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Fonte: O Estado de S.Paulo
[26/06/11]
Investimento em telefonia não segue expansão de clientes e panes crescem -
por Karla Mendes e Renato Cruz
Nos celulares, base de usuários avançou 16,6% em 2010, chegando a 202,9 milhões
de linhas, mas investimento das empresas caiu 2,4%
O investimento das operadoras de telecomunicações não tem acompanhado o
crescimento de sua base de clientes, o que tem levado a panes cada vez mais
frequentes nos serviços de telefonia e internet. Essa situação já incomoda o
governo. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, cobrou medidas da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Um exemplo do descompasso entre investimento e crescimento está no setor de
telefonia móvel. A base de clientes avançou 16,6% no ano passado, chegando a
202,9 milhões de linhas, segundo a consultoria Teleco. Mas o investimento das
empresas diminuiu 2,4%, ficando em R$ 8,2 bilhões. Esse montante foi 16,3%
inferior ao pico de R$ 9,8 bilhões destinados ao setor em 2004.
O que acontece com o celular é somente um exemplo, pois a combinação de
investimento baixo e crescimento alto se repete em outras áreas das
telecomunicações. Os consumidores estão cada vez mais insatisfeitos com a
qualidade dos serviços.
Em pouco mais de um mês, a Intelig, que pertence à TIM, teve três panes. O
Speedy, da Telefônica, voltou a deixar seus usuários na mão no dia 13 deste mês,
dois anos depois de a empresa ter sido punida pela Anatel, sendo impedida até de
vender os serviços. E a Nextel ficou entre as palavras mais tuitadas por
brasileiros no dia 10, por causa de problemas no Rio de Janeiro.
"Falta acompanhamento, supervisão e investimento", disse Ruy Bottesi, presidente
da Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET). "A infraestrutura não
está preparada para suportar o crescimento. O investimento é reativo. As
operadoras investem depois do aumento de tráfego, mas leva de 60 a 90 dias para
importar equipamentos."
No ano passado, os investimentos totais das operadoras no País (incluindo
telefonia fixa, móvel e outros serviços) chegaram a R$ 17,4 bilhões, alta de
3,6% sobre 2009. Mesmo com o crescimento modesto, o valor está 28,1% abaixo dos
R$ 24,2 bilhões investidos em 2001. A receita bruta do setor subiu mais que o
investimento, avançando 4,2%, para R$ 184,9 bilhões.
"A essência do problema não está nas operadoras, mas na agência reguladora e no
governo", disse Bottesi.
"O serviço é público. O que a Anatel está fazendo para que tenhamos qualidade no
serviço de telecomunicações hoje, em 2011?", indagou.
Explicações. Para as operadoras, as críticas de que o investimento é baixo não
procedem. Elas argumentam que os problemas verificados nos últimos meses são
pontuais e o investimento realizado é suficiente para sustentar a expansão da
base.
O fato de ele não acompanhar o ritmo do aumento do mercado teria três
explicações: os equipamentos têm ficado mais baratos, graças à evolução
tecnológica e à queda da demanda nos países ricos; o câmbio está favorável,
fazendo com que os reais possam comprar mais equipamentos importados do que
antes; e o desembolso maior é feito na instalação da rede, não na expansão desta
mesma rede.