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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[04/05/12]
O problema da Telebras não é orçamento. É gente - por Lia Ribeiro
Dias e Lucia Berbert (Entrevista com Caio Bonilha)
Uma das prioridades da direção da Telebras é aumentar significativamente, senão
dobrar, seu quadro de 220 funcionários. De acordo com Caio Bonilha, presidente
da estatal, ainda este ano será realizado um concurso para preencher as novas
vagas. “Nosso maior problema, hoje, não é orçamento, são recursos humanos.
Precisamos de técnicos qualificados para levar à frente nossos projetos
estratégicos”, diz ele.
Para driblar uma das dificuldades enfrentadas por órgãos públicos e mesmo
estatais instaladas em Brasília – a indústria do concurso, que estimula os recém
admitidos a prestarem novos concursos em outras áreas com melhor remuneração --,
a diretoria da Telebras aprovou a regionalização da empresa, que agora será
submetida ao conselho. A ideia é criar uma regional no Nordeste, outra no Rio de
Janeiro e uma terceira no Sul. “Queremos ficar mais perto de nossos clientes”,
resume Bonilha.
Nesta entrevista ao Tele.Síntese, o presidente da Telebras diz que os atrasos na
instalação da rede da operadora são decorrentes dos processos a que estão
submetidos uma estatal, diz que terá 13 mil quilômetros de backbone iluminados
até o final de maio e que vai entrar em 2013 com a rede básica concluída e os
anéis de redundância praticamente fechados. Então, a empresa terá condições de
disputar o mercado corporativos dos órgãos federais: “Não temos medo da
competição. Estamos fora desse mercado porque ainda não temos rede”, resume.
Segundo ele, o papel da Telebras no PNBL é ir onde não há competição – “Não
iremos onde já existem duas operadoras privadas disputando mercado e oferecendo
banda larga em competição” – e oferecer capacidade de rede para que mais
prestadoras possam atender ao usuário na ponta. “Temos poucos trechos ativados,
mas já provocamos uma queda substancial no valor do Mbps no atacado”,
contabiliza animado. Sua meta é chegar a dezembro com 250 pontos de presença no
país, atendendo de 500 a 800 municípios.
Além do PNBL, outros projetos estratégicos da empresa são o satélite
geoestacionário, em parceria com a Embratel, previsto para ser lançado em 2014;
o cabo submarino que vai interligar o Brasil aos Estados Unidos e o Brasil à
África (as parcerias para sua construção deverão ser definidas ainda neste mês
de maio); a rede de alta velocidade para atendimento das cidades da Copa; e a
interligação com os países da América Latina.
Tele.Síntese -- A Telebras foi reativada com a promessa de ter uma grande rede
para regular a oferta de atacado, mas essa construção está em um ritmo mais
lento do que o próprio governo tinha anunciado. Quais são os gargalos e como é
possível superá-los?
Caio Bonilha – Os gargalos que nós enfrentamos são de diversas naturezas.
Primeira natureza é a contratual com os nossos fornecedores. Por força de sermos
uma empresa estatal e estamos sob a égide do TCU [Tribunal de Contas da União],
determinados tipos de contratação, que facilitariam muito a aceleração do nosso
processo, nós não podemos fazer. O que acontece às vezes é que temos quase todos
os elementos para fazer uma obra, mas falta um. Ai fica tudo parado.
Recentemente, em dois casos que nós tivemos de extensão de rede e torres, uma
empresa assinou o contrato e, depois de cinco meses, simplesmente disse que não
ia fazer a obra porque o preço era inexequível.
Tele.Síntese. Isso porque era na região Norte?
CB – Não, aqui no Centro-Oeste. Então, estamos providenciando um edital a toque
de caixa para refazer a licitação. No Norte é outro problema. No Sul, também,
nós compramos torres e a empresa desistiu. Isso tudo significa que um processo
licitatório numa empresa estatal, se houver algum problema como uma reclamação,
ele é suspenso.
