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Fonte: Blogs Estadão - Ethevaldo Siqueira
[27/06/11]
"Bernardo está certo, mas…" - por Ethevaldo Siqueira
Começo por aplaudir o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações: ele está
lutando por melhores serviços de telecomunicações. De nossa parte, que tantas
vezes criticamos este e outros governos, temos também o dever de elogiar –
quando há razões para fazê-lo.
Já que o governo nada faz para nos defender dos péssimos serviços prestados pelo
Estado brasileiro, esperamos que, pelo menos, nos defenda dos maus serviços
privatizados não apenas em telecomunicações, mas em todas as demais áreas.
Embora o Brasil tenha uma das cargas tributárias mais elevadas do planeta, sua
população não recebe a contrapartida de serviços públicos minimamente decentes.
Por isso, aplaudimos a promessa do ministro das Comunicações (Minicom) de exigir
melhores padrões de atendimento e de qualidade dos serviços das telecomunicações
privatizadas. Temos certeza de que essa atitude, no mínimo, vai render um bom
ibope ao governo federal.
Creio que, com os dois pesos e duas medidas que caracterizam a ação
governamental, as telecomunicações poderão melhorar. Por outro lado, leitor, nem
eu nem você somos tão ingênuos a ponto de alimentar a ilusão de que o Estado
brasileiro vai nos oferecer, entre outras coisas, educação de boa qualidade,
saúde pública decente, estradas federais transitáveis, segurança pública de
verdade e aeroportos mais seguros, em contrapartida ao que nos retira em
tributos. Nossos serviços públicos são um lixo. Com as raríssimas e honrosas
exceções.
Trago esse tema à discussão a propósito da excelente reportagem do Estadão deste
domingo, 26, na qual Karla Mendes e Renato Cruz mostram alguns dos maiores
problemas que têm ocorrido nos serviços de telecomunicações do País nos últimos
meses. Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a raiz desses problemas
está no fato de os investimentos das operadoras de telecomunicações não
acompanharem o crescimento de sua base de clientes.
Mais investimento
Embora as operadoras privadas tenham investido cerca de R$ 200 bilhões na
infraestrutura setorial, nos últimos 13 anos, de 1998 até hoje, esse
investimento tem sido considerado insuficiente pelo governo nos últimos anos,
diante do aumento explosivo da demanda.
Como mostra a reportagem do Estadão, segundo o diagnóstico do governo, o baixo
investimento estaria levando a panes cada vez mais frequentes nos serviços de
telefonia e internet. Essa situação já incomoda o governo, conclui o jornal.
Diante desse quadro, Paulo Bernardo cobra também medidas da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel). Esperamos que ele tenha a suficiente autoridade para
fazer com que a agência cumpra seu verdadeiro papel.
Relembremos que, na área da telefonia celular, os investimentos têm sido menores
em 2011, tanto em termos absolutos como percentuais, quando comparados com o
crescimento da base instalada e com o montante investido nos anos anteriores.
Assim, enquanto a base de clientes cresceu 16,6% em 2010, chegando a 202,9
milhões de acessos telefônicos sem fio, o investimento das operadoras móveis
diminuiu 2,4%, ficando em R$ 8,2 bilhões. Se comparado com o recorde anual de R$
9,8 bilhões, que foi investido nesse segmento em 2004, a queda percentual foi de
16,3% menor.
Para o ministro Paulo Bernardo, o que acontece com o celular é somente um
exemplo, pois a combinação de investimento baixo e crescimento alto se repete em
outras áreas das telecomunicações.
Outro diagnóstico na mesma linha é o de Ruy Bottesi, presidente da Associação
dos Engenheiros de Telecomunicações (AET). Para ele, faltam acompanhamento por
parte do governo, supervisão e investimento: “A infraestrutura não está
preparada para suportar o crescimento. O investimento é reativo. As operadoras
investem depois do aumento de tráfego, mas leva de 60 a 90 dias para importar
equipamentos.”
Bottesi tem total razão quando diz que “a essência do problema não está nas
operadoras, mas na agência reguladora e no governo. O serviço é público”. Diante
desse quadro, ele pergunta: “O que faz a Anatel para que tenhamos qualidade no
serviço de telecomunicações hoje, em 2011?”.
É claro que as operadoras se defendem e dão três explicações para o fato de os
investimentos não acompanharem o ritmo do aumento do mercado.
1) os equipamentos têm ficado mais baratos, graças à evolução tecnológica e à
queda da demanda nos países ricos;
2) o câmbio está favorável, fazendo com que os reais possam comprar mais
equipamentos importados do que antes;
3) o desembolso maior é feito na instalação da rede, não na expansão desta mesma
rede.
Mesmo assim, dizemos nós, o Brasil precisa hoje de mais investimentos. Para
melhorar a qualidade e a confiabilidade dos serviços. E, nunca é demais repetir:
de melhor padrão de atendimento ao usuário.
