocorria desde o episódio da "privatização"/desativação há 13 anos.

Além das parcerias estratégicas com a Eletrobras e Petrobras, que lhe permitiram estender seu backbone de fibras óticas por todo o território nacional, a Telebras já firmou diversas outras com órgãos públicos (Dataprev, CEEE, Serpro, etc.) e empresas privadas (NeoTV, TIM, Abrint, etc.) visando expandir seu espectro de atuação. No último dia 26, foram divulgados os nomes de 25 entidades de pesquisa brasileiras sem fins lucrativos - entre os mais conceituados centros de pesquisa e universidades - selecionadas pela Telebras para o desenvolvimento de projetos conjuntos nas áreas de redes e infraestrutura de telecomunicações, computação em nuvem, cidades digitais e dados abertos.

Pelo desenrolar dos acontecimentos e declarações de membros da diretoria da empresa e do Ministro das Comunicações, é possível esperar que, até o final do ano, diversas outras parcerias sejam anunciadas, inclusive a eventual participação de bancos ou outras empresas privadas na estatal. Nesse sentido, é bom lembrar a entrevista de Caio Bonilha à Reuters, no dia 22 de junho, pois ela traz pistas importantes sobre os passos futuros da empresa. Por sua relevância, esta matéria está reproduzida no final deste trabalho.

De forma similar, as recentes entrevistas do Ministro Paulo Bernardo (08 Ago, parte 1 e parte 2), do presidente Caio Bonilha (20 Ago) e do diretor comercial Rogério Boros (25/08) permitem visualizar de forma clara a importância atribuída pelo governo à empresa, o foco comercial que possui, o andamento de seus trabalhos e suas perspectivas para o futuro.

Repercussões no mercado acionário

Evidentemente, o mercado acionário não poderia deixar de repercutir a mudança de cenário nas perspectivas da Telebras. Neste ponto, vale fazer uma pequena digressão histórica sobre as ações da empresa.

Entre 2007 e 2009, quando ainda estava em processo de extinção, as cotações das ações preferenciais (Telb4) variaram conforme o tom das notícias veiculadas pela imprensa, dando conta de sua possível reativação. A cotação mínima de R$ 0,40 foi registrada em agosto de 2007, enquanto a máxima foi de R$ 9,90 em dezembro de 2007 (todos os valores foram ajustados para a situação pós-grupamento de 10.000:1, em Jan/2011). Nesse período, ao sabor das boas ou más notícias, houve uma grande alternância de altas e baixas espetaculares de ordem especulativa, provocadas pelas corretoras conhecidas como “miqueiras” ou “centaveiras”. Em outubro de 2008, apenas como um dos vários exemplos ocorridos, a ação fechava a R$ 1,10.

Entre dezembro de 2008 e setembro de 2009, a ação variou entre os patamares de R$ 1,60 a R$ 4,20, só ultrapassando este último em outubro de 2009, quando começaram a avançar as iniciativas governamentais em prol do PNBL e da reativação da empresa.

O grande boom nas cotações ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2010, período em que o Presidente Lula deixou claro que reativaria a empresa, quando as cotações chegaram a atingir uma máxima de R$ 31,50. No entanto, os desencontros políticos relativos ao PNBL e a forte pressão das operadoras de telefonia contra a presença da Telebrás nele, fizeram com que os papéis da empresa fossem sendo abandonados pela legião de pequenos e médios investidores que os adquiriram entre janeiro e junho de 2010. Desse último mês até o dia 08 de agosto de 2011, praticamente a cotação das PN só caiu, vindo de R$ 15,60 para R$ 4,30, acentuando o movimento de queda após o grupamento havido em Jan/2011. A reação dos preços só começou no dia 12 de agosto, quando o mercado parece ter "acordado" para a nova realidade da empresa, com novos players entrando no papel, incluindo a corretora Cruzeiro do Sul.

