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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[20/03/7]
“Pelo menos três grupos estão interessados no leilão do satélite" prevê diretor
da Telebras - por Miriam Aquino
O diretor de operações da Telebras, Jarbas Valente, afirma que a capacidade do
satélite reservada à Telebras irá possibilitar a empresa a conectar 2 mil
cidades brasileiras além das escolas, postos de saúde e segurança. E prevê o
interesse de pelo menos três grupos privados na compra da capacidade restante.
Entrevista
Jarbas Valente:
Antes de falar do edital, vou falar como eu peguei a Telebras. Sou amigo
particular do Jorge Bittar (ex-presidente da Telebras). Ele abriu portas, mas
efetivamente não conseguiu fechar nenhum grande contrato. Por que? Porque a
estrutura da Telebras não permitia. Quer dizer, tem que ter uma proposta
técnica, aí quando você mandava o histórico da empresa a Telebras só entregava
entre 9 a 12 circuitos por mês sendo que tinha que efetivar mais de 15 por dia.
Tele.Síntese: E por que não estava ativando?
Jarbas Valente:
O governo investiu R$ 540 milhões na rede terrestre até 2012 e aí cortou o
dinheiro. A Telebras pedia R$ 600 mil e mandava R$ 9 mil. Se não tiver uma rede
embaixo, não consegue dar vazão ao tráfego. Quando chegamos aqui, tínhamos só
450 circuitos ativados. Isso na rede toda. Então,tivemos que rentabilizar a
rede. Para botar um satélite se pensa muito na compra das antenas, comprar banda
base, comprar as estações VSat. Mas e a infraestrutura para viabilizar isso? E
fomos construir essa infraestrutura.
Tele.Síntese – O edital do satélite é preço sigiloso. Por que?
Jarbas Valente:
Na Anatel a gente botava o preço mínimo explícito. E nesse mundo aqui é
diferente. A gente não quer que haja nenhum tipo de acordo.
Tele.Síntese – Pensei que fosse para maximizar o preço.
Jarbas Valente:
Não. Maximizar o preço são os 70% na diferença do preço para o repique, que está
na proposta do edital
Tele.Síntese: A sua expectativa é de quantas empresas na disputa?
Jarbas Valente:
Pelo menos uns três grandes grupos disputando. Pode ser mais.
Tele.Síntese:
O lote Telebras vai ser responsável pelo PNBL?
Jarbas Valente:
PNBL de governo, diretamente. E tem o PNBL para os provedores, que também é com
a gente.
Tele.Síntese: Mas não tem metas para os demais lotes?
Jarbas Valente:
Quem tem que fazer isso é o ministério, a Anatel. Isso não cabe à Telebras. A
Telebras é uma empresa de economia mista.
Tele.Síntese: Mas é a Telebras que está vendendo a capacidade. A empresa poderia
falar: vou vender a capacidade, mas você que comprar terá que atender X pessoas
no Brasil. E aí ele colocaria no plano de negócios dele.
Jarbas Valente:
Pode ser que ele nem saiba aonde você está e quanto você tem. Porque, primeiro,
nós estamos obrigando a empresa a garantir a cobertura.
Tele.Síntese: Mas isso não precisa, porque o satélite é nacional.
Jarbas Valente:
Mas quem investe é a empresa. Isso é uma grana preta. O investimento é deles
para poder garantir iluminação. Além de você ter que pagar para entrar, tem que
atender quem está naquele local.
Tele.Síntese: Ele não tem que atender nada, ele só tem que iluminar.
Jarbas Valente:
Ele tem que atender. Está escrito no edital. Se tiver algum tipo de manifestação
que ele não quis atender por algum motivo, eu assumo e eu atendo. Eu posso fazer
swap, ele vai ter as penalidades cabíveis. Podemos executar garantias. Um monte
de coisas.
Tele.Síntese : O TCU vai opinar previamente sobre o edital?
Jarbas Valente:
Ele está com a gente direto. O TCU exigiu tudo: tem que ter plano de negócio,
tem que definir preço mínimo.
Tele.Síntese: Esse modelo da venda dos lotes já foi apresentado para o TCU, e
ele já liberou?
Jarbas Valente:
Se ele não tivesse liberado, a gente não estava fazendo. Não manifestaram nada
contra. Nem o governo. Não dá para fazer um atendimento que a gente não tem
condições de atender. Imagina se eu fosse atender 500 mil pontos? Qual o tamanho
do call center que eu tenho que ter? Quantidade de pessoas para trabalhar
emitindo contas, entregando contas? Quem faz varejo são as pessoas que hoje em
dia compram a minha rede. O único varejo direto que eu tenho é com o governo,
como Dataprev, Anatel, INTT. Nós temos certeza absoluta que esse tipo de modelo
implementado na licitação vai dar certo, pois a demanda é gigantesca. Empresas
de satélites que estão vindo para o Brasil, por que tem uma demanda gigantesca
não atendida.
Tele.Síntese: Mas o PNBL estabelece que a Telebras deveria atuar nos lugares
onde não haveria interesse do mercado.
Jarbas Valente:
Se fosse assim, não teria sido construído o satélite com feixes no Brasil todo,
cobrindo Norte, Sul, Leste e Oeste com a mesma qualidade. Nós podemos vender em
tudo qualquer lugar, no bom e no ruim.
