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Fonte: Jornal da Ciência
[24/01/12]
Do Brasil a
Angola, internet sem escalas
Cabo submarino de seis mil quilômetros que ligará diretamente Fortaleza a Luanda
melhorará a performance da internet em até 80%. Atualmente, esse tráfego tem que
passar pelos EUA e Europa.
No fim de 2011, a Telebras e o consórcio angolano Angola Cable anunciaram um
acordo que irá implementar até 2014 um cabo submarino de fibra óptica ligando
Fortaleza a Luanda. Com seis mil quilômetros de extensão, o cabo tem como
principal objetivo encurtar o tráfego de informações entre os dois países, o
que, consequentemente, beneficiará também o resto da África, América do Sul e da
Ásia. Isso porque hoje os dados transmitidos entre esses continentes têm que
passar pelos Estados Unidos e Europa.
"Angola, de uns anos pra cá, conquistou uma estabilidade política bem visível e
está investindo em infraestrutura, tem bastante empresa brasileira lá. Há muito
interesse entre os dois países", lembra Paulo Kapp, gerente de tecnologia e
inovação da Telebras. A Angola Cable é formada pela da empresa pública Angola
Telecom e quatro empresas privadas do setor de telecomunicações e o cabo será o
primeiro entre o Brasil e a África Subsaariana.
Kapp explica que a estrutura poderá melhorar a performance da internet entre
África, Ásia e América do Sul em até 80%, dependendo da região. "Indiretamente,
os EUA também vão se beneficiar, pois terão um caminho mais rápido para a
África, que também terá um caminho mais rápido para EUA e América do Sul",
acrescenta.
Menos milissegundos - O gerente de tecnologia e inovação da Telebras dá como
exemplo de melhoria no serviço a diminuição da latência (tempo entre o envio de
um pacote de dados e o recebimento da resposta dada pelos servidores). Medida em
milissegundos (ms), ela serve como referência do tempo que se leva entre a
requisição de informações e a chegada delas.
"Hoje, um pacote de dados que sai daqui e vai pra África demora 180
milissegundos pra chegar, numa rede boa. Com esse cabo, isso vai passar para 18
ou 19 milissegundos, talvez um pouco mais ou um pouco menos dependendo da região
do Brasil", detalha. Kapp acrescenta que, com a melhoria do serviço e com a
eliminação da necessidade de pagar pela passagem desse tráfego pelos Estados
Unidos, se espera também uma redução de custo da saída da internet.
As primeiras notícias a respeito do cabo surgiram há um ano, em janeiro de 2011,
quando a parceira da Angola Cable no Brasil ainda seria a Oi, com apoio dos
governos de ambos os países. À época, o investimento anunciado era de 200
milhões de dólares. No entanto, a Telebras prefere não confirmar números.
"Não posso dizer que são 200 milhões porque estamos avaliando custos prévios que
Angola tinha e que nós estávamos tendo. Como mudou a ideia inicial, estamos
reavaliando tudo isso", justifica Kapp, acrescentando que o aporte financeiro do
Brasil seria proporcional ao interesse de tráfico do País com a África e Ásia.
"Como a gente não tem esse tráfico embasado ainda e o estudo envolve certa
confidencialidade, não posso passar esses dados", explica.
A Telebras anunciou para março a contratação da empresa responsável pela
construção. Kapp lembra que, em vez de fazer uma sociedade, também há a
possibilidade de se criar um consórcio em que se possa trocar infraestrutura com
outra empresa brasileira, angolana ou estrangeira. "Estamos no estágio de
estudar bem [o projeto] para ter um modelo de negócio bem executado e assim
poder apresentar aos possíveis parceiros", conclui.
(Clarissa Vasconcellos - Jornal da Ciência)