Quanto às ações ordinárias (Telb3), o caso é um pouco diverso. Após o boom do início de 2010, onde atingiram R$ 30,00 de cotação máxima, os valores passaram a cair juntamente com os das PN. Porém isso só ocorreu até o mês de novembro de 2010, quando, após chegarem a um mínimo de R$ 14,40, tomaram rumo contrário, passando a subir, mesmo após o grupamento. Ao fim, com pequenas quedas esporádicas, chegaram até os R$ 25,35 de hoje.

O histórico das cotações 2007-2010 também mostra que houve algumas alternâncias, ora as ON valendo mais, ora as PN.

A participação do Banco Cruzeiro do Sul

Ao se inspecionar a composição acionária atual, constata-se que o Fundo Tamisa (Banco Cruzeiro do Sul) é, novamente, o maior acionista depois do controlador, possuindo 6,5% (Jul 2011) das ações ordinárias. O restante das ON (3,62%) está no mercado, desconhecendo-se oficialmente seus detentores. No entanto, é possível afirmar que o controlador detém, de maneira indireta, cerca da metade desse total, através do BNDES, BB e fundos, o que levaria o free float a algo próximo a 1,8% das ON, quantidade inexpressiva para parametrizar as negociações em bolsa de valores.

Em tese, somente haveria motivos normais para justificar uma diferença de valores ON/PN - embora nunca de 214,90% como agora - caso houvesse a possibilidade de os ordinaristas influírem nos destinos da empresa com seu poder de voto, o quê, por enquanto, não é o caso.

O histórico interesse do Banco Cruzeiro do Sul pelas ações da Telebras talvez possa trazer uma luz sobre as movimentações de sua corretora nos últimos dias, uma das mais ativas na negociação com ações preferencias da empresa (Telb4).

A estratégia atual do banco, relativa às operações com Telb4, pode ter, entre outros, os seguintes objetivos:

- aumentar a rentabilidade de seus clientes com a valorização direta das ações;
- aumentar significativamente sua posição na empresa, por aquisição de suas ações no mercado e na próxima subscrição, de modo a viabilizar a futura conversão de PN em ON;
- utilizando uma combinação de estratégias convergentes, extrair benefícios quando da ocorrência da anunciada subscrição, da conversão das PN em ON e do ingresso na empresa no Ibovespa e no Novo Mercado;
-)caso resolva permanecer na empresa) passar a ter uma relativa voz nas decisões estratégicas da Telebras, já que, depois do controlador, poderá ser a maior acionista. Com isso, estaria visando a valorização de longo prazo para os cotistas de seus fundos, aumentando ainda o leque de captação, já que poderia incluir investidores mais conservadores, que se orientam por fundamentos sólidos e dividendos.

Com relação à conversão das preferenciais em ordinárias, vale recordar que o §1º do artigo 136 da Lei das S.A. dispõe que "a eficácia dessa deliberação depende de prévia aprovação, ou de ratificação, por titulares de mais da metade da classe de ações preferenciais interessadas, reunidos em assembléia especial convocada pelos administradores e instalada com as formalidades desta Lei". Com esta restrição, é relevante notar que a grande pulverização das 21.002.999 ações PN da empresa torna muito difícil supor a possibilidade de se reunir nos dias de hoje, em assembléia especial, os representantes de 10.501.500 ações.

Aqui, entra em cena a supeita levantada por muitos acionistas, dando conta de que grandes investidores teriam aproveitado a "fraqueza" momentânea das ações PN para derrubá-las ainda mais e favorecer seus interesses futuros. Com a constante depreciação das cotações, tais investidores poderiam ir se posicionando paulatinamente, distribuindo as compras entre si de modo a não chamar a atenção da CVM. Posteriormente, quando fosse proposta a conversão, teriam juntos uma grande posição em ações PN, o que lhes permitiria viabilizar a representação de 50% mais uma ação na tal assembleia especial e aprovar a conversão. Além disso, mesmo que sem o controle majoritário, a posição poderia ser tão expressiva que suas vozes somadas não poderiam deixar de se fazer ouvir pela direção da empresa.

