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Fonte: Band / Colunas
[15/10/13]
Governo retoma projeto de rede própria de comunicação - por Mariana Mazza
Ainda na esteira das denúncias feitas pelo ex-técnico da agência norte-americana
de segurança (NSA) Edward Snowden, o governo federal iniciou a semana anunciando
uma série de ações para aumentar a segurança das comunicações dos órgãos
públicos. A nova estratégia foi divulgada pela presidente Dilma Rousseff em sua
página no Twitter no último domingo. "Determinei ao Serpro a implantação de um
sistema seguro de e-mails para todo o governo federal. Esta é a primeira medida
para ampliar a privacidade e a inviolabilidade das mensagens oficiais", escreveu
a presidente.
É uma medida ousada e que terá um tremendo impacto nas relações do governo
brasileiro com a gigante de softwares Microsoft. Atualmente, o setor público usa
os serviços Outlook da empresa norte-americana para enviar e receber e-mails,
tornando o governo um excepcional cliente no mercado de software. Com a mudança,
que pode começar ainda neste ano, o setor público irá economizar muito dinheiro
além de ter mais controle sobre suas comunicações. Os recursos que deixarão de
ser gastos com as licenças de software deverão ser repassados para o Serpro
investir em novas pesquisas. Um presente e tanto para a estatal, que não vinha
recebendo a atenção merecida do governo nos últimos anos.
Além da jogada de mudar o provedor de e-mails, a presidência da República
pretende reativar o projeto de construir uma rede própria de telecomunicações,
tornando o governo menos dependente das empresas privadas em serviços como
conexão à Internet. Todo o projeto deverá ser oficializado por meio de um
decreto presidencial que, segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo,
deve ser publicado em breve. Mas, pelo que foi divulgado até o momento, o núcleo
do projeto não se diferencia em nada do previsto em outro decreto, editado pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: o decreto que criou o Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL), de 2010.
A base do PNBL era justamente dar independência ao governo das redes privadas de
telecomunicações, unindo as infraestruturas já construídas com recursos públicos
e expandindo sua abrangência. O projeto começaria com o atendimento dos órgãos
públicos e se expandiria até a Telebrás tornar-se uma prestadora de serviço
direto ao consumidor em áreas esquecidas pelas teles privadas. Como pode-se
notar, pouco desse plano original foi executado. E, agora, o governo decide
relança-lo como se fosse uma ideia nova.
Neste novo lançamento do PNBL ainda pouco foi divulgado sobre a base da rede
estatal de telecomunicações. Até o momento fala-se em usar a estrutura da
Telebrás e de outras estatais como Serpro, Dataprev e da Rede Nacional de Ensino
e Pesquisa (RNP). Nenhuma palavra sobre o cerne das polêmicas logo após a edição
do decreto de Lula em 2010: a infraestrutura das elétricas. O eixo da expansão
da infraestrutura no projeto original era usar as redes da finada Eletronet e
conectar as estruturas das distribuidoras e transmissoras de energia elétrica em
uma grande rede de comunicação. Muita gente não sabe, mas há um potencial enorme
nas redes elétricas para as telecomunicações. O consumidor pode não conhecer
essa faceta do setor elétrico, mas as empresas de telecomunicações sabem muito
bem como se aproveitar dessa estrutura.
Existem diversos contratos firmados entre as teles e as elétricas, especialmente
na Região Norte do país, em que as redes de transmissão de energia são
utilizadas para o tráfego de dados, reduzindo os custos de construção de uma
rede dedicada às telecomunicações. Quando o projeto do PNBL saiu do forno três
anos atrás, as empresas de telefonia ficaram apavoradas com a ideia de que esses
contratos pudessem ser quebrados para turbinar o plano de governo de expansão da
banda larga. Reza a lenda que Dilma Rousseff, então no comando da Casa Civil,
estava bastante inclinada a acabar com esses acordos entre os dois setores.
Ninguém sabe se a presidente mantém esse desejo nos dias de hoje.
O estabelecimento de uma rede própria pelo governo é uma boa ideia. Era uma boa
ideia em 2010 e continua sendo em 2013. O difícil de entender é o motivo de o
governo ter abandonado por três anos um projeto que agora se mostra tão
necessário para a proteção da soberania do país. Bem antes das denúncias de
Snowden o Brasil já tinha plena consciência da fragilidade das comunicações de
governo. A impressão que fica é que as denúncias recentes viraram o álibi para
que o governo enfrente os interesses de grandes empresas privadas, que só têm a
perder com a criação de uma rede de telecomunicações estatal. A frase mais
repetida no setor nestes últimos dias é "antes tarde do que nunca", o que
representa bem a frustração que os idealizadores do projeto carregaram nos
últimos anos. O anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff renova as
esperanças de que o PNBL possa voltar a ser um projeto com real impacto positivo
para o país, mesmo que bem mais tarde do que todos esperavam.