A rede Norte está sendo um problema por causa da famosa tabela Sinapi, que é um
gargalo. Inclusive estamos com nove licitações na rua, vamos receber as
propostas por esses dias e vamos ver se dá certo. Estamos usando a tabela Sinapi
para obras civis e o feedback que tivemos de alguns fornecedores é de que o
preço é inexequível, não dá para fazer.
Tele.Síntese. A tabela é fora da realidade?
CB – A tabela é fora da realidade porque traz preços de referência para as
capitais. Agora, você imagina na Amazônia, por exemplo, o preço entre Manaus e
Belém com as cidades do interior do Pará e da Amazônia, há uma diferença muito
grande dos preços, porque muitas vezes é preciso levar os equipamentos por
barco.
Tele.Síntese. Mas a Telebras tinha anunciado que estava negociando isso com o
TCU.
Bonilha -- Nós temos nos reunidos toda semana com o TCU e os técnicos de lá têm
sido muito cooperativos conosco, no sentido de avaliar como é que podemos
resolver esse problema. Mas ainda não tem uma solução.
Nessa licitação da rede Norte, se aparecer alguém que faça essas obras, ótimo.
Se não aparecer ninguém que faça, nós vamos nos sentar com eles e buscar outra
alternativa. O governo tem o compromisso de atender a rede Norte, porque é onde
está a pior situação do ponto de vista de atendimento.
O que nós temos feito para mitigar o problema é fazer um acordo com a
Eletronorte para usar a rede dela, nós estamos negociando para usar a capacidade
dela e isso já adianta o nosso plano. Nós estamos ativando atendimento em
Macapá, que tem rede própria de um provedor que vai de Macapá a Belém. Nós
estamos chegando a Rio Branco, no Acre, até o final deste mês, também com a rede
da Eletronorte. Depois, chegaremos a Belém e ao interior do Pará. É uma maneira
que nós achamos de driblar, em curto prazo, essas dificuldades. Como estamos
recebendo capacidade, a gente ganhou tempo para trabalhar outras soluções.
Tele.Síntese. O princípio da Telebras não era usar as fibras ópticas apagadas
das elétricas?
Bomilha -- As fibras para nós foram de grande ajuda. Mas as fibras apagadas
sozinhas não fazem nada. Então, nós temos que negociar com todas as empresas de
energia como vamos acender as fibras. E aí entram as negociações com essas
empresas para tomada dessas fibras porque, como elas fazem parte do sistema
elétrico, nós só podemos fazer uma manobra com autorização da ONS [Operador
Nacional do Serviço elétrico]. Vou lhe dar um exemplo. Temos, desde dezembro de
2011, toda pronta a infraestrutura de Salvador até Imperatriz no Maranhão,
passando pelo o Nordeste inteiro. Eu consegui ativar o trecho entre Natal e
Fortaleza. Agora fizemos um esforço junto a Chesf, Eletronorte e ONS, de fazer
uma programação de desligamentos para poder ativar os demais trechos. A ONS tem
que autorizar as empresas de energia elétrica, no caso a Chesf e Eletronorte,
para fazer um desligamento programado.
Tele.Síntese -- Desligar o quê?
Bonilha -- O desligamento das fibras apagadas. Tem que entrar no site e
desligar, mas isso tem que ser monitorado pela ONS, porque depende de uma
intervenção em um sistema que está em funcionamento.
Tele.Síntese -- Você estima que esse backbone entre Salvador e Imperatriz será
ativado quando?
CB -- Até o final de maio. O trecho de Belém até Porto Alegre, passando pelo
Centro–Oeste, já está ativado. Até setembro – nós estamos concluindo o projeto
com a Petrobras -- nós fechamos o anel São Paulo. Esse anel sai de Salvador,
passa por Vitória, Rio e São Paulo até Campinas. E temos outro trecho, entre Rio
e São Paulo, passado por Belo Horizonte e pelo interior de Minas Gerais, que é o
anel Sudeste. E completaremos o anel Sul, que sai de Campinas e, pelo interior,
vai a Gravataí, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, voltando para São Paulo.