Dever do Estado
As autoridades públicas não apenas podem, mas devem corrigir todos os problemas
existentes hoje nos serviços privatizados, sejam de telefonia, de energia, de
transportes, de saúde, de educação e previdência.
Eu escrevi serviços privatizados, porque os serviços públicos estatais vão
continuar sendo a droga que conhecemos ainda por muitos anos: sujeitos à
corrupção, empreguismo, baixa produtividade, baixos investimentos, interferência
política, loteamento partidário e muito mais.
Ao prometer punição às más operadoras, o ministro Paulo Bernardo está
absolutamente correto. Fico feliz, porque tenho escrito dezenas de vezes que
cabe ao governo – via Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ministério
das Comunicações, Ministério da Justiça, Procon e Ministério Público, entre
outras entidades oficiais – exigir das operadoras melhores serviços, melhor
atendimento e maiores investimentos.
Em lugar de jogar para a torcida e xingar aquelas empresas que, comprovadamente,
prestam maus serviços ou maltratam seus clientes, cabe ao governo apertar o
crânio das operadoras – em especial das concessionárias – obrigando-as a cumprir
os contratos de concessão, com o máximo rigor e justiça, sem perdão. Mas, é
claro, sem nenhum excesso.
Embora quase nunca tenham cumprido seu dever de defender o cidadão ao longo da
história deste País, o governo tem a obrigação de estar ao lado dos
consumidores, dos clientes, dos contribuintes e dos usuários, em todas as áreas
de serviços privatizados ou não. Mas o governo tem sido omisso no cumprimento
dessa obrigação.
A verdade indesmentível, no entanto, é que nenhum governo tem fiscalizado com
rigor as telecomunicações. Todos os governos que tivemos ao longo dos últimos 13
anos, sem exceção, têm sido negligentes e frouxos, especialmente depois de 1998,
ano da privatização da Telebrás, passando tanto pelas administrações de FHC como
de Lula. Todos fecharam os olhos e cruzaram os braços diante dos problemas das
telecomunicações.
Quem faz uma gritaria demagógica são os críticos ideológicos do modelo atual,
que abrem suas baterias contra a privatização, ignorando seus reais benefícios.
Eles se lançam exclusivamente contra as operadoras e a Anatel, como se a maior
responsabilidade pela qualidade dos serviços não fosse do governo, como poder
concedente. Puro populismo hipócrita e ridículo.
Defendam-nos
Tenho sugerido há anos que o Minicom e a Anatel tenham a coragem de nos
defender. E, caso não o façam, que o Ministério Público entre em cena. Não creio
que minhas sugestões tenham tido alguma influência na decisão do Paulo Bernardo
de vir a público e falar grosso com as operadoras. Isso, no entanto, não
importa. O que espero, sim, é que o ministro vá muito além das advertências e
puna quem deva ser punido.
Tenho criticado a qualidade dos serviços de telecomunicações do Brasil, antes e
depois da privatização da Telebrás. Não posso generalizar e dizer que todas as
operadoras prestam maus serviços, pois, sei que há, entre elas, honrosas
exceções. O que afirmo com razoável convicção é que os serviços de
telecomunicações privatizados no Brasil, em sua maioria, só não são piores do
que os da velha Telebrás (Remember Telerj…). Contra aqueles, entretanto, nenhum
petista gritava.
De minha parte reitero minhas queixas, com todas as letras. Não aceito nem
justifico apagões de banda larga. Nem as baixas velocidades que mal chegam a 10%
daquilo que contratamos. Nem o mau tratamento aos clientes que encontramos nos
call centers brasileiros. Nem os impostos absurdos que levam 43% do valor dos
serviços prestados. Nem o confisco anual de mais de R$ 3 bilhões de fundos
setoriais de telecomunicações pelo Tesouro Nacional. Tudo isso é retirado de
nossas contas e das tarifas telefônicas, com a maior cara de pau do governo –
como acontecia nos governos de FHC, de Lula e agora de Madame Rousseff.
A frustração
Tinha muita esperança no trabalho de Paulo Bernardo, porque ele me pareceu ser
muito diferente de seu antecessor, Hélio Costa. Seu discurso nos pareceu ser
muito mais transparente. Mas sua ação não condiz com o discurso. Decepciona-nos
a todos quanto tolera (e até minimiza) o superfaturamento de R$ 121 milhões na
Telebrás, comprovado pelo Tribunal de Contas de União.
Disse-lhe, pessoalmente: ministro Paulo Bernardo, o senhor e o seu governo se
engrandeceriam perante a Nação se determinassem a anulação dos contratos
viciados e exigissem probidade absoluta nas novas licitações ou novos leilões
eletrônicos. Mas, até agora, não fui ouvido.