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Leia na Fonte: Convergência Digital
[24/10/11]
PNBL: Sobram metas, mas avanços ficaram abaixo do esperado - por Luis
Osvaldo Grossmann e Luiz Queiroz
Quase um ano depois da última reunião do Fórum Brasil Conectado – que se
propunha a reunir governo e sociedade para discutir e propor ações para o Plano
Nacional de Banda Larga – as conquistas foram poucas. Ao menos é o que sugere a
leitura do que foi chamado de “documento base” do PNBL, divulgado no
encerramento do encontro.
O próprio Fórum, que se prometia “permanente”, acabou – para lamento das
entidades civis que, ao longo deste 2011, pediram reiteradamente ao Ministério
das Comunicações que reativasse as discussões. “Falta espaço para aprofundar os
debates e ferramentas de interação”, admitiu, em seminário promovido pela
campanha Banda Larga é um Direito Seu!, o secretário-executivo do Minicom, Cezar
Alvarez.
Mas é na avaliação do que foi feito das metas definidas naquele documento base,
tidas então como as ações fundamentais da primeira fase do PNBL, que resta a
impressão de que o enfoque mudou, a ênfase no papel do Estado para suprir as
lacunas deixadas pelo mercado encolheu, e os objetivos cumpridos cabem em uma
das mãos.
Esses objetivos constavam de quatro eixos: medidas regulatórias e normas de
infraestrutura; incentivos fiscais e financeiros para o barateamento do acesso;
política produtiva e tecnológica; e a construção da rede de telecomunicações
nacional, tarefa a cargo da reestruturada Telebras.
As normas e regulamentos reuniam o maior número de ações. Duas delas, já então
encaminhadas, vingaram. São as regras do operador virtual da telefonia móvel e o
leilão de mais uma etapa de cobertura 3G, no caso a banda H. Já a implantação de
fibras nas linhas de transmissão de energia é algo feito pelo setor elétrico há
mais de uma década.
Todas as demais ainda aguardam definição – ou mesmo algo mais que sua mera
idealização – ou foram abandonadas. A ação mais encaminhada é o regulamento
sobre as metas de competição, com a ferramenta do Poder de Mercado
Significativo, embora alguns dos conceitos previstos para essa norma não tenham
vingado.
Não houve avanço sobre a implantação de dutos nas rodovias e ferrovias, ou nas
redes de água, esgoto e gás. O projeto de lei sobre o uso do FUST continua no
mesmo lugar, bem como não evoluíram as regras e critérios de remuneração sobre
interconexão de redes de dados. Tampouco avançou o plano de compartilhamento das
redes 3G.
Já o que o documento final do Fórum, bem como os discursos feitos na ocasião,
tratava como o mecanismo regulatório mais importante foi a primeira vítima dos
novos rumos tomados pelo PNBL: a ampliação da cobertura e da capacidade do
backhaul com base no novo Decreto sobre as metas de universalização, o PGMU 3.
“A importância social do STFC [telefonia fixa] como instrumento de realização da
garantia constitucional de acesso aos meios de comunicação hoje se assenta
também no papel da infraestrutura de suporte à prestação do STFC como
catalisadora de serviços baseados no tráfego de dados. É necessário ter metas de
universalização não apenas para o serviço de voz, mas também para a
infraestrutura em si”, diz o documento.
Como se sabe, o governo não resistiu às queixas das operadoras e preferiu trocar
as metas relacionadas à infraestrutura de banda larga por um acordo em que os
grupos econômicos das concessionárias se comprometeram a oferecer pacotes de
serviço de 1Mbps por R$ 35.
Também é público que nem o valor ficou no combinado, por conta de taxas extras,
nem as empresas oferecem pra valer o pacote “popular”, como demonstraram duas
reportagens recentes, uma da CBN, outra da BandNews: nos call centers, os
atendentes não fazem ideia do que se trata essa oferta.
É provável que o governo entenda o acordo como a realização de uma das metas do
PNBL, ou seja, o incentivo a oferta de planos de serviço a preço reduzido. No
mais, as ações listadas de inventivos fiscais e financiamentos, além da política
produtiva, ficaram no que já estava decidido antes da conclusão do Fórum.
