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Fonte: Portal da Band - Colunas
[02/12/11]  O longo caminho para a massificação da banda larga - por Mariana Mazza

O ex-presidente da Telebras e principal idealizador do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), Rogério Santanna, tinha um bordão ao se referir a Internet no Brasil: "É cara, lenta e concentrada". Santanna se destacou entre o mar de executivos diplomáticos do setor de telecomunicações por suas opiniões fortes e por não ter meias palavras ao criticar o mercado brasileiro de Internet. Essa postura fez com que muita gente achasse um exagero as reclamações e que o bordão repetido vários vezes pelo engenheiro parecesse uma sentença dura demais para o setor. Mas Santanna tinha razão.

Um estudo divulgado nesta semana pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) = do qual Santanna faz parte, a propósito - mostrou que a frase é lamentavelmente verdadeira. A pesquisa TIC Provedores 2011 revelou que apenas 27% dos domicílios brasileiros dispõem de Internet. O serviço chega basicamente às famílias das classes A e B. Apenas uma pequena parcela da classe C possui recursos para contratar uma conexão de Internet.

Essa concentração, gerada evidentemente por conta do alto custo dos serviços, também se reflete no mercado. Há uma relação direta entre o número de provedores e o Produto Interno Bruto (PIB) da região. Mais de 800 dos 1.934 provedores em operação do Brasil estão localizados na Região Sudeste. Apensas 6% (120) operam na Região Norte. Em âmbito nacional, a concentração é ainda mais evidente. Quase 80% das conexões de Internet no Brasil são fornecidas por seis empresas. Ou seja, 0,3% dos provedores controlam quase toda a oferta de banda larga do Brasil.

Um dos dados mais impressionantes é que demonstra como a Internet é lenta no país. Apesar de toda a publicidade feita pelos provedores, com velocidades cada vez maiores para os pacotes, a realidade é que quase a metade da população conectada dispõe de taxas de transmissão abaixo de 1 Mbps. Pior ainda: metade desses clientes está conectada com uma velocidade de abaixo de 256 Kbps. E estamos falando de banda larga fixa - aquela instalada na casa das pessoas - e não dos modens oferecidos pelas operadoras móveis, conhecidos pela baixa velocidade.

São dados preocupantes. Todos sabem que o acesso à Internet no Brasil ainda está longe do alcançados nos países mais ricos. O PNBL promete reduzir a lacuna da oferta de serviço, ampliando as redes para que toda a população tenha a possibilidade de adquirir banda larga. Mas a verdade é que sem trabalhar na redução do preço - gerando mais competição no setor, por exemplo -, a massificação da banda larga não passará de um conto de fadas.

Outro problema que precisa ser enfrentado é a velocidade dessas conexões. As velocidades de transmissão não garantem uma navegação decente aos internautas brasileiros. É preciso, sim, criar políticas que estimulem a expansão das redes, mas é importante também assegurar que esses investimentos realmente ocorram e revertam na melhoria geral das conexões. Senão, periga a expansão da infraestrutura servir apenas para garantir velocidades cada vez maiores para quem tem dinheiro de sobra para arcar com o alto custo de uma conexão de altíssima velocidade.

O leitor Geraldo Magela Miranda comentou aqui na coluna que na Europa ele paga 42 euros (aproximadamente R$ 120) por um pacote com chamadas ilimitadas de telefone, TV por assinatura e Internet de 10 Mbps. Pois aqui no Brasil, ele gastaria esse valor só para adquirir a banda larga de 10 Mbps e olhe lá. Um pacote semelhante custa pelo menos o dobro em território brasileiro. E convenhamos que a grande maioria da população não é capaz de arcar com um custo mensal de R$ 300 para ter acesso a serviços de telecomunicações. Daí o sucesso dos celulares pré-pagos no Brasil.

Sucesso tal que o Ministério das Comunicações já estuda criar um pacotinho de Internet móvel pré-paga para massificar a banda larga. Por enquanto, os projetos parecem querer enganar as estatísticas, somando brasileiros com conexões de velocidade baixíssima para dar uma falsa impressão de que alcançamos a inclusão digital no Brasil. Os dados do CGI.br mostram que a realidade é outra. É preciso investir em políticas públicas sérias para reverter o cenário de acesso à Internet no Brasil. Ou seremos obrigados a usar o bordão de Santanna por muitos anos mais. Até agora, não há como fugir da constatação: a Internet no Brasil é realmente cara, lenta e concentrada.