WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Telebrás e PNBL --> Índice de artigos e notícias --> 2011
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Fonte: Tele.Síntese
[02/02/11] Orçamento
da Telebrás dá até setembro - por Lia Ribeiro Dias (Entrevista com Rogério
Santanna)
Para interligar as 1.163 cidades previstas no cronograma
do Plano Nacional de Banda Larga, a Telebrás precisará de aporte orçamentário,
antecipa Rogério Santanna.
Para interligar as 1.163 cidades previstas inicialmente no cronograma do Plano
Nacional de Banda Larga, a Telebrás precisará de aporte orçamentário. O número
de cidades foi definido com base no orçamento previsto para a estatal neste ano,
R$ 1 bilhão – reduzido para R$ 740 milhões. “Pode não dar para tudo, mas são
recursos que permitem tocar a empresa até setembro, no ritmo previsto”, diz o
presidente da estatal, Rogério Santanna. “O governo é que vai ditar o ritmo”,
acrescenta, lembrando que “o mais importante em orçamento é ter a rubrica,
porque sempre pode ser complementado.”
Nesta entrevista ao Tele.Síntese, Santanna reafirma que o papel da Telebrás é
promover a inclusão digital e levar internet de qualidade para o interior do
país, além de ser uma opção para os pequenos provedores, que hoje pagam até R$
9,5 mil por megabit. A estatal já cadastrou 272 provedores, cuja necessidade
demanda 24 Gbps no trecho inicial da rede da Telebrás. “O papel da Telebrás é
também introduzir concorrência onde não tem, porque a situação é de monopólio na
maioria das cidades brasileiras”, afirma Santanna. Nas suas contas, tirando as
184 maiores cidades, há 2.135 onde o mercado é monopolista e nas demais ninguém
quer atuar alegando que não há retorno econômico.
Tele.Síntese – O cronograma de iniciar a ligação de cem cidades em abril está
mantido?
Rogério Santanna – Sim, está mantido. Até agora, não há nenhum fato que
justifique alteração do calendário. Temos alguns limitadores que podem gerar
atraso, que são as assinaturas de convênios com as elétricas e com a Petrobras,
mas que eu acredito serão assinados até início de fevereiro, portanto, não
teremos prejuízos em relação a isso.
Tele.Síntese – E o valor para a utilização das fibras já está resolvido?
Santanna – Nós estamos discutindo ainda, mas isso não é o maior problema. O
principal é o acordo; o valor pode ser discutido caso a caso porque tem
situações diferentes, de fibras diferentes (depreciações diferentes), o valor
será um aditivo setorial para cada trecho e para cada situação, porque tem que
ter um teto.
Tele.Síntese – E as licitações para a iluminação das fibras e construção de
backhaul já encerraram?
Santanna – Algumas estão em fase final, porque tem recurso, isso demora um
pouco. Em relação às demais, já estamos fechando quase todos os processos, sem
grandes problemas.
Tele.Síntese – O TCU já se manifestou após a resposta da Telebrás no caso da
licitação da infraestrutura, onde houve recurso?
Santanna – Ainda não, até porque o pleno não julgou, uma decisão monocrática do
relator mas que ainda não foi (...) Esse processo, eu diria, é no mínimo
estranho, porque o edital foi feito, publicado, os principais jornais
acompanharam a abertura do edital, fora a publicidade oficial que fizemos em
relação a isso, e lá pelas tantas, quando o processo está no fim, quando estavam
sendo assinados os contratos com as vencedoras, aparece uma empresa chamada
Sette Engenharia e pede para olhar todo o processo. Ela teve acesso a todo o
processo e ai encaminho recurso para CGU, TCU, e tentou algumas ações judiciais.
A única coisa que prosperou foi o recurso ao TCU, que pediu para que parássemos
a contratações dos demais lotes. E isso está nos dando trabalho, ter que olhar
coisa por coisa... A acusação é absurda, no mínimo estapafúrdia porque o segundo
colocado no leilão de registro de preço de um dos lotes de infraestrutura entrou
na Justiça comum dizendo que nós assinamos o contrato com a Clemar, a primeira
colocada, por preço inexequível e nós tivemos que mostrar para o juiz que o
preço não era inexequível. E aí outro entra com recurso (a Sette Engenharia) e
diz que nós temos um preço superfaturado. Esta mesma empresa também entrou com
recurso na Telebrás no edital de enlaces e torres, onde pensávamos em fazer o
leilão de torre e o radio junto. Acatamos o recurso e separamos. Só que, no
lugar de participar do leilão, a Sette enviou uma correspondência dizendo o
seguinte: 'vocês vão obter um preço superfaturado nessas áreas de torres'. E nós
colocamos torres e postes num item só. Ele queria que separássemos também torres
e postes. O que não foi possível, pois tornaria a gerência complexa demais. Esta
empresa nos mandou uma lista de preços para torres e rádios e não participou do
pregão. Um detalhe: o preço dele é mais caro do que o que nós obtivemos, em
alguns casos, mais de 100%. Quer dizer, quem realmente ia superfaturar era ela,
porque mandou a lista para dizer vocês vão obter preços maiores que esses e eu
estou dizendo que esse negócio está superfaturado. Só que funcionou ao
contrário, demonstrando que quem cobraria mais caro seria a Sette, se fosse
contratada pelo seu preço de lista .
