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Leia na Fonte: Teletime
[13/03/17]
Telebras quer atrair parceiros para o SGDC e sinaliza com acesso a clientes
governamentais - por Samuel Possebon
A Telebras conta com uma carta na manga para convencer as empresas a entrarem na
licitação de capacidade do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC):
quem for parceiro da estatal poderá vender para o governo utilizando o satélite.
A argumentação da Telebras é que ela tem a prerrogativa de dizer quem pode e
quem não pode vender para o governo em todos os níveis, da administração federal
ao nível municipal, passando pelas empresas estatais e de capital misto usando o
satélite, já que é uma função dela prover estes serviços. Mas que no caso dos
parceiros, haverá um espírito cooperativo.
Entre as operadoras privadas de telecomunicações, a leitura é que para limitar
aos demais operadores a oferta de serviços ao governo a Telebras teria que usar
o Decreto 8.135/2013, que estabelece os critérios para as "comunicações de dados
da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, e sobre a
dispensa de licitação nas contratações que possam comprometer a segurança
nacional". Este Decreto só fala, como diz a sua ementa, em administração pública
federal. Fontes da Telebras esclarecem que não pretendem usar o decreto de
comunicações seguras para garantir seu direito de preferência no atendimento ao
governo. Esse direito virá do fato de que, por ser um investimento público, é
natural que o governo use a capacidade da estatal. A preferência de contratação
pelo Decreto 8.135/2013, se for utilizada, teria que vir dos próprios órgãos
contratantes.
De qualquer maneira, esta estratégia da Telebras de usar o seu poder de mercado
junto ao governo ficou de fato explícita na consulta pública do edital, e é um
dos aspectos que mais têm chamado a atenção de potenciais interessados. A
Telebras reserva para si a preferência de servir ao governo pelo SGDC. Mas deixa
aberta a porta para autorizar terceiros. Isso pode, de fato, ser um diferencial
para quem não tem acesso aos clientes estatais. Mas há dúvidas sobre como a
Telebras vai remunerar as empresas que comprem a sua capacidade na prestação de
serviços ao governo e como serão estabelecidas estas parcerias.
Na leitura de algumas empresas que analisaram o edital, por outro lado, a
estatal não teria poder a ponto de proibir a empresas privadas a oferta ao
governo, caso optem por não se aliar a ela no leilão do SGDC. No caso de haver o
uso do Decreto 8.135, o problema, dizem as empresas, é que ele está baseado no
conceito de comunicações seguras. No modelo proposto para o SGDC, haverá
múltiplos parceiros na operação do satélite não seria possível falar em
comunicação segura apenas por ter a chancela da Telebras, sem que haja um
extenso processo de auditoria e certificação da rede. Vale lembrar ainda que,
segundo apurou este noticiário, o Planejamento estuda ainda a possibilidade de
retirar a possibilidade de contratação da Telebras sem licitação pública nas
compras governamentais. Fontes da estatal, contudo, reiteram que as
prerrogativas da empresa para atender o governo não estão no Decreto 8.135/2013,
mas em uma condição contratual estabelecida pela empresa específica ao uso do
SGDC, que pode ser flexibilizada a parceiros.
Pesa a favor da estatal ainda o fato de que o artigo 4 do Decreto 7.175/2010
prevê, entre as atribuições da Telebras, entre outras coisas, "prover
infraestrutura e redes de suporte a serviços de telecomunicações prestados por
empresas privadas, Estados, Distrito Federal, Municípios e entidades sem fins
lucrativo".
Tem que se pagar
A Telebras, com o novo plano estratégico para SGDC, está trabalhando com uma
abordagem completamente diferente da que vinha sendo trabalhada no governo Dilma:
o satélite precisa dar dinheiro, assegurar lucratividade à Telebras, e para isso
precisa se aliar a parceiros. A possibilidade de abrir as portas das vendas
governamentais a quem comprar os lotes em licitação, especialmente o lote 1, é
um dos chamarizes que a estatal está usando.
A outra é a cobertura nacional, que nenhum outro satélite hoje oferece, aliada a
uma rede terrestre em fibra que interliga os cinco gateways que darão suporte às
operações do SGDC. A rede terrestre, segundo apurou este noticiário, está sendo
reforçada para garantir os níveis de redundância em todos os gateways.
Business plan
O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação foi contratado em 2013, mas
nunca teve um plano de negócios muito claro definido. Ou, pelo menos, a Telebras
nunca deu detalhes sobre este plano de maneira pública. O uso que seria dado ao
satélite variava a depender do ministro na ocasião, e do executivo no comando da
Telebras.
Fato é que apenas no começo de 2017 o primeiro plano, elaborado pela FGV, foi
aprovado pelo conselho. A íntegra do plano segue sigilosa, mas a estratégia de
colocar a maior parte da capacidade do satélite para leilão e oferecê-lo a
parceiros privados é parte desta abordagem. Segundo fontes ouvidas por este
noticiário, seria a única forma de viabilizar o projeto sem depender de mais
recursos do Governo Federal. Na verdade, os aportes não terminaram: até aqui o
governo efetivamente desembolsou R$ 1,7 bilhões, mas terá que gastar mais R$ 400
milhões nas próximas etapas do projeto. No final, o SGDC terá custado aos cofres
públicos R$ 2,1 bilhões, e é esse investimento, mais os custos operacionais, que
a Telebras precisa agora recuperar. Parte do investimento (30%) virá das
receitas dos serviços militares, já asseguradas. O resto terá que vir do
mercado.
O governo não quer mais colocar recursos com a Telebras e traçou a diretriz de
que a operadora estatal precisa ser sustentável sem depender de orçamento de
políticas públicas. Para ser sustentável, a Telebras vai, portanto, competir no
mercado privado de capacidade de satélite.
Quem virá
O governo aposta que o leilão de capacidade do SGDC atrairá o interesse de
grandes operadoras de banda larga residencial, como uma Viasat (que nos EUA
concorre com a Hughes) ou em uma grande tele sem cobertura nacional de banda
larga. Nessa categoria se enquadrariam Sky, Telefônica e TIM. Também se
aposta-se no interesse de grandes usuários de telecomunicações, mas como a venda
está sendo feita em grandes lotes, é improvável que um cliente final compre
sozinho a capacidade.
Uma das críticas que se faz à Telebras é que ela estaria, ao buscar parceiros
privados, abrindo mão do atendimento aos objetivos do Plano Nacional de Banda
Larga. Contra este argumento está o fato de que o edital colocado em consulta
mostra que a Telebras terá controle sobre os serviços ofertados por seus
parceiros. Isso porque caso a estatal perceba que existe capacidade disponível
em alguma região e o parceiro não está dando atendimento adequado (por exemplo,
deixando de oferecer backhaul a algum provedor em uma região distante) a
Telebras pode executar a garantia dada no leilão e ela mesma utilizar a
capacidade do SGDC para atender àquela demanda.
Essa proteção para o cumprimento das políticas públicas, por outro lado, é um
dos aspectos que está causando desconfiança entre potenciais interessados.
Ninguém quer ter a obrigação de atender a determinada região ou determinado tipo
de cliente, pois ainda que a cobertura do satélite esteja lá, o custo de
investimento nas estações V-SAT e, principalmente, o custo de operação, podem
tornar o atendimento deficitário.
De qualquer forma, todos os compradores de todos os lotes do SGDC terão
cobertura nacional, em todos os feixes do satélite (fora os oceânicos), e a
Telebras assegura que ela manterá o controle desses feixes, podendo utilizá-los
se achar que os parceiros comerciais não estão utilizando como deveriam.
O momento é de intensa movimentação no mercado de satélites, todos fazendo as
contas para saber se o modelo proposto pela Telebras é comercialmente viável. De
outro lado, a Telebras conta com os seus diferenciais para tornar o leilão um
sucesso e assim conseguir viabilizar recursos para o cumprimento de suas
obrigações. O jogo começa com o lançamento do satélite, dia 21 deste mês, e
posteriormente com o leilão da capacidade do satélite, que deve acontecer em
abril.
(Esta nota foi alterada para deixar claro que a Telebras não está usando
diretamente os poderes dados pelo Decreto 8.135/2013 para limitara atuação das
empresas privadas no uso do SGDC)