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Leia na Fonte: Portal da Band / Colunas
[17/05/12]
Para Telebrás, Centro de Treinamento é da Oi - por Mariana Mazza
Depois da controvérsia levantada aqui na coluna sobre o leilão de 89 lotes de
imóveis na Internet pela Oi, a Telebrás se prontificou a esclarecer seu lado na
história. Na interpretação da estatal, o Centro de Treinamento da Telebrás, em
Pernambuco, pertence à Oi a partir do momento em que a concessionária venceu o
leilão de privatização das telecomunicações brasileiras, realizado em 1998.
Nas palavras da estatal, "o Centro de Treinamento de Camaragibe (PE) não
pertence mais à Telebras desde 1998, quando ocorreu a privatização das
telecomunicações brasileiras. O Complexo pertence à Tele Norte Leste, hoje
TELEMAR/OI, uma das 12 empresas de telefonia fixa e móvel resultantes do
processo de desestatização".
A visão da Telebrás está em linha com as interpretações feitas até agora pela
Anatel: de que, ao vencer o leilão, os bens que antes pertenciam ao Sistema
Telebrás passaram a pertencer à nova concessionária. Até ai, tudo bem. Mas a
questão central não é a propriedade, mas sim o fato de este bem estar ou não
associado à concessão. E, pelo visto, está. Afinal, a Oi não "comprou" o Centro
de Treinamento em uma negociação imobiliária comum, mas sim assumiu o imóvel
como parte do conjunto de benfeitorias negociado na privatização. Sendo assim,
este imóvel seria reversível, ou seja, só pode ser renegociado com autorização
prévia da Anatel e os recursos obtidos com a venda devem ser reinvestidos na
concessão.
A equipe da Telebrás também informou que a disputa judicial em torno do imóvel,
aberta em 2010, não foi iniciada pela estatal, mas sim pela própria Oi, que não
teria passado o imóvel para o seu nome após a privatização. O processo judicial
foi concluído em acordo, onde a Telebrás teria reconhecido a Oi como
proprietária do prédio e se isentado de qualquer obrigação legal e tributária
sobre este patrimônio. Mas, ao que tudo indica, essa transferência de posse para
a Oi ainda não foi concluída.
A pedido da Telebrás, a casa de leilões Zukerman, onde os imóveis estão sendo
negociados, mudou a descrição do imóvel depois da divulgação do negócio por esta
coluna na última terça-feira, 15. A denominação "Centro de Treinamento da
Telebrás" foi apagada da descrição do lote 34 da disputa. Também foi incluída
uma nova observação: de que o imóvel está "em processo de transferência para a
Oi".
É importante deixar claro que a atual Telebrás não tem relação direta com a
polêmica em torno dos bens reversíveis. Em princípio, a estatal de hoje não tem
mais controle sobre os bens negociados pelo governo no leilão de privatização. A
questão é que o indício mais claro de reversibilidade de um imóvel nos dias de
hoje é o fato de o patrimônio ainda ter o registro em cartório em nome das
subsidiárias do Sistema Telebrás (a antiga e não a revitalizada pelo governo
Lula). Outro fator relevante é que as concessionárias jamais transferiram esses
imóveis para o seu nome após a privatização. Se estão fazendo isso agora, esse é
outro aspecto nebuloso no meio dessa confusão. Mas quem tem que explicar o que
está acontecendo é a Anatel, órgão regulador e fiscalizador do setor de
telecomunicações, e não a Telebrás, que não tem mais nada a ver com isso.
O motivo da transferência nunca ter sido feito é bastante lógico. Estes imóveis
pertencem à CONCESSÃO e não aos grupos que arremataram essas concessões na
privatização. Eles são considerados bens essenciais à prestação do serviço, por
isso não podem ser livremente negociados pelas companhias privadas. As empresas
podem trocar de prédio, desde que tenham o aval do representante do Estado
brasileiro, no caso, da Anatel.
Desde segunda solicitei esclarecimentos à agência reguladora e ainda aguardo a
resposta da autarquia se esses prédios que estão sendo leiloados receberam ou
não a anuência prévia da Anatel para serem vendidos. Friso mais uma vez que o
leilão de imóveis feito pela Oi não é uma ilegalidade em si, desde que a Anatel
tenha autorizado a venda desses bens com base em argumentos que demonstrem
benefício à sociedade com essa negociação. Mas a venda de um patrimônio
imobiliário de valor tão vultoso - somados, os prédios valem mais de R$ 58
milhões - revela a necessidade urgente de esclarecer de uma vez por todas a
polêmica em torno dos bens reversíveis da União.