Então essa empresa está com litigância de má-fé para atrapalhar o processo; fez
confusão no processo, dizendo que compramos um container caro demais, só que ele
cotou um container sem ar condicionado e o nosso tem ar, chave, elétrica, está
comparando laranja com banana para gerar confusão no tribunal. Mas nós vamos em
cima dela. Terminado esse processo, demonstrado que não há superfaturamento,
vamos processá-la por litigância de má-fé e por calúnia.
Tele.Síntese – O fator de haver esse atraso no processo licitatório, no caso
envolvendo infraestrutura, não vai retardar ainda mais?
Santanna – O atraso não existe hoje, porque o tribunal não mandou parar o que já
tinha sido contratado, mandou suspender a assinatura de novos contratos até que
ele se pronunciasse. Nós temos um registro de preço, e o registro de preço
permite fazer muitos contratos, para cada trecho fazemos um contrato. Acredito
que agora, com a volta das atividades, a área técnica do Tribunal vai analisar
todos os dados, toda a nossa contestação.
Tele.Síntese – Diante desse quadro, vocês começam por que área a interligação do
país?
Santanna – Vamos começar pelo anel Sudeste-Nordeste -- estamos chamando por esse
nome, mas na verdade não é bem assim porque passa por Brasília, por Tocantins
... Sai de Brasília, passa por São Paulo, Rio de Janeiro, sobe toda a costa do
Brasil e volta lá pelo Tocantins e vem sair aqui no Distrito Federal. E tem
outro ramo que sai do Rio de Janeiro, passa por Belo Horizonte e volta aqui para
Brasília. São esses dois enlaces.
Tele.Síntese – Paralelamente à ligação dos dois ramais vocês vão construir o
bachkhaul para ligar as cidades?
Santanna – Sim. Nossa meta é ligar, este ano, 1.163 cidades que estão a 50
quilômetros desse backbone de fibra óptica, isso vai ter trecho de fibra da
Petrobras e trecho de fibra da Eletrobrás.
Tele.Síntese – Como você vai cobrir esses 50 quilômetros?
Santanna – Os 50 quilômetros serão cobertos por radioenlace – é um dos editais
que temos aqui. Essa licitação que eu mencionei que envolve torres e rádio são
os editais de radioenlace.
Tele.Síntese – Você vai levar o ponto até a cidade. Dentro da cidade o que a
Telebrás vai interligar?
Santanna – Nosso objetivo é ligar os pontos de governo, aqueles mais relevantes,
alguns diretamente, outros com parceria dos provedores locais. Por exemplo, se
tivermos numa pequena cidade um provedor, ele pode fazer a última milha pra
ligar prefeitura, posto de saúde, o que seja.
Tele.Síntese – E a oferta para a população será feita pelos provedores?
Santanna – Sim, pelos provedores. Já temos 272 provedores cadastrados, que nos
informaram suas necessidades, quanto pagam hoje por link. A necessidade de links
informada soma 24 Gbps de demanda nesses trechos.
Tele.Síntese – Essa demanda é só de pequenos provedores ou envolve operadora?
Santanna – Só de pequenos provedores.
Tele.Síntese – Nessa fase vocês não vão vender capacidade para a operadora?
Santanna – Não, nós vendemos para quem quiser. Esses provedores expontaneamente
nos procuraram, pois viram que estávamos começando a fazer esses enlace, hoje
pagam caro no mercado. Acabou de sair um daqui que disse que estava pagando R$
1.200 o megabit.
Tele.Síntese – Um grupo de provedores fez uma reivindicação em relação ao preço,
que o preço de R$ 230 por um megabit estava elevado e não viabilizava o
negócio...
