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Fonte: Estadão / Blog de Ethevaldo Siqueira
[29/05/11]
Uma estatal sem controle - por Ethevaldo Siqueira
Coluna de domingo, 29 de maio de 2011, do Estadão
Em sua sessão de quinta-feira passada, o plenário do Tribunal de Contas da União
(TCU) confirmou as denúncias de superfaturamento no Pregão Eletrônico n.º
02/2010/TB da Telebrás, na licitação para aquisição de equipamentos e sistemas
de fibras ópticas dos primeiros contratos do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
No acórdão do TCU, os ministros confirmam o superfaturamento no valor de R$ 43
milhões, embora o sobrepreço real apurado pelos auditores tenha sido de R$ 121
milhões. No último instante, a Telebrás incluiu valores relativos à tributação e
assistência técnica, além de reduções de preços decorrentes de renegociação
feitas durante o processo que tramita no TCU.
Sem punição
Surpreendentemente, o TCU não puniu a Telebrás. Determinou apenas que a empresa
renegocie os valores contratados, de modo a adequá-los aos preços de mercado,
tomando como referência os valores apurados pela Terceira Secretaria de Obras do
TCU (Secob-3), após os ajustes e, em caso de recusa das empresas contratadas, a
estatal abstenha-se de emitir novas ordens de serviço. A decisão do TCU proíbe
também que a Telebrás amplie os contratos feitos com as empresas Clemar
Engenharia Ltda., Eltek Valere Ltda. e Zopone Engenharia e Comércio Ltda.
O acórdão aprovado pelo plenário relaciona mais de uma centena de observações e
recomendações, e determina à Telebrás que corrija as falhas encontradas no
edital que conduziu ao erro, no pregão contestado. Entre essas irregularidades,
o tribunal destaca o prazo exíguo de apenas nove dias para coleta de preços e
recomenda que, em licitações futuras, seja ampliado para 30 dias. O TCU
determina também que a estatal passe a licitar em lotes distintos, as obras
civis e os equipamentos.
Surpresa
A grande surpresa do acórdão foi a determinação do TCU à Telebrás para que
renegocie os preços com as empresas fornecedoras, em lugar de anular os
contratos irregulares (com preço superfaturado). Diante da decisão do plenário
do TCU, a empresa denunciante, Seteh Engenharia, anunciou que, agora, “tem
elementos robustos e irrefutáveis para levar a questão para exame do Judiciário
(via mandado de segurança no STF e ação popular na Justiça Federal) com vistas a
anular a licitação, declarada irregular pelo TCU”.
A decisão do TCU foi, na verdade, muito mais suave e condescendente, com viés
político. O advogado Rodrigo Monteiro Augusto, da Seteh Engenharia, lembra que
“o TCU confirmou a ilegalidade e o sobrepreço extravagante, o que a partir de
agora torna a questão muito mais consistente para ser levada ao Judiciário, que
é, em última análise, o guardião maior da lei e da moralidade pública”.
Desrespeito
O processo que se encerrou na quinta-feira teve lances grotescos: nunca uma
estatal reagiu de forma tão desrespeitosa como o fez a Telebrás há algumas
semanas diante das conclusões do relatório dos auditores do TCU que confirmaram
os indícios de superfaturamento de mais de R$ 100 milhões.
Diante da confirmação do superfaturamento, em lugar de anular a licitação e
corrigir todas as falhas do edital, Rogerio Santanna, presidente da Telebrás,
resolveu acusar os peritos do TCU em declarações à imprensa, bem como por meio
de nota oficial postada no site da estatal, para desqualificar o relatório da
Terceira Secretaria de Obras (Secob-3), do TCU, que concluiu pela evidência das
irregularidades.
Santanna chegou a mencionar o nome de dois engenheiros da Secob-3 do TCU,
acusando-os de comprometimento moral e parcialidade na avaliação das provas
apresentadas. “Esse documento – afirmou – não se coaduna com a tradição do TCU,
pois parece mais uma operação organizada para prejudicar a Telebrás. É, em
resumo, uma peça eivada de vícios.”
O TCU reagiu de forma veemente à nota e às insinuações da Telebrás ao trabalho
dos auditores e rebateu todas as acusações feitas aos seus peritos, responsáveis
pelo relatório da Secob-3 e reafirmou a confiança em seus especialistas.
Estatal inútil e cara
Superfaturamento e problemas éticos dessa natureza atingem a cada dia a imagem
da Telebrás. A empresa perde toda a credibilidade de que necessita para gerir o
Plano Nacional de Banda Larga. Seus programas estão todos atrasados. Sua missão
está muito aquém de tudo que foi prometido pelo governo Lula, em 2010. A empresa
poderá, na melhor das hipóteses, levar cabos de fibra óptica a cidades e
negociar as conexões com pequenas e médias provedoras de acesso.
Seus resultados concretos são decepcionantes. Mesmo dentro do governo, a estatal
sofre um claro processo de esvaziamento. Sem recursos suficientes, sem receita,
sem infraestrutura, sem um quadro de pessoal mínimo para cumprir seu papel, a
Telebrás não conseguiu, até agora, levar a banda larga a nenhuma cidade desde
sua criação, há pouco mais de um ano.
A reativação da estatal acumula todos os tipos de irregularidades, a começar do
decreto que lhe deu novas funções – mudança que só poderia ter ser feito por
meio de lei do Congresso – além das alterações de estatutos. Em resumo: sua
administração tem sido temerária.
Melhor seria que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, pusesse ordem
nessa estatal. Ou, melhor: que propusesse sua extinção. Melhoraria a imagem do
governo e beneficiaria o Brasil.