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Leia na Fonte: Blog da Flávia
Lefèvre
[26/06/11]
Mandato
e ironia - por Flávia Lefèvre
Duas matérias públicadas pelo Portal Convergência
Digital demonstram a pouca importância que alguns políticos atribuem à opinião
pública e, pior, àqueles eleitores que os apoiaram para chegarem ao poder.
Parecem desconhecer o significado e abrangência da palavra mandato político, na
melhor das hipóteses.
Nas vésperas das eleições, o governo do PT editou decreto anunciando a
reativação da Telebrás como instrumento de política pública para garantir
utilidade pública à infraestrutura necessária para a universalização da
comunicação de dados e para a democratização dos serviços de telecomunicações,
que vêm sendo emperradas pela atitude desrespeitosa das concessionárias e
ANATEL, aliadas no esforço de retardar a concorrência e evitar que as redes
públicas estejam a serviço da sociedade brasileira.
Os resultados de pesquisas do IPEA e IBGE são contundentes no sentido de que
TODOS os serviços de telecomunicações estão concentrados nas mãos dos cidadãos
de maior renda.
E não me venham com a balela de que o consumidor de baixa renda, que compra um
telefone nas Casas Bahia e contrata 5 minutos de tráfego por mês, tem acesso ao
serviço de voz. Ninguém mais aceita esta piada de mau gosto!
A despeito da concentração ilegal da infraestrutura necessária para as
telecomunicações nas mãos das teles e do atraso na definição de políticas
públicas para o setor e apesar dos discursos eleitoreiros, no sentido de
instituir um Plano Nacional de Banda Larga – PNBL e de reativar a Telebrás com o
objetivo de fazer frente ao poder econômico desmedido das três empresas que
dominam os mercados hoje, somos agora estapeados com a notícia de que a Telebrás
poderá abrir sua composição acionária para grupos econômicos privados.
Explicou-se, agora, a demissão promovida de forma desrespeitosa de Rogério
Santanna da presidência da empresa; desrespeitosa para ele e para a sociedade,
já que ele sempre foi um defensor das medidas capazes de trazer de volta ao
Estado o papel de condutor das políticas de telecomunicações e gerenciador das
redes públicas!
Isso sem falar no pacote de bondades que nosso super ministro das comunicações –
que agora tem quem fale por ele (e muito possivelmente pelas teles) também na
Casa Civil, já que os recados devem ser discutidos na intimidade do lar –
preparou junto com a ANATEL, embrulhado no papel do decreto que editará o
próximo Plano Geral de Metas de Universalização – o PGMU III e o aditamento
correspondente à primeira revisão quinquenal dos contratos de concessão, quais
sejam:
- Repetição de metas de acessos individuais, coletivos e Postos de Serviço de
Telecomunicações em áreas rurais descumpridas pelas teles;
- Redução do número de telefones de uso público - TUPs para 4 por 1000
habitantes (no PGMU I ficou estabelecido que a partir de dezembro de 2005 seriam
pelo menos 8 por 1000 habitantes; a ANATEL reduziu para 6,9, depois para 6);
- A reformulação demagógica e risível do Acesso Individual de Classe Especial -
AICE para os cidadãos inscritos no Bolsa Família – o que é o mesmo que nada,
pois a família que tem renda familiar per capita de meio salário mínimo não tem
renda para contratar acesso individual de R$ 14,00 mensais e os pobres das
regiões sul e sudeste não se enquadram nos requisitos do Bolsa Família;
- Redução no pagamento do ônus bienal de 2% sobre a receita líquida devida pela
exploração da concessão, pela compensação com os hipotético custo de
universalização;
- Autorização de exploração do serviço de televisão por assinatura na mesma área
de concessão, contra previsão expressa de lei e em prejuízo à concorrência;
- Manutenção da assinatura básica no patamar escorchante e exclusivo de R$ 42,00
mensais, para viabilizar subsídio cruzado vedado expressamente pela Lei Geral de
Telecomunicações;
- Atuação frouxa no controle de bens reversíveis ;
- Etc......
São muitas vantagens para empresas que, segundo a própria ANATEL, não cumprem
metas de universalização e outros compromissos e que desrespeitam,
sistematicamente há 13 anos, o consumidor brasileiro, apesar de cobrar tarifas e
preços dos mais altos do planeta.
Desanimador é a palavra que revela o sentimento das entidades da sociedade civil
que acreditaram no discurso montado para as eleições. A afirmação feita pelo
atual presidente da Telebrás – Caio Bonilha na entrevista que concedeu a Reuters
no último dia 22 de junho, de que o foco da empresa é o comercial, reforça a
justificativa por nosso desânimo e decepção, pois acreditávamos que o foco do
governo a partir da edição do decreto era a democratização dos serviços, como
ficou expresso no Decreto 7.715∕2010, que instituiu o PNBL.
Mas o que mais chama a atenção e certamente não será esquecido nas próximas
eleições é a reação que o sucesso do tuitaço levado à efeito pelas entidades que
participam da campanha Banda Larga é um Direito Seu, pelo serviço de comunicação
de dados em regime público, causou no nosso Ministro.
Informa a reportagem que: “O tuitaço promovido pela campanha Banda Larga é um
Direito Seu! nesta terça-feira, 21/06, mobilizou a rede social brasileira. O
tópico #minhainternetcaiu já era o assunto mais 'tuitado' do Brasil por volta
das 15h30, antes mesmo da hora marcada para a “concentração” de mensagens
direcionadas, especialmente, ao Ministério das Comunicações e ao ministro Paulo
Bernardo, um notório tuiteiro, que até a publicação desta reportagem permaneceu
"mudo" no microblog. Porém, ao deixar o Ministério das Comunicações, por volta
das 21hs, manejando um tablet, Paulo Bernardo se limitou a informar ao portal
Convergência Digital, que não "teve tempo de tuitar" hoje. Indagado se havia
tomado conhecimento da repercussão do "tuitaço", optou pela ironia: "Você acha
que vou ficar perdendo o meu tempo? Deixe as pessoas se divertirem", reagiu o
ministro, cuja agenda oficial de hoje se limitava apenas aos "despachos
internos".
Paulo Bernardo não se constrange em dizer claramente que estar aberto para
considerar a importante manifestação da sociedade civil para ele é perda de
tempo.
Coincidentemente, sou assaltada pela mesma sensação do Ministro ... quando penso
em meu voto. Perdi muito tempo – 4 anos pelo menos! Votei num governo que não
honra seus discursos, seus programas, seus decretos! O que mais nos espera
nesses próximos 3 anos e meio?
Abraço a todos.
Flávia Lefèvre Guimarães