Santanna – Em primeiro lugar é preciso dizer o seguinte. Você está se referindo
a reunião dos provedores com o ministro Paulo Bernardo, em que eles disseram que
contratavam por R$ 180. Bom, temos que separar os provedores em dois mundos. O
mundo dos provedores maiores, que são associados, são grandes, que compram em
escala, compram com a operadora. Muitos deles são clientes da Eletronet e esse
preço de R$ 180 que eles falam é um preço de transporte. A Eletronet dá
transporte para eles, pega eles em sua cidade e leva até São Paulo, onde compram
internet. Só é bom lembrar que a Eletronet não paga imposto, não paga
fornecedor... Não é desse preço que estamos falando. Por R$ 230 estamos vendendo
a saída para a internet para o provedor lá na sua cidade, isso ai custa uns R$
30 a R$ 50 reais que é a saída da internet. Preço de transporte não é preço de
saída da internet. Alguns dos grandes provedores conseguem de fato comprar saída
e transporte por R$ 180, esses estão bem, com um preço bom, não precisam comprar
de nós, podem continuar comprando de seu fornecedor. Entre os 272 provedores
cadastrados aqui na Telebrás - tem provedor comprando a R$ 9,5 mil o mega. Mas
essa não é a realidade dos pequenos provedores. Até porque o pequeno provedor
atende duas a quatro cidades no máximo e paga um preço muito variável dependendo
do tamanho da cidade e da concorrência. Quanto menor a cidade, maior o preço.
Agora, se o governo decidir que quer abaixar o preço, tem que botar mais
dinheiro na Telebrás. Simples, a conta é econômica. Não estamos subsidiando
nada. Esse preço foi acordado com a Fazenda para dar retorno para essa empresa
em três anos, de acordo com o modelo teórico que nós fizemos. Agora vamos ver,
na prática, se vamos conseguir alcançar o que a gente projetou como alvo.
Tele.Sintese – O ministro Paulo Bernardo disse, recentemente, que a Telebrás não
terá o monopólio no atendimento ao governo, que esse mercado será dividido com a
iniciativa privada. Isso muda algum plano da Telebrás?
Santanna – Não muda nada. O ministro Paulo Bernardo, na minha avaliação, disse
aquilo que a gente já sabe, essa conversa de que a Telebrás terá o monopólio não
para de pé. Nós não fornecemos voz, quem fornece voz são as concessionárias; não
fornecemos telefonia celular, e os maiores gastos do governo com telefonia são
nessas áreas, que representam 2/3 da conta. E nós poderemos disputar algumas
contas corporativas no segmento de dados. Nem tudo, porque a capilaridade é
pequena e, provavelmente, será feita pelo link da operadora. O que o ministro
está dizendo é correto, mesmo que nos conseguíssemos 100% das contas
corporativas isso não representaria nem 20% do gasto do governo, essa
possibilidade não existe. Essa conversa das operadoras de que vão perder R$ 20
bilhões – porque eu não vi ninguém mostrar onde é que estão esses R$ 20 bilhões.
Esse mercado não é o do governo. Elas podem estar se referindo à perda que vão
ter nos mercados onde são monopolistas e praticam sobrepreço na venda dos links.
Isso pode acontecer pois vamos vender o link por R$ 230 o megabit e elas vão ter
que baixar o preço.
Tele.Síntese – Se não vão atender toda a parte de dados corporativos do governo,
qual será o mercado-alvo da Telebrás?
Santanna – As ligações do Serpro, da Dataprev, da Polícia Federal, da parte de
Segurança Pública, a área militar, obviamente dependendo da decisão deles. Cada
órgão vai tomar uma decisão, se quer ou não quer ser atendido pela Telebrás. O
nosso alvo são aqueles sistemas que exigem segurança e privacidade do governo.
Não são todos mas são aqueles mais importantes, na área da saúde, onde se
precisa banda, na educação, nas universidades, o que envolve parceria com a RNP,
esse é o nosso foco.
Tele.Síntese – Falando em parceria, como estão as negociações com os governos
estaduais e outros órgãos de governo?
Santanna – Vários estados já nos procuraram e temos negociações adiantadas. O
Ceará é um deles; a Etice, empresa estadual de comunicações, que já tinha
procurado o governo há bastante tempo. Nós é que estamos atrasados. O Espírito
Santo, inclusive o governador Casagrande esteve aqui; algumas cidades como
Campinas com a qual já assinamos um convênio, Belo Horizonte com a qual estamos
trabalhando. Já assinamos um acordo com a Abep (entidade nacional das empresas
estaduais de processamento de dados e comunicações ) e com o Proderj, do estado
do Rio de Janeiro. A Copel do Paraná também já nos procurou.
Tele.Síntese – O Ceará será o piloto de interligação entre a rede da Telebrás e
as estaduais, não é?
Santanna – Não posso dizer que seja o piloto porque temos muitas coisas andando
em paralelo, que vão acontecer juntas. Mas, entre os estado que já tem uma
infovia, o Ceará é talvez o mais organizado. A rede do Ceará tem
complementariedade com o nosso backbone porque tem quatro pontos onde nós não
nos encontramos. Então, nós os ajudamos e eles nos ajudam porque eles vão para
lados que nós não vamos e a gente vai para lados em que eles precisam ter saída
de internet.
