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Fonte: Portal da Band - Colunas
[11/11/11] Provando
do próprio veneno - por Mariana Mazza (Sobre eventual substituição de Caio
Bonilha)
A vida realmente é cheia de reviravoltas. E a notícia de hoje poderia ser
contada com um monte de frases feitas. Mas vamos ao fato: em breve a Telebrás
terá um novo presidente. Caio Bonilha, atual comandante da estatal, não deve
passar dos quatro meses no posto. Comenta-se que o novo presidente será
Maximiliano Martinhão, ex-gerente geral de Certificação e Engenharia de Espectro
da Anatel e que há cinco meses responde pela Secretaria de Telecomunicações do
Ministério das Comunicações.
Há muita especulação circulando sobre o motivo da queda de Bonilha. A versão
mais comentada é de que o executivo está sendo convidado a sair porque a
Telebrás não estaria trabalhando na velocidade esperada pelo Ministério das
Comunicações. Honestamente, pra mim a tese não faz sentido. Quando o Minicom
derrubou o ex-presidente Rogério Santanna, a impressão geral foi de que o
objetivo era exatamente parar o avanço da Telebrás. As centenas de manifestações
de internautas lamentando a queda de Santanna e o possível abandono do projeto
original do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que circularam a web na época
mostraram que não fui só eu quem interpretou a troca de forma negativa.
A ascensão de Bonilha também deu o que falar no setor de telecomunicações.
Levado pelo próprio Santanna para compor a equipe da nova Telebrás, Bonilha
pegou muita gente de surpresa (inclusive o próprio Santanna) quando foi
escolhido para comandar a estatal no lugar do, até então, amigo. A imagem de
traidor ficou cristalizada na mente de muita gente dentro da estatal.
Para chegar ao topo da Telebrás, Bonilha teria feito uma bem sucedida
articulação no governo. Ia a reuniões falar da Telebrás sem que o chefe soubesse
e suspeita-se que criticava o trabalho do comando da estatal. A estratégia deu
certo. Bonilha sentou-se na cadeira de presidente no dia 1ª de junho com o
discurso de tirar o PNBL do papel. Mas nada de colocar a estatal para brigar com
as teles no varejo, como previsto no projeto original. Bonilha deixou claríssimo
que sua missão incluía uma trégua na briga com as concessionárias de telefonia,
iniciada por Santanna. As teles comemoraram a mudança de discurso. Quatro meses
se passaram e pouquíssimo foi feito para transformar o PNBL em realidade, a não
ser um acordo entre o Minicom e as teles. Ou seja, mais um ponto em favor das
empresas privadas.
Minha aposta é que o interesse das teles pode ter falado mais alto novamente.
Nos bastidores da estatal, os planos de Bonilha para a construção do satélite da
empresa em parceria com a Embraer tem sido o assunto do momento. As últimas
notícias dão conta de que o contrato entre as duas companhias seria fechado em
dezembro. Acontece que a Oi está de olho no satélite, mas até agora tem
enfrentado resistência para entrar no projeto.
Não é de hoje que a Oi tenta uma boquinha nos projetos de satélite desenvolvidos
no Brasil. Quando comprou a Brasil Telecom, a empresa deu um jeito de colocar
como obrigação no termo de compromisso firmado com a Anatel uma parceria com a
Agência Espacial Brasileira (AEB) para o desenvolvimento de um satélite. Essa
jogada gerou um dos episódios mais constrangedores da história da Anatel.
A AEB já vinha desenvolvendo o projeto com os parceiros que escolheu quando foi
pega de surpresa pela "obrigação" estipulada pela Anatel de incluir a Oi. A
agência espacial mandou um ofício à Anatel deixando bem claro que não tinha
nenhum interesse em ser parceira da concessionária. A Anatel se viu na ingrata
posição de "desobrigar" a Oi e pedir desculpas aos colegas da agência espacial.
Agora o alvo parece ser o satélite do PNBL. Não vou ficar surpresa se
milagrosamente a Oi for incluída no projeto da Telebrás após a troca de comando
da estatal, apesar de todo o avanço no acordo apenas com a Embraer. Essa é uma
daquelas situações em que a gente torce para estar errado. No mais, a passagem
supersônica de Bonilha no comando da Telebrás revela que os jogos de poder
envolvendo a estatal estão longe de acabar. Pena para o consumidor. A cada troca
fica mais distante a chance de um dia a Telebrás realmente fazer diferença no
mercado de telecomunicações e tornar-se uma alternativa justa para o consumidor
no mercado de banda larga