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Leia na Fonte: Telcomp
[03/04/18]
AGU leva processo da Telebras à Justiça Federal - por Ivone Santana
O processo que pede a suspensão do contrato entre a empresa de economia mista
Telebras e a americana Viasat, para exploração de satélite brasileiro, passou da
instância do Estado do Amazonas para a federal ontem, a pedido da Advocacia-
Geral da União.
A AGU argumentou que o assunto é de interesse público, pois envolve o programa
Internet para Todos e o Plano Nacional de Banda Larga, e que possíveis atrasos
na implantação do serviço podem prejudicar escolas e hospitais.
Dessa forma, o processo saiu da 14ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho de
Manaus e seguiu para a 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado do
Amazonas.
Em seu