Tratam-se de medidas que já tinham passado pelo crivo do Ministério da Fazenda,
como a desoneração fiscal dos modems e a prorrogação da isenção total de IPI
para equipamentos com tecnologia nacional. Também já fora anunciado o
descontingenciamento do FUNTTEL.
Quanto à rede nacional – ou seja, a atuação da Telebras – o ritmo de implantação
deve atingir este ano um décimo do previsto – cerca de 150 cidades, no lugar das
1.163 que constavam do cronograma 2010/2011. E a estatal ainda luta para fazer
valer uma das premissas do PNBL, que previa o atendimento das redes corporativas
do governo.
Além disso, do orçamento de R$ 1 bilhão calculado para esta primeira fase – que
poderia chegar a R$ 1,4 bilhão a depender do ritmo de implantação da rede
pública de fibras ópticas, apenas R$ 300 milhões se materializaram, conforme
Decreto editado na semana passada, embora o valor estivesse destinado desde
dezembro de 2010.
As ações previstas pelo Fórum Brasil Conectado:
Regulação e normas
1) Ampliar a cobertura e a capacidade do backhaul, utilizando a revisão do Plano
Geral de Metas de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – PGMU;
2) Determinar que sejam implantadas redes de fibras óticas ao longo das linhas
de transmissão de energia elétrica e ao longo dos gasodutos e oleodutos de
transporte;
3) Implantar dutos para redes de telecomunicações em rodovias e em ferrovias
federais;
4) Estimular que estados e municípios fomentem a implantação de dutos para redes
de telecomunicações quando da implantação de redes de água e esgoto e de gás
canalizado;
5)Induzir e fortalecer o compartilhamento de infraestrutura;
6) Aplicar os recursos do Fundo para Universalização de Serviços de
Telecomunicações – FUST;
7) Detalhar regras e condições para interconexão de redes de dados;
8) Remodelar licitações de outorga de uso de radiofrequência de maneira a
priorizar o oferecimento de melhores contrapartidas à sociedade;
9) Elaborar novo edital de licitação a fim de ampliar ainda mais os acessos em
banda larga com tecnologia 3G, de forma a alcançar todas as sedes de municípios
do Brasil;
10) Criar uma rede 3G compartilhada em todos os municípios do Brasil;
11) Regulamentar a figura do Operador de Rede Móvel Virtual (MVNO);
12) Regulamentar os procedimentos para definição de prestadoras com Poder de
Mercado Significativo (PMS).
Incentivos fiscais e financiamentos
1) Conferir incentivos fiscais aos pequenos e microprestadores de serviços de
telecomunicações;
2) Promover a desoneração fiscal dos modems;
3) Incentivar a oferta de planos de serviço a preço reduzido;
4) Possibilitar que prestadores de serviços de telecomunicações e lan houses
tenham financiamento para desenvolver suas atividades;
5) Criar medidas para produtores independentes, micro e pequenos empresários que
desenvolvem aplicativos de software para computadores, celulares, rádio e TV
digital, videojogos em rede, assim como para os produtores de conteúdos e
serviços digitais;
6) Oferecer crédito para projetos de cidades digitais;
7) Desonerar os serviços de acesso em banda larga para o usuário final.
Política produtiva e tecnológica
1) Desenvolver a indústria nacional de equipamentos de telecomunicações que
produza tecnologia no país;
2) Financiar a aquisição de equipamentos de telecomunicações com tecnologia
nacional a juros subsidiados;
3) Descontar integralmente o IPI para esses equipamentos;
4) Descontingenciar o FUNTTEL;
5) Criar financiamento especial BNDES/PNBL nas linhas de inovação tecnológica,
bens de capital e exportação.
Rede Nacional
1) Constituir uma rede corporativa federal nas capitais;
2) Atender a pontos de governo e de interesse público;
3) Ofertar capacidade em localidades sem prestadores de serviço de comunicação,
com preço elevado ou baixa atratividade econômica, bem como em áreas de baixa
renda nas regiões metropolitanas;
4) Atingir 4.278 municípios até 2014.