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Fonte: ClippingMP - Origem: Valor Econômico
[26/08/13]
Pequenos provedores avançam no mercado de banda larga fixa - por Elisa
Soares
Os pequenos provedores estão avançando no mercado que presta serviços de acesso
à internet em banda larga fixa no Brasil. Do total de 4 mil provedores desse
serviço, 20% são de grande porte e 80% são pequenas e médias empresas, as quais
já respondem por 9% dos 20 milhões de pontos de acesso no país. Estão fora dessa
conta as grandes operadoras de telefonia e TV por assinatura, que também
oferecem banda larga.
Somente no ano passado, essas pequenas empresas aumentaram sua base de clientes
em 33%, um ritmo duas vezes mais forte do que os 16% do segmento como um todo,
segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Apesar do
potencial de avanço, a continuidade do crescimento do subsetor esbarra na
dificuldade que os pequenos provedores têm em financiar seus projetos de
expansão.
A principal barreira, segundo os empresários do setor, é que pedidos de
empréstimos inferiores a R$ 10 milhões, que representam a média da demanda dos
pequenos, devem ser requeridos junto a instituições financeiras parceiras do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas, essas
instituições exigem garantias que os provedores não podem oferecer. Em um dos
casos, um empresário disse ao Valor que um banco estadual, parceiro do BNDES,
exigia garantias reais de 130% em relação ao pedido de financiamento, de R$ 2
milhões. O empréstimo não foi realizado.
Alan Fischler, assessor especial do BNDES, disse o setor é caracterizado por não
ter muitos ativos, o que atrapalha no oferecimento de garantias. "O problema é
que o potencial que os pequenos provedores têm é grande, mas o nível de
investimento que querem fazer é incompatível com o tamanho deles", disse
Fischler. Além disso, as garantias são definidas de acordo com a percepção de
risco de cada instituição.
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Provedores de Internet e
Telecomunicações (Abrint), os cerca de 3,2 mil pequenos e médios provedores
faturam de R$ 720 mil a R$ 7,2 milhões por ano. É justamente desse grupo que
surgem as demandas de recursos inferiores a R$ 10 milhões, por empresa. Os
pedidos acabam sendo remetidos ao financiamento indireto, por meio de bancos
comerciais e estaduais que atuam como intermediários do BNDES.
Os pequenos provedores levaram seus serviços para quase todo o território
nacional - só não estão presentes em 23 municípios. Até agora, cresceram com
recursos próprios, mas para uma nova etapa de expansão precisam de apoio
financeiro. Porém, não conseguem atender aos requisitos dos bancos, disse o
vice-presidente da Abrint, Erich Rodrigues. A associação, que tem
aproximadamente 500 provedores associados, pede maior flexibilidade dos bancos,
para que sejam aceitos recebíveis - contas a receber por vendas, ou contratos
fechados - como garantia de financiamento. Essa já é a maneira como o BNDES
financia as grandes empresas de telecomunicações.
Nos financiamentos diretos, feitos pelo BNDES, os recebíveis são uma das
alternativas de garantia aceitas pela instituição, mas nas operações indiretas
cabe a cada instituição financeira aceitar ou não. Executivos de pequenos
provedores ouvidos pelo Valor reclamam de desconhecimento, tanto por parte de
gerentes de bancos, quanto dos pequenos provedores, sobre essa possibilidade. O
sócio da Desktop Sigmanet, Múcio Camargo de Assis Filho, está buscando
financiamento de R$ 9 milhões desde o segundo semestre do ano passado, mas não
consegue justamente por falta de garantias.
"Ir a agentes financeiros pedir financiamento é uma roleta russa, pois,
principalmente no interior, é difícil encontrar um profissional engajado. Depois
da entrega da documentação, o processo entra em um limbo, e não sabemos o
posicionamento da instituição em relação ao pedido", afirmou. No caso da Desktop
Sigmanet, os recursos seriam utilizados para incluir a oferta da IPTV (televisão
interativa) no pacote de serviços da empresa.
Para Fischler, do BNDES, a solução para a manutenção no crescimento dos pequenos
provedores é não depender exclusivamente da obtenção de financiamento. "Acho que
essas empresas vão ter que se juntar. Em algum momento vai ter uma consolidação
de mercado para criar empresas um pouco mais robustas e, eventualmente, vai ter
que entrar algum investidor financeiro", disse.
"Nem todos os bancos têm traquejo com esse esquema de garantias, por isso pode
haver desconhecimento" disse o assessor do banco de fomento.
O diretor de banda larga do Ministério das Comunicações, Artur Coimbra, disse ao
Valor, por e-mail, que o ministério e BNDES chegaram à conclusão de que a
solução ideal é que pequenos e médios provedores recorram à linha BNDES
Automático, de financiamento indireto e que pode emprestar até R$ 20 milhões.
Segundo Coimbra, ainda não houve pedidos a essa linha, possivelmente porque o
trâmite ocorre nas instituições parceiras do banco de fomento. "O risco da
operação não é um fator impeditivo, pois os pequenos provedores são empresas
sólidas e com ótima capacidade de pagamento", afirmou por escrito.
Para divulgar melhor essas informações, o BNDES sugeriu a organização de eventos
regionalizados para o setor.
Outra barreira para o crescimento dos pequenos provedores é a dificuldade em
financiar fibra óptica. Essa tecnologia representa, em média, 23% do valor de um
projeto padrão para levar a fibra até o domicílio do cliente, informou Coimbra,
por e-mail. Segundo ele, são frequentemente cobradas altas taxas de juros nos
empréstimos. Por isso, o BNDES afirmou que está analisando a inclusão da fibra
no cadastro de itens financiáveis pela linha Finame.
Fischler, do BNDES, disse que o banco está ciente da questão que envolve também
a fibra óptica e que está sendo providenciada uma solução para inclusão da
Finame. O departamento de Banda Larga do ministério informou que busca solução
efetiva para o gargalo nos financiamentos, pois entende que os pequenos
provedores têm papel fundamental na oferta do serviço em áreas subatendidas por
grandes operadoras.