Nós temos tudo isso mapeado mas é preciso aprovar os projetos com as elétricas,
que é diferente de tratar com agentes privados.
Tele.Síntese -- Ouve-se falar que, apesar dos acordos entre os ministérios, a
Telebras está tendo dificuldades de aprovar os projetos com as elétricas. É
verdade?
Bonilha -- Não. Não temos dificuldades. Acontece o seguinte, não há uma
padronização, mesmo dentro de uma mesma empresa. Às vezes, um projeto é aceito
em uma região e em outra não. Nós temos que nos adequar. Quando a gente faz uma
programação e não avalia claramente todos os riscos, sai um cronograma irreal.
Quando a gente começa a ir para o mundo real, a ter a correta avaliação dos
riscos que a gente corre é diferente.
Um exemplo disso, um dos graves problemas que temos hoje é a extensão de
energia, porque estamos colocando nossos pontos de presença no meio do mato, nós
puxamos uma linha de alta tensão, alugamos um terreno no meio do nada, e
precisamos de energia comercial. No melhor caso, na zona urbana ou suburbana, a
energia só é entregue em 90 dias. Se é uma zona rural, é 120 dias, no mínimo. E
ai você tem que entrar em contato com a empresa, explicar o que é o PNBL, pedir
uma cooperação para que a elétrica faça uma deferência pessoal, porque é um
projeto de governo, para tentar diminuir o prazo de atendimento. Porque
normalmente é preciso colocar um transformador especificamente para nos atender.
Esse é um problema de um país que tem dimensão continental.
Quando a gente faz um cronograma inicial não prevê esses atrasos. Agora, eu
impus uma regra: nenhum cronograma é divulgado se não passar por uma análise de
risco. Justamente para evitar que as expectativas sejam frustradas. E foi isso
que aconteceu.
Tele.Síntese – Hoje, a Telebrs tem quantos quilômetros de rede ativados?
Bonilha -- Em torno de 13 mil km, até o final de maio. Eu creio que chega a 60%
do backbone projetado.
Tele.Síntese -- E esse backbone que deve estar pronto até o meio do ano, ele já
terá conectado todos os pontos de presença?
Bonilha -- Nos pontos de presença da Telebras já estão sendo colocados os
equipamentos comprados. Desses pontos nós partimos para a construção do backhaul,
que na Telebras chamamos de Estação de Telecomunicações Remota (ETR).
Tele.Síntese -- A Telebras já tem clientes nos POPs?
Bonilha -- Hoje nós temos já ativados mais de 50 clientes. Muitos deles
diretamente nos POPs. E temos quase cem contratos assinados. Mas paramos de
assinar contratos, porque nós começamos a nos deparar com a dificuldade que
todas as operadoras enfrentam, principalmente para a instalação de torres. O
licenciamento é outra cruzada. Temos que ir cidade por cidade, falar com os
prefeitos, explicar a importância do plano, para eles liberarem o licenciamento
mais rapidamente.
Tele.Síntese – Quem são seus clientes?
Bonilha -- Basicamente meus clientes hoje são provedores de internet. Muitos
deles, até por causa de nossas dificuldades, estão indo para os POPs. Eles são
provedores, mas não são muito pequenos, têm certa musculatura. No entorno de
Brasília, já temos mais de dez atendimentos, porque aqui é muito mais fácil. E
esses são pequenos provedores. Mas no interior, só aqueles que têm mais
condições vão diretamente aos nossos POPs.
Tele.Síntes -- E grandes operadoras?
Bonilha -- Nós, como regra, estamos fazendo acordo de compartilhamento de
infraestrutura com as grandes operadoras, seguindo as regras da Anatel. Esse é o
caso do acordo firmado com a TIM, por exemplo. Mas temos a Sky, que é um grande
cliente, que nós atendemos em Brasília e vamos expandir o atendimento.
Hoje, grandes clientes são aqueles que precisam de mais de um ponto, porque
normalmente têm redes corporativas. Temos vários clientes prospectados, e agora,
com vários POPs ativados, estamos começando a fazer esse contato virar
realidade.