Tele.Síntese – E essa negociação , como ela está sendo feita em termos de preço?
Envolve transação financeira ou só troca de capacidade?
Santanna – Preferencialmente, vamos fazer troca de capacidade. Depois, cada caso
é um caso, vamos tentar encontrar equivalências. Nosso objetivo é que o estado
seja bem servido de internet, é fazer inclusão digital; fazer com que a internet
tenha qualidade. A parceria com o estado tem também esse objetivo, de levar a
internet para seu interior.
Tele.Síntese – Há uma estimativa em quanto esse processo de sinergia entre
estados e Telebrás pode ampliar a cobertura?
Santanna – Nós iremos atingir, sem nenhuma complementariedade, 4.283 municípios.
Com a participação dos estados, eu acho que chegaremos a mais de 5 mil
municípios tranquilamente. Há regiões onde precisamos muito da parceria com
estado, ou com a operadora que passa por lá, para poder cobrir, caso de Minas
Gerais, do interior da Bahia, do Sul e Sudeste do Rio Grande do Sul – nosso
backbone não vai cobrir a área de Pelotas, Jaguarão, Livramento. Para chegar até
lá precisamos da parceria com a CEE, a companhia estadual de energia, com a qual
estamos começando a conversar.
Tele.Síntese – Os recursos liberados com os quais a Telebrás conta são
inferiores aos previstos – para este ano ficaram fatando R$ 400 milhões, é isso?
Santanna – Não, vamos separar as coisas. Uma é aporte de capital na Telebrás. O
previsto era R$ 1 bi (R$ 600 milhões mais R$ 400 milhões), que viraram R$ 526
milhões, mais R$ 16 milhões, o que dá 542 milhões. Isso não é orçamento porque
eu tenho em caixa R$ 280 milhões, que eu não tinha autorização orçamentaria para
gastar. Então, se eu somar os R$ 542 milhões com os R$ 280 milhões – menos, R$
200 milhões pois tenho que gerenciar o passivo –, tenho de orçamento em torno de
R$ 740 milhões. Pode não dar para tudo, mas são recursos que permitem tocar a
empresa até setembro, no ritmo previsto. O mais importante em orçamento é ter a
rubrica, porque sempre pode ser complementado. O governo é que vai ditar o
ritmo. Se ele não aportar novos recursos, vamos fazer menos do que estamos
propondo fazer, ou seja, dificilmente conseguiremos interligar as 1.163, que
consumiriam os R$ 1 bilhão previstos, a menos que consigamos preços muito
melhores..
Tele.Síntese – O resultado da licitação do processo de registro de preço, ele
foi positivo, do ponto de vista de economia?
Santanna – Sim, sem dúvida. Está um pouco mais baixo no conjunto. Ainda não
fechamos todos os editais, mas a projeção, se não ocorrer nenhum impedimento
jurídico, teremos um preço final abaixo das projeções o que nos permitirá ir um
pouco mais longe.
Tele.Síntese – Como você avalia o movimento do mercado, agora que a Telebrás
está se preparando para operar, iluminando fibra, construindo backhual ...
Santanna – Lá no Rio Grande do Sul tem um ditado que diz o seguinte: “a motuca
tira o boi do mato”. A motuca é uma mosquinha que incomoda o gado. A Telebrás é
a motuca, vai tirar o boi do mato. A turma vai investir em banda larga e tudo
aquilo que diziam que não dava porque era caro, inviável, vão fazer e vão chegar
às metas que estamos dizendo que vão chegar porque é esse o papel da Telebrás:
introduzir concorrência onde não tem, porque a situação é de monopólio na
maioria das cidades brasileiras. Tirando as 184 maiores, há 2.135 onde o mercado
é monopolista e nas demais ninguém quer atuar porque dizem que não há retorno
econômico. Pela nossa avaliação, o país teria 912 cidades onde, de fato, só uma
rede seria viável em função da falta de capacidade de econômica da população. Em
todas as demais, dá para ter oferta de banda larga por mais de uma rede.
Tele.Síntese – Como a Telebrás se encontra hoje do ponto de vista de estrutura?
Santanna – Hoje a gente já tem a condição necessária para operar nesse primeiro
ano. Estamos nos preparando para fazer um plano de cargos e salários para
estruturar a empresa, para adequar os salários à realidade do mercado de
telecomunicações, fazer um concurso para completar as vagas que temos aqui. São
367 vagas autorizadas na Telebrás, e hoje temos 220 funcionários, desses 74
vieram da Anatel e ainda tem gente chegando. Além dos cargos de confiança,
contratamos gerentes técnicos para algumas áreas para dar o start na empresa.