O cenário acima é reforçado pelo fato de a corretora Cruzeiro do Sul estar com presença apenas pontual nas operações com Telb3, mas muito ativa na Telb4.

Horizonte para as cotações

A grande questão do momento é tentar estimar até onde podem chegar as cotações da Telb4, pelo menos em curto e médios prazos.

Tirante o poder das novidades que possam surgir por parte da empresa, do governo e do mercado em geral, tudo dependerá de se conhecer melhor as estratégias da Cruzeiro do Sul e de outros grandes investidores. Mesmo assim, o cenário poderá ser completamente alterado se grandes fundos de capital de risco, nacionais e/ou estrangeiros, resolverem aportar capital na Telebras. A reunião de Paulo Bernardo com Mário Garnero (Brasilinvest), a palestra de Caio Bonilha na AMCHAM e o acompanhamento da empresa por parte de fundos estrangeiros são fatos bastante sintomáticos.

Não custa lembrar também que o VPA da estatal passará para o azul a partir deste trimestre, em virtude dos aportes que já estão sendo feitos pelo governo e que serão bastante incrementados a partir do próximo ano.

A gama de novidades ainda por surgir, combinada com a ação de forças do mercado que não podem ser mensuradas por enquanto, não possibilita estimar um preço-alvo para as ações da empresa, especialmente das preferenciais. No entanto, setores do mercado estimam que tais fatos, apoiados pelo bom free float das ações, possam turbinar a cotação das PN, levando-a para valores próximos ou até mesmo superiores ao das ON. Parece que, com um atraso de mais de um ano, está se cumprindo a afirmação do então Presidente Lula em 19/02/2010: "Se (a cotação) cresceu 35.000%, é novidade, mas que ela vai crescer, vai. Porque nós vamos recuperar a Telebrás. Vamos utilizar a Telebrás para fazer banda larga neste país".

Promissora startup estatal com baixo risco

Em síntese, a Telebras é hoje, provavelmente, uma das mais promissoras startup companies brasileiras, já que está em estruturação, pertence a um setor de alta tecnologia e, principalmente, pode vir a apresentar um enorme potencial de retorno. Além disso, o risco do investimento é relativamente baixo se comparado com startups do setor privado. Os motivos que aliceçam esta afirmação são:

- por ser estatal, conta com todo o suporte do governo;
- será alvo de um investimento de 9,6 bilhões de reais até 2015;
- administrará comercialmene o maior backbone nacional de fibras óticas, além de um satélite geoestacionário e dois cabos submarinos internacionais;
- será a responsável pela construção e gerenciamento da rede de banda larga ultrarápida da Copa de 2014;
- poderá atender mais de 80% da demanda de capacidade para transmissão de conteúdos pela Rede Nacional de TV Pública Digital;
- fornecerá infraestrutura de rede suficiente para que pequenos provedores possam competir no mercado com a oferta de serviços triple play (voz, TV por assinatura ou on demand e internet);
- por ser a empresa líder do Programa Nacional de Banda larga, é considerada como uma das prioridades governamentais;
- a intenção do governo é torná-la uma empresa economicamente auto-sustentável, que cumpra a nobre função social de viabilizar a inclusão digital em todo o País, mas que também ofereça rentabilidade e atratividade para seus acionistas.

Além das potencialidades que a empresa possui, chama a atenção a subvalorização momentânea de suas ações preferenciais em bolsa de valores, já que, além de incomparavelmente mais líquidas, atualmente podem ser adquiridas por cerca de 32% do valor das ordinárias, sem que haja motivos históricos ou técnicos que justifiquem essa discrepância.

Por último, é relevante acrescentar que a as ações PN estão sendo negociadas em valores de 2007/2009, quando a empresa estava em extinção e não havia a mínima certeza de que seria reativada.