Tele.Síntese -- Então, isso só vai acontecer no segundo semestre?
Bonilha -- Com o pequeno provedor, à medida que a gente chega à cidade, fazemos
sua interconexão. Hoje mesmo fizemos aqui uma reunião comercial com uma empresa
que pode atender mais de cem cidades num prazo de até 90 dias.
Ai tem outro componente interessantíssimo que está acontecendo que é o preço, e
por isso o papel da Telebras é importante. Vocês devem muito bem lembrar que as
operadoras diziam que o preço de R$ 230 mensais por 1 Megabit era subsidiado,
era um preço irreal. Hoje, a gente vê que esse preço virou pó. Aqui no
Centro-Oeste, os concorrentes já estão oferecendo a R$ 80 ou R$ 90 o megabit. E
não é nas capitais, mas nas cidades pequenas.
Na verdade, o fato da Telebras entrar em um mercado tem um efeito duplo, de
atender diretamente o cliente e de forçar as operadoras a baixar os preços. E é
o que está acontecendo. Elas sabem que se não se moverem vão perder os clientes.
Então isso está sendo salutar. Os preços estão caindo e a velocidade está
subindo.
Tele.Síntese -- E qual o preço que a Telebras está praticando?
Bonilha -- Os R$ 230 de referência, mas depende da capacidade.
Tele.Síntese -- Além da Sky, que é um cliente grande, qual outro você tem de
grande porte?
Bonilha -- O grupo Ascenty, que era a antiga Metro Fiber, que tem rede em
Campinas e no grande ABC, já anunciou que fechará com a gente e vai construir
rede para chegar ao nosso ponto de presença. Estamos negociando com ele uma
capacidade grande. E nós temos outros clientes, como o projeto de super banda
larga nas universidades, com a RNP.
Tele.Síntese. E a troca de capacidade?
Bonilha -- Nós temos contrato com a TIM, e agora com a GVT.
Para execução do PNBL, nós temos que trabalhar de maneira cooperativa. Porque eu
recebi vários questionamentos de que a Telebras ia fazer o PNBL. A Telebras não
tem capacidade de execução, mesmo que tivesse todo o dinheiro do mundo, de
sozinha fazer chegar a 40 milhões o acesso de banda larga fixa. A Telebras
participa do processo, onde é uma rede neutra que coopera com as outras
operadoras no sentido de expandir a banda larga. Dentro desse papel, de uma
maneira ou de outra, estamos trabalhando com todas as operadoras. Por exemplo,
na região Norte, com a Embratel e com a Oi.
Tele.Síntese -- Então o guarda-chuva institucional com as elétricas está
resolvido? Não há má vontade delas ou problema político?
Bonilha -- Está resolvido e não vejo má vontade das elétricas. Existe um
guarda-chuva institucional, que são os contratos de uso oneroso das fibras, o
que aconteceu é que por força de mudanças no planejamento da rede, visando a sua
agilização, nós tivemos que renegociar esses contratos. Foi feito agora com eles
um esforço concentrado e renegociamos todos os contratos. Então, do ponto de
vista institucional, nós nunca tivemos problemas com as elétricas. O que
acontece é que as empresas têm modus operandi distintos e nós temos que nos
adaptar a cada uma delas. Mas isso é normal, é questão operacional e não
institucional. Não há problema político.
Tele.Síntese -- Com o backbone ativado, quais são os próximos passos?
Bonilha -- Completar o backbone. Temos que fechar os aneis. Hoje, temos um
sistema que é uma rota única e agora, por questão de segurança, nós estamos num
trabalho de fechar todos os aneis. Neste ano, o esforço envolve também ligar as
cidades. E para isso enfrentamos as dificuldades normais de todas as operadoras,
acrescidas das questões licitatórias. E ai nós temos que ter mecanismos para
mitigar esses riscos, como transferir, na própria licitação, parte deles aos
fornecedores, que têm maiores facilidades para resolvê-los do que uma estatal.
Tele.Síntese -- Como licenciamento de antenas, por exemplo?
