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Fonte: O Estado de S.Paulo
[08/01/12]
Corrida global pela banda larga já começou - por Ethevaldo Siqueira
Para a UIT, o acesso universal não é apenas uma necessidade, mas um direito
Parece uma utopia, mas existe um país em que a internet de banda larga já está
presente em 97% dos domicílios ou residências - além de interligar todas as
escolas, hospitais, empresas, museus, laboratórios e repartições públicas.
E mais: oferece uma velocidade média de 50 Megabits por segundo (Mbps), com a
melhor qualidade e a preços acessíveis, a US$ 25 (ou R$ 47) por mês, sem
qualquer limitação de download. E, acredite, seu governo se antecipa ao futuro e
decide investir mais de US$ 24 bilhões (R$ 45 bilhões) para multiplicar
cinquenta vezes a velocidade atual de sua internet, para elevá-la ao patamar de
1 Gigabit por segundo (Gbps) até 2013.
Apenas um lembrete: com a velocidade de 1 Gbps, podemos baixar um filme de duas
horas, com a melhor qualidade de imagem, em pouco mais de 12 segundos.
Esse país existe, caro leitor. É a Coreia do Sul, que dispõe da rede de banda
larga mais avançada do planeta. Para conseguir essa posição única, o governo e
as maiores empresas de telecomunicações coreanas decidiram apostar todas as
fichas na implantação de uma infraestrutura avançada de banda larga, com mais de
uma década de antecedência, para que todos os seus cidadãos pudessem ter acesso
à internet mais rápida do mundo, com a melhor qualidade e pelo menor preço.
O país conta hoje com a melhor cobertura nacional de telefonia celular de
terceira geração (3G), graças à qual a capital, Seul, supera todas as cidades do
mundo em densidade de smartphones e na utilização de recursos de computação
móvel e mobile-commerce. Tudo se faz pela internet móvel de banda larga.
O grande objetivo da universalização da banda larga na Coreia do Sul é elevar
permanentemente a qualidade de vida, os padrões educacionais e a produtividade
da nação. A rede nacional de fibras ópticas do país interliga praticamente todas
as cidades, vilas e comunidades rurais, conectando escolas, empresas, hospitais
e repartições públicas.
O único país além da Coreia que também investe prioritariamente em banda há mais
de dez anos é a Finlândia. Além de seus extraordinários índices de
desenvolvimento humano (IDH), a Finlândia foi, em 2009, o primeiro país a votar
uma lei que tornou o acesso à banda larga um direito fundamental de cada
cidadão, ao lado de outros direitos básicos, como educação, moradia, saúde e
alimentação.
Logo em seguida, três outros países - França, Grécia e Estônia - seguiram o
exemplo finlandês e tornaram também o acesso à banda larga um direito garantido
por lei.
Novo direito. Essa é, aliás, a mesma posição defendida pela União Internacional
de Telecomunicações (UIT), a agência das Nações Unidas para o setor, que propõe
a todos os países que transformem o acesso à banda larga em direito fundamental
do cidadão, tal a importância que a nova comunicação passou a ter para os seres
humanos.
E a boa notícia é que a UIT tem feito um trabalho de âmbito global de
conscientização de governos e lideranças nessa área. Seu secretário-geral,
Hamadoun Touré, afirma categoricamente: "As tecnologias de banda larga estão
transformando profundamente nosso jeito de viver. Por isso, acreditamos que a
comunicação não é apenas uma necessidade humana, mas um direito".
Em mensagem dirigida a todos os países e líderes do mundo, ao final de seminário
internacional realizado em outubro de 2011 em Genebra, os dirigentes da UIT
conclamavam: "Nós, participantes do Encontro Mundial de Lideranças de Banda
Larga, lançamos hoje este desafio aos líderes de todo o mundo, formadores de
opinião, dirigentes políticos e industriais, usuários e consumidores, para que
acelerem a implantação de infraestruturas nacionais de banda larga, pois elas
são vitais para que ninguém seja excluído das novas sociedades globais do
conhecimento que estamos construindo".
Metas e conteúdos. Os documentos divulgados pela UIT propõem que o mundo tenha
metas bem definidas para a ampliação da banda larga, a começar do atendimento
de, pelo menos, 40% dos domicílios, dos países em desenvolvimento, em 2015.
O grande objetivo da entidade neste novo milênio é incluir cada ser humano nas
novas sociedades do conhecimento que estão sendo construídas em cada continente.
Na opinião dos especialistas, as nações têm tudo para ampliar substancialmente o
entendimento entre os seres humanos e superar o imenso desafio do
desenvolvimento de nossa sociedade global complexa e interdependente. Para eles,
a consecução dessas metas ambiciosas, a médio e longo prazos, se torna factível,
graças às TICs, as tecnologias da informação e da comunicação (ou ICTs, na sigla
em inglês, de Information and Communication Technologies).
"Para que tudo isso se concretize - explica o secretário-geral da UIT, Hamadoun
Touré -, é preciso que todos os governos e empresários trabalhem lado a lado, no
desenvolvimento de políticas públicas inovadoras, no desenvolvimento de modelos
de negócio e de financiamentos capazes de assegurar o acesso à banda larga em
escala mundial".
Touré enfatiza, também, a necessidade de estimular a produção de conteúdos nas
diversas línguas locais "e ampliar os benefícios de todos os que contribuem para
essa revolução digital": "Os governos não devem onerar a banda larga nem os
serviços de comunicação e informação com tributos desnecessários". Eis aí um
recado oportuno ao Brasil, país campeão mundial de tributação sobre os serviços
de telecomunicações, que são onerados com cerca de 43% de impostos.
Os benefícios. As reais consequências e benefícios desse acesso amplo às
comunicações de alta velocidade podem ser mais bem compreendidos pela leitura
das mensagens dirigidas ao mundo há dois meses pela Broadband Commission, da
mesma UIT.
Para essa comissão, "ao abrir novos horizontes para as mentes jovens por
intermédio das novas tecnologias aplicadas à educação, a banda larga traz
benefícios reais e profundos". Nos debates de Genebra, as centenas de
profissionais de comunicação e de educação delinearam o extraordinário alcance
do que já é chamado de revolução da banda larga.
O conhecimento difundido via redes de banda larga - afirmam os especialistas -
cria, na verdade, uma nova consciência sobre a importância da higiene e dos
cuidados com a saúde. Confere maior poder às mulheres e lhes permite expandir
suas oportunidades mediante escolhas genuínas e amplia a muitas famílias as
possibilidades de ganhos econômicos, com a elevação dos salários e o retorno de
seus produtos e mercadorias.
Há, portanto, sólidas razões para que a banda larga se torna uma prioridade
quase obsessiva para muitas nações, desenvolvidas ou emergentes. A cada dia mais
líderes e governantes se convencem de que é preciso assegurar aos cidadãos o
acesso à internet de alta velocidade e, assim, garantir-lhes o maior intercâmbio
possível de conteúdos de informação, de educação e de entretenimento.
Essencial é o conteúdo. O grande valor da comunicação está no conteúdo e não na
tecnologia da banda larga ou na infraestrutura da internet. Por isso, a meta a
ser perseguida pelos governos, segundo a UIT, deve ser a universalização dos
benefícios dessa nova comunicação.
Daí decorre a corrida mundial deflagrada a partir do fim dos anos 1990 pela
implantação das redes de banda larga. De lá para cá, o acesso à internet
transformou-se em fator decisivo e fundamental de desenvolvimento, não apenas
para as sociedades industrializadas, mas muito mais para as economias
emergentes, como a dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e menos
desenvolvidas, como as nações africanas.