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Fonte: Blogs Estadão
[08/02/15]
Mais promessas - por Renato Cruz
Em sua mensagem ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff tratou, entre outros
assuntos, de acesso à internet: “Nosso objetivo será, nos próximos quatro anos,
promover a universalização do acesso a um serviço de internet de banda larga
barato, rápido e seguro, por meio do apoio à instalação de redes de fibra
óptica, conectando 90% dos municípios e 45% dos domicílios com redes de
ultrabanda larga”.
Durante a campanha, a presidente já havia falado num plano “Banda Larga para
Todos”. Mas a nova proposta foi lançada sem que o governo tenha conseguido
cumprir os objetivos da política anterior, chamada Plano Nacional de Banda Larga
(PNBL). A meta era chegar ao fim do ano passado com 35 milhões de residências
conectadas à internet rápida. Segundo a mesma mensagem, o número real foi de
23,9 milhões de conexões de banda larga fixa.
Atualmente, existem menos de 1 milhão de conexões de fibra óptica no País.
Quando o governo promete conectar 45% dos domicílios com redes ópticas, na
realidade fala em ter, em quatro anos, mais residências conectadas com internet
ultrarrápida do que o total das casas conectadas atualmente, com qualquer
tecnologia, já que as 23,9 milhões de conexões atuais correspondem a uma
densidade de 36,5%, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A fibra é uma tecnologia importante para garantir o acesso num ambiente em que o
vídeo é cada vez mais presente. Serviços de vídeo sob demanda já fornecem
conteúdo com resolução 4K, quatro vezes a alta definição plena oferecida pelos
canais HD. Isso exige capacidade de rede.
Mas a proposta está muito distante da realidade. Uma pesquisa do Centro de
Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br),
divulgada no ano passado, mostrou que 10% das residências brasileiras ainda usam
acesso discado à internet. Isso mesmo. Aquele barulho chato de conexão com que
estávamos acostumados no final da década de 1990 ainda faz parte do cotidiano de
um em cada 10 usuários brasileiros de internet. E o principal motivo para essa
situação não é falta de renda do consumidor, mas falta de rede.
Onze por cento dos domicílios com internet ainda têm conexões com velocidade de
até 256 quilobits por segundo. Quando foi lançado, em 2010, o PNBL foi
ridicularizado por oferecer pacotes de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 35. Há
cinco anos, 1 Mbps já era pouco, e um em cada 10 usuários brasileiros de
internet ainda navegam na rede com até um quarto dessa velocidade.
No fim do ano passado, havia 152,3 milhões de conexões de banda larga móvel, mas
somente 5,5 milhões eram na tecnologia de quarta geração (4G). Por que não
incentivar também as conexões móveis, que têm potencial de chegar a municípios
menores mais rapidamente?
Infraestrutura
O apoio à instalação da fibra óptica pode ter outros efeitos positivos que vão
além das residências conectadas, como baixar o custo de infraestrutura de
telefonia móvel (as antenas de celular normalmente são conectadas à fibra). Mas
os números mostram uma capacidade de expansão muito maior das tecnologias sem
fio. De 2010 a 2014, as conexões fixas de internet cresceram 59%, enquanto as
móveis avançaram 706%.
Medidas
A mensagem da presidente ao Congresso cita várias medidas que podem ser tomadas
para incentivar a instalação de acessos de fibra óptica, “como a construção de
novos cabos submarinos e o lançamento de um satélite geoestacionário de
comunicação e defesa, a ser utilizado tanto para fins militares quanto para o
atendimento da população em áreas de difícil acesso”. Será que o plano é pegar o
sinal do satélite e distribuir localmente por fibra?