Bonilha -- Eles já fazem isso. Estamos falando da solicitação da energia que,
para nós, que temos uma máquina muito pequena com 210 funcionários, é
complicadíssima. Então são transferidas para eles determinadas atividades, que
podem ser resolvidas muito mais facilmente e a um custo menor.
Tele.Síntese – Quais são as metas para 2012
Bonilha -- Meu compromisso é de construir 250 ETRs. Essas estações vão
possibilitar o atendimento de 500 cidades, mas pode ser muito mais. No dia 15 de
maio, nós vamos ativar, no Rio Grande do Sul, um cliente, a Copel, cooperativa
de produtores rurais, que atenderá 18 cidades com a rede deles no Noroeste do
estado, região de Passo Fundo.
Em Brasília, por exemplo, com a infraestrutura que tenho aqui, temos o potencial
para atender praticamente todas as cidades da cercania. Por incrível que pareça,
Brasília é uma das cidades que tem menor número de provedores legalizados. E nós
só atendemos quem tem licença de SCM [Serviço de Comunicação Multimídia]. E nós
ajudamos quem quer se legalizar, a gente mostra pra eles que a burocracia não é
tão grande.
A nossa premissa é sempre a seguinte: a Telebras vai aonde ninguém vai. Nós
estamos atendendo agora, por exemplo, Gurupi e Niquelândia, na Serra da Mesa,
onde não tem ninguém. Lá tem a incumbent e um provedor, e nós estamos atendendo
ao provedor. Não vamos privilegiar onde já tem o serviço com uma política
pública. Não tem sentido.
Tele.Síntese -- Mas a região Norte será priorizada...
Bonilha – Justamente por isso. Nós consideramos a região Norte uma questão
estratégica. Lá, já estamos atendendo Belém, Macapá, Tucurui e agora estamos no
esforço para ativar até Cuiabá, Porto Velho, e Rio Branco, no Acre. E
futuramente Manaus e Boa Vista ainda este ano, com apoio da Embratel e Oi. É um
compromisso do ministro das Comunicações.
Tele.Síntese -- O ministro Paulo Bernardo, referindo-se ao que lhe disse a
presidente Dilma, anunciou que a Telebras teria R$ 1 bilhão de recursos
orçamentários por ano, mas ele não tem passado dos R$ 350 milhões. Quais as
consequências da limitação orçamentária? Se tivesse os recursos prometidos a
Telebras teria capacidade de execução?
Bonilha – Neste ano meu problema não é orçamento, meu problema é gente e as
dificuldades naturais de uma estatal. Passa despercebido para todo mundo o fato
desta Telebras não ter nada a ver com a Telebras do passado. Esta Telebras é uma
SCM estatal. Então, além de criar uma rede, nós estamos criando a
institucionalização da empresa, o que leva um tempo enorme. Vai desde a
elaboração de contratos, forma como nos relacionamos com provedores e operadoras
privadas, com as empresas elétricas. Nós temos que criar toda uma estruturação
jurídica para fazer isso sem ter problemas. Isso é um trabalho que não aparece,
mas eu não posso fazer nada sem ter esse trabalho pronto. E como tudo que nós
fazemos é novo, nós temos que, do ponto de vista legal, criar uma
jurisprudência. Cada acordo que eu faço, tenho que ter toda uma normativa para
justificar primeiro que o acordo é legal e, segundo, ele não lesa o patrimônio
da Telebras. Isso não é uma questão simples. Nós temos que criar métodos, tomar
uma série de cuidados.
Tele.Síntese -- Então, hoje o orçamento atual é suficiente?
Bonilha -- É suficiente. Ainda não chegamos a esse problema. Agora, estamos
fazendo o nosso plano de cargos e remuneração para fazer um concurso até o final
do ano. Nesse concurso, nós pretendemos dobrar o nosso quadro. Até por conta dos
projetos estratégicos. Isso precisa de gente, mas gente treinada. Não adianta
entrar aqui uma garotada que a gente vai ter que treinar. Vai mais nos
atrapalhar do que ajudar. Então estamos num processo de transferência de
conhecimento.
