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Leia na Fonte: Teletime
[31/10/17]
Incerteza sobre o PNBL inviabilizou leilão do satélite brasileiro - por
Samuel Possebon
O que explica o fracasso do leilão do Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicação (SGDC)? Este noticiário ouviu três grandes empresas que estudaram
seriamente o edital e tinham interesse de comprar capacidade, e ainda outras
empresas que analisaram apenas para acompanhar o leilão, pelo seu impacto no
mercado. E o ponto comum a todas as avaliações foi: incerteza sobre o Plano
Nacional de Banda Larga. De diversas maneiras, o que todos disseram é que a
obrigação de atendimento ao PNBL, sem que isso estivesse estabelecido de maneira
precisa em termos de localidades, velocidades e preços a serem oferecidos, foi o
grande fator de desestímulo.
Na avaliação de um dos interlocutores, a maior prova que esta insegurança pesou
muito mais do que o preço elevado foi o fato de não ter havido sequer um
envelope "suicida", daqueles em que há um valor muito baixo ou irrisório só para
testar o preço mínimo estabelecido. Ou seja, o risco de ganhar era maior do que
o risco de entrar com um preço muito baixo a ponto de ser inabilitado.
A avaliação corrente é a de que não havia uma equação a ser solucionada no
edital. Havia uma inequação, em que uma determinada variável (quais seriam as
obrigações) nunca ficou explicitada. Na leitura de outro interlocutor, o erro do
governo foi ter projetado um satélite de alta capacidade, com tecnologia no
estado da arte, mas tendo como meta a cobertura de 100% do território nacional
por meio de políticas públicas e depois querer jogar esse "produto" no mercado
esperando que o modelo do "filé com osso" gerasse interesse. "Se todas as
variáveis fossem conhecidas, poderia até valer, mas não foi o caso".
Algumas empresas, mesmo com esse elevado grau de incerteza fizeram as contas, e
chegaram a valores na casa de R$ 700 milhões a R$ 800 milhões para instalar os
equipamentos necessários ao lote 1 (que era maior, mas incluía a obrigação de
dar suporte às necessidades da própria Telebras). Isso por si só já seria um
fator de inviabilização do modelo. Some-se ainda o preço mínimo da capacidade
possivelmente elevado por conta do custo de construção do satélite (que
precisava ser 100% amortizado), a conta não fechava. Sabe-se que a Telebras
tentou ao máximo junto ao Tribunal de Contas da União mostrar que do custo de R$
2,8 bilhões, a parte que precisaria ser recuperada com o leilão seria de no
máximo R$ 1,5 bilhão, já que o resto seria referente à estrutura de operação,
transferência tecnológica e uso militar. Mesmo assim, R$ 1,5 bilhão é um valor
considerado caro nos padrões atuais do mercado para um satélite como o SGDC.
As necessidades de pagamento adiantado também foram um fator negativo, e outra
crítica das operadoras foi a incerteza na renovação. Não se sabia as condições
de preço que a Telebras colocaria daqui a cinco anos (quando os contratos
venceriam). Além disso, para ter o contrato renovado era necessário ter cumprido
satisfatoriamente as obrigações. De novo, a variável subjetiva de ter dado
adequado atendimento ao PNBL sobre metas e obrigações desconhecidas foi um fator
determinante. Ninguém quis arriscar montar um business plan hoje para, daqui a
cinco anos, correr o risco de perder o satélite porque o governo julgou que o
atendimento foi falho ou ter que pagar um preço mais alto.
A cobertura nacional do satélite também se mostrou muito desafiadora nos modelos
rodados pelas empresas. Quem comprasse a capacidade teria "muito mais osso do
que filé", nas palavras de um observador.
A leitura dos participantes sobre um possível plano B para a Telebras é que o
satélite, para ser utilizado em sua totalidade, precisará de subsídio público
para parte de sua capacidade, justamente porque foi desenhado para atender áreas
não-rentáveis. Existe demanda por capacidade satelital em banda Ka no mercado, e
essa demanda não é pequena. Mas todos os satélites concorrentes da Telebras
estão projetados para atender o mercado onde de fato há mercado economicamente
viável. O SGDC nasceu com outra premissa, de atender a uma política pública.