Tele.Síntese: Mas quem tem o lucro como premissa não vai vender no ruim.
Jarbas Valente:
Lógico que vai vender. Tem demanda.
Tele.Síntese: Tem demanda, mas não tem renda. E para isso que existe o PNBL, não
é?
Jarbas Valente:
Me mostra um PNBL que tem valor definido pela Anatel, pelo ministério ou
qualquer governo do Brasil? Não existe. Somente com a troca do PGMU é que foi
estabelecido um preço mínimo para a banda larga, e não chegou a ser executado
por ninguém.
Tele.Síntese: Mas as concessionárias que trocaram as metas do PGMU não são
Telebras. O satélite da Telebras custou 2 bilhões do povo brasileiro.
Jarbas Valente:
O povo brasileiro não pegou o dinheiro e mandou jogar fora. Eu quero fazer desse
satélite outro satélite para ampliar a capacidade do povo brasileiro usar, senão
morria de uma vez só. O Brasil em crise, que não tem de onde tirar dinheiro, eu
vou rentabilizar o projeto para atender o cidadão com serviço de qualidade.
Como? Com parceiros que tenham essa capacidade no mundo.
Tele.Síntese: A dúvida é a seguinte: Você esta apostando que o mercado vai
chegar. O PNBL foi criado justamente porque acredita que o mercado não chega.
Não é contraditório?
Jarbas Valente:
Não. Primeiro não é que o mercado não vai chegar. Tem que atender. Se tem 5 mil
residências que ele vai vender, ele atendeu o que ninguém estava atendendo.
Tele.Síntese: Você acha possível mudar o tamanho do lotes no final?
Jarbas Valente:
Vai depender muito das manifestações, principalmente dos governos estaduais e
municipais
Tele.Síntese: A Telebras vai atender também os governos estaduais e municipais?
Jarbas Valente:
Vai. Só nós.
Tele.Síntese: Mas isso não é claramente para o atendimento do mercado privado?
Jarbas Valente:
Vamos chegar no município que não tem backhaul. Só nós para levarmos lá a rede e
botar WiFi social.
Tele.Síntese: Você já tem o numero de cidades que a Telebras vai atender?
Jarbas Valente:
Pelo menos 2 mil que hoje não tem backhaul.
Tele.Síntese: Em quanto tempo?
Jarbas Valente:
Vai depender das aplicações do governo federal, que vai levar educação, saúde,
segurança. E as prefeituras vão usar para os seus órgãos e o estado vai usar
para os seus órgãos estaduais. É gigantesca a demanda, por isso botamos esse
tamanho de banda Ka para atender aos governos.
Tele.Síntese: Vocês tiveram que informar para a Anatel a modelagem do satélite,
já que a licença foi concedida sem licitação?
Jarbas Valente:
Não. Não precisa. Havia três princípios que estamos cumprindo. Primeiro que eu
tinha que fazer a PNBL. Já estou fazendo, inclusive o WiFi para os municípios,
que não tinha previsão de ter. Segundo, governo. Terceiro, atender as Forças
Armadas. Nós vamos atender absolutamente esses três. A gente viabilizou o modelo
que não tinha condições de ser viabilizado, só com mais recursos do Estado.
Atende a população que tem condições e vai pagar para ter a banda larga e atende
a população que não tem condições, e vai ter acesso do mesmo jeito. Viabilizo
todas as aplicações do governo, dos militares e mais, ainda tenho condições de
não deixar o projeto morrer, e já pensar no próximo satélite.
Tele.Síntese: Quanto a Telebras vai ganhar com esse leilão?
Jarbas Valente:
Cada empresa que assinar o contrato dos lotes 1,2 e 3 pagará 10% do preço
ofertado. Eu precisava disso para poder usar a banda básica e comprar as
estações VSat.
Tele.Síntese: Tinha entendido que a empresa que ganhar o lote 1, o lote maior,
iria fornecer essa infraestrutura à Telebras.
Jarbas Valente:
Não. Eu vou comprar a capacidade dele, vou comprar as VSats, que vão ser dele. E
a empresa vai instalar e manter na rua.
Tele.Síntese – Por que a capacidade destinada para o lote Telebras é a menor
delas de todo o satélite?
Jarbas Valente:
Faz as contas pela velocidade, leva em conta o tempo de retardo e você vai ver
quanto se pode colocar simultaneamente. A Telebras terá 60 Gbps da banda Ka, com
100% de cobertura. Só para comparar o que isso significa, a Telefônica, com o
satélite Amazonas 3 só tem 3 Gbps na banda Ka; a Huges, com 60% de cobertura só
tem 24 Gbps na banda Ka, a Embratel, com 70% de cobertura, tem 20 Gbps na banda
Ka; a Yahasat, com 80% de cobertura, tem 15 Gpbs; e a Hispasat, com 60%, tem 15
Gbps.
Tele.Síntese – Esses operadores privados de satélite vão lançar seus satélite e
de repente têm mais um competidor?
Jarbas Valente:
Em 2020, 2021 virá um outro competidor com uma capacidade enorme. É a ViaSat,
dos Estados Unidos, o seu satélite terá 1 Terabyte.
Tele.Síntese: O atual presidente da Telebras já não foi dessa empresa?
Jarbas Valente:
Não, aquela Viasat era brasileira que tinha comprado uma operação da Telefônica.