Vai chegar um dia que vamos ter um problema orçamentário, mas ainda não chegamos
lá.
Nós já temos outro projeto que é descentralizar a Telebras.
Tele.Síntese -- E isso quer dizer o quê?
Bonilha -- Quer dizer que vamos começar a recriar as regionais da Telebras. O
projeto já foi aprovado pela diretoria e agora vai ser submetido ao Conselho.
Vamos reabrir uma provavelmente no Nordeste – têm dois candidatos Fortaleza e
Recife -, no Rio de Janeiro, pela razão óbvia dos grandes eventos e por ser um
ponto importante da nossa rede, e Porto Alegre, onde devemos inaugurar agora em
maio o primeiro laboratório da Telebras. Lá vão ficar todos os nossos
equipamentos de testes. Teremos outro no Rio de Janeiro. Ao invés de ter um
único laboratório, como era a CPqD, minha estratégia é criar laboratórios junto
aos centros de pesquisas das universidades, cada um com a sua expertise.
Tele.Síntese -- O primeiro será no Rio Grande do Sul. Qual a razão da escolha?
Bonilha -- Por duas razões. Uma delas foi porque a Puc foi a primeira a nos
procurar e colocara infraestrutura à disposição da Telebras. Nós fizemos um
projeto juntamente com o Funttel e estamos investindo nesse laboratório. A
segunda razão é que boa parte dos nossos fornecedores de tecnologia nacional
está no Rio Grande do Sul. Então nós vamos montar um laboratório com
equipamentos de todos os fornecedores, para certificar os nossos produtos que
nós estamos vendendo e certificar os equipamentos deles. Pelo fato de nós
estarmos praticamente só comprando produto de tecnologia nacional, queremos
ajudar os nossos fornecedores a sempre fazer melhorias nos produtos a partir do
seu comportamento em campo. Olhamos um equipamento e observamos se falta alguma
funcionalidade, que é importante para o funcionamento da rede. Então, nós sempre
estamos tendo esse contato com nossos fornecedores. A beleza de você fazer um
trabalho com empresas nacionais e que elas sempre estão disponíveis, são muito
mais ágeis.
Tele.Síntese -- Então você não tem problema de dinheiro. Quando a Telebras vai
começar a crescer?
Bonilha -- Olha, eu acho que este ano nós vamos cumprir o orçamento e, a partir
do ano que vem, nós vamos ter que brigar por mais recursos. Nessa questão
orçamentária, e esta é uma posição pessoal, eu acho que uma empresa como a
Telebras não pode viver pendurada no Tesouro. Nós temos que criar receitas
próprias. Como somos uma start up, com dez meses de operação – e não nenhuma de
telecom que começou a ter lucro operacional antes do terceiro ano de
funcionamento, temos ainda dois anos pela frente para crescer.
Tele.Síntese -- Então este ano a rede terá 250 ETRs, que podem chegar a 500
cidades. E qual a meta do PNBL?
Bonilha -- A meta do PNBL é chegar a quatro mil cidades. Essa meta está mantida.
A diferença é que quando foi feito o orçamento, as quatro mil localidades seriam
feitas com recursos próprios. E a gente está vendo que não é necessário. Porque
aonde as operadoras vão, não tem sentido eu ir, a não ser que a gente tenha que
atender alguma coisa do governo. Então, por exemplo, hoje nós estávamos
discutindo Franca (SP), que é território da Algar, agora conta com a Telefônica
também. O que aconteceu com a chegada da Telefônica em Franca? Os preços da
internet desabaram. Então, eu, Telebras, não tenho nenhuma motivação para ir pra
Franca, que já tem dois operadores em competição, o que vou fazer lá? Nosso
papel é ser uma rede neutra e provocar a competição.
Tele.Síntese -- Então a Telebras não vai cobrir essas quatro mil cidades?
Bonilha -- O PNBL vai, eu não. Mas podem ter certeza de uma coisa, em todas elas
vai ter sempre dois competidores pelo menos. A gente está mapeando isso.
