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Leia na Fonte: Direito à Comunicação
[13/09/11]
Corte pode comprometer atuação da Telebras no PNBL - por Lia
Ribeiro Dias
O orçamento de 2012 encaminhado ao Congresso Nacional contraria a promessa da
presidente Dilma Rousseff, que disse ao ministro Paulo Bernardo que pretendia
destinar à Telebras R$ 1 bilhão ao ano, nos próximos quatro anos. E é um golpe
no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), em relação à oferta de infraestrutura
de rede no atacado para aumentar a competição na ponta, com participação dos
pequenos provedores.
Os R$ 1 bilhão imaginados foram reduzidos a R$ 353,3 milhões, distribuídos entre
três projetos estratégicos: cabos submarinos, satélite geoestacionário e
infraestrutura de banda larga (redes ópticas e acesso de rádio). O mais atingido
pelo drástico corte de 65% foi justamente o PNBL. A justificativa técnica é que
os cabos submarinos e o satélite precisam de garantia de recursos para serem
iniciados, enquanto a infraestrutura de banda larga pode ser desenvolvida à
medida em que os recursos contingenciados vão sendo liberados.
O certo é que a Telebras volta ao mesmo drama de quando o sistema de
telecomunicações era estatal: contingenciamento e limite de investimentos. Os
prejuízos ao desenvolvimento do setor certamente não têm, nem de longe, o
impacto do passado, tendo em vista a importância e o peso dos investimentos
privados no PNBL. Calcula-se que 30% a 40% dos investimentos programados pelas
operadoras para este ano – ao redor de R$ 18 bilhões – serão aplicados em banda
larga. E o mesmo ritmo deverá se manter nos próximos anos. As concessionárias
locais têm compromisso de ofertar a banda larga de 1 Mbps a R$ 35 (com impostos)
a todas as sedes de municípios, até 2014. E as celulares, não vinculadas a
concessionárias locais, casos da TIM e da Claro, também aderiram ao plano.
O corte no orçamento da Telebras não prejudica o atendimento massivo à população
na oferta da banda larga popular. Mas atrasa um elemento muito importante – a
regulação do mercado no atacado –, que influi na redução dos preços dos links e
na configuração do modelo do setor de telecomunicações. Esse modelo, apesar da
intensa competição na telefonia móvel – e, em parte, na banda larga móvel –, é
monopolista na telefonia fixa, na maioria dos municípios brasileiros, que são
cidades pequenas e de baixa atratividade econômica ao investimento de novas
operadoras.
Esse é exatamente o nicho de mercado onde os pequenos provedores podem fazer
diferença, criando a competição que não existe na banda larga fixa e estimulando
a melhoria da qualidade do serviço, com velocidades superiores, a preços mais
acessíveis. Mas, para isso, precisam comprar links a preços que viabilizem seu
negócio – e é aí que entra a Telebras.
Para a infraestrutura necessária ao PNBL – conectar todas as cidades com mais de
100 mil habitantes, na primeira fase, e com mais de 50 mil habitantes, na
segunda –, a Telebras precisaria investir, de acordo com seu plano quadrienal
(20112-2015), R$ 1,7 bilhão ao ano. Parte importante dos recursos viria do
Orçamento da União, parte das empresas elétricas donas das fibras do backbone
óptico (que, portanto, deverão vir a ser sócias do empreendimento), e parte
viria da própria empresa, com a venda da capacidade de rede.
Bom projeto
O corte no orçamento, que pode atrasar o papel da Telebras no PNBL e na sua
principal função, de regular o mercado de telecomunicações no atacado, remete a
outro debate. A inviabilidade, por falta de recursos da União e não apenas de
vontade política, de querer transformar a Telebras em operadora de última milha
para oferecer banda larga de qualidade e a preços baixos, num contraponto aos
serviços das operadoras privadas.
O governo federal acertou ao atribuir à Telebras, na sua reativação, o papel de
se transformar em infraestrutura estratégica do país, com poder de regular o
mercado de atacado, mas não de competir com as operadoras privadas na prestação
do serviço ao usuário final. O papel estratégico da Telebras ficou mais claro na
aprovação de seu plano quadrienal de investimentos, que envolve a construção de
dois cabos submarinos internacionais – com participação da iniciativa privada –
e do satélite geoestacionário (agora para atender prioritariamente a Amazônia,
além das comunicações militares), um projeto que começou ainda no segundo
governo FHC e até hoje literalmente não saiu do papel.
É pena que um projeto tão relevante já comece com limitações orçamentárias que
podem comprometer o seu futuro. A expectativa é de que a Presidência da
República entenda que não se constrói um plano de banda larga, como
infraestrutura essencial para o desenvolvimento econômico do país e para a
inclusão dos cidadãos brasileiros, apenas costurando ofertas populares com
operadoras privadas. É preciso mais: garantia de aumento contínuo das
velocidades oferecidas, o que demanda regulação do mercado, política
diferenciada de conteúdos e serviços de governo e política de fomento à
inovação. A Telebras é um ativo essencial para chegar a esses objetivos.
* Lia Ribeiro Dias é jornalista e diretora editorial da Momento Editorial.