Tele.Síntese -- E a rede sul-americana? A Telebras é a responsável pela ligação
no Brasil.
Bonilha -- A interligação do anel sul-americano é um dos nossos projetos
estratégicos e estamos fazendo todas as interconexões com as outras empresas,
com a Internexa da Colômbia; com a Arsat, da Argentina; com a Imatel, do
Uruguai; e com a Copaco, do Paraguai.
Tele.Síntese -- E os projetos estratégicos de satélite e de cabos?
Bonilha -- O de satélite nós estamos montando uma parceria com a Embraer, como é
público, e dependemos agora das aprovações do governo para avançarmos. Por
questão estratégica, o governo achou melhor ter uma empresa nacional para
absorver tecnologia. Para retomar aquele projeto que começou na década de 80 com
o Brasilsat, um projeto da Embratel com a CPqD e que acabou não indo pra frente.
Então, a ideia é retomar aquele programa. Entram a Embraer, que é a empresa
nacional de sucesso nessa área espacial, e a Telebras como sócia dela para
garantir, até por questões de governança estratégica, que a empresa seja
nacional e que a tecnologia seja realmente transferida de acordo com as
necessidades do governo. Nosso papel é na gestão e na governança. O que
interessa para a Telebras é comprarmos um satélite ao melhor preço e nas
melhores condições possíveis, por meio de concorrência internacional.
Tele.Síntese -- Já tem um prazo para ocorrer essa concorrência?
Bonilha -- Olha, na verdade nós tínhamos um prazo inicial até 2014 e estamos
lutando para que até lá o satélite esteja em órbita. Estamos com toda a
documentação pronta para a licitação. Nossa especificação está pronta. O dever
de casa que teríamos de fazer dentro da Telebras, do MCTI e do Ministério da
Defesa, já está pronto. Na verdade foi feita uma atualização do cabedal de
conhecimento que já existia. Provavelmente isso vai acontecer muito rapidamente.
Tele.Síntese -- E o cabo submarino?
Bonilha -- Ainda estamos estudando como vamos fazer. É uma questão estratégica,
mas também é uma questão econômica porque pagamos uma internet no Brasil muita
cara hoje. Então, além de ser estratégico do ponto de vista da independência do
país, ele baixa consideravelmente o preço da internet para o PNBL. Nós estamos
agora analisando qual o melhor modelo de negócio. Porque, de novo, para mitigar
a questão orçamentária, esse projeto vai ser feito em parceria com empresas
privadas. Evidentemente que vamos manter a independência da Telebras na gestão
do cabo, naquilo que nos interessa, mas nos pontos da chamada aterragem tanto
nos Estados Unidos, na África ou na Europa. Mas nós vamos operar o cabo. Nós
vamos ter parceria na construção, na manutenção e nas fibras. Mas a capacidade é
nossa e nós vamos comercializá-la.
Tele.Síntese – Mas qual é o cronograma
Bonilha -- Nós fizemos um acordo com a Angola, entre países, e a Angola Cable
vai ser nossa parceira no cabo que vai para a África e no que vai para os
Estados.
Tele.Síntese -- E o acordo assinado com a Odebrecht?
Bonilha -- Esse assunto ainda está sob sigilo. Mas estamos conversando com ela.
Assinamos um memorando de entendimentos.
Tele.Síntese -- Quanto custa esse projeto?
Bonilha -- Nosso orçamento para este ano é de R$ 120 milhões. Mas um projeto
dessa natureza é de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões.
Tele.Síntese . E você acha que define quando?
Bonilha -- Rapidamente. Nós temos até metade de maio para resolver o que vamos
fazer. Nós já temos um pronto um pedido de cotação internacional para
fornecedores.
Tele.Síntese -- Quando tempo leva para construção?
Bonilha -- Dezoito meses.
Tele.Síntese -- E a rede de alta capacidade para a Copa?
Bonilha -- Estamos trabalhando nela. Temos R$ 80 milhões no nosso orçamento para
aplicar nela este ano. Até dezembro serão a rede vai ser implantada para atender
as seis cidades da Copa das Confederações -- Salvador, Fortaleza, Belo
Horizonte, Rio, Brasília e Recife. Nós já temos projetos aprovados, a
dificuldade que temos é de licenciamento para fazer obras nas cidades. Fazer
obra em cidade grande é cada vez mais complicado.
Tele.Síntese -- Na LDO nova, essa obra foi priorizada.
Bonilha -- Sim e nós estamos sendo cobrados pela Casa Civil mensalmente, no
mínimo.
Tele.Síntese -- Qual será a capacidade? 100 Gbps?
Bonilha -- Nós estamos fazendo com 40 Gigabits por segundo e, no futuro,
chegaremos a 100 Gbps. É que nós estamos fazendo a rede não só para atender a
Fifa, mas as outras operadoras também. Porque, seguindo a máxima de que não
vamos passar vergonha, nós estamos fazendo a rede para as outras operadoras.
Tele.Síntese -- Quando vai chegar a 100 Gbps?
Bonilha -- A PadTec, que é nossa fornecedora, já está testando o link de 100
gigabits. O de 40 Gbps já está na nossa rede, que já está presente em todas
essas cidades. É só uma questão de equipamento, que é a parte mais fácil.
Tele.Síntese -- A Telebras tem problemas com falta de equipamentos? Fibra por
exemplo?
Bonilha -- Por ora não. Até porque, no ano passado, a gente comprou bastante
fibra, esperando que tivesse algum problema. Estocamos mais de 50 quilômetros,
justamente para usar nas áreas metropolitanas.
Tele.Síntese – Voltando a questão da receita. Uma das fontes de receita
imaginada, quando a Telebras foi recriada, seria prestar serviço para o próprio
governo. Como é que está isso?
Bonilha – Hoje, não estamos prestando,pois, para disputar uma licitação, preciso
ter rede, já que os órgãos de governo estão espalhados pelo país. Assim que
tiver com a rede pronta, chegando às cidades, vamos disputar. Não temos nenhum
receio de participar de licitações de cobertura. Nós temos o que considero a
melhor rede de telecomunicações do Brasil.
Tele.Síntese -- Por que é melhor?
Bonilha -- Ela não tem legado e foi toda preparada para o IPv6, por exemplo.
Então, na hora em que tivermos os aneis fechados, tivermos redundância,
poderemos participar das licitações do governo federal em igualdades de
condições com as demais operadoras. Temos produtos testados.
Tele.Síntese -- Quais produtos?
Bonilha -- Temos o produto IP, que é o normal de prateleira. Temos o VPN, para
redes corporativas. E temos também um produto para atender TV, desenvolvido até
em função da Copa.
Tele.Síntese -- É IPTV?
Bonilha -- Não, de TV mesmo. Você coloca toda sua canalização de TV em cima de
uma fibra, que a gente transmite e entrega em qualquer ponto do Brasil. É uma
rede puramente óptica, sobre o DWDM, sem necessidade de protocolos de
transporte. Foi um produto que desenvolvemos juntamente com a PadTec. Está vendo
que trabalhar com tecnologia nacional tem vantagens?
Tele.Síntese – E para quem a Telebras vai fornecer
Bonilha -- Por exemplo, para as novas operadoras de TV por assinatura. A NeoTV
(entidade que representa os pequenos fornecedores de TV paga) nos procurou, pois
quer montar uma rede nacional para fornecer para todos os seus associados. A
ideia é que eles entregam toda a programação em um determinado ponto e a gente
distribui para todos os associados direto pela fibra, sem precisar ficar
rodando. O produto já está pronto. Acredito que o grande impulsionador das
vendas é a nova regulamentação do SeAC.
Tele.Síntese -- Essa solução não poder ser oferecida também para TV pública, com
a Telebras como a rede de transporte?
Bonilha -- Pode também. A questão é que tenho cobertura limitada e a TV pública
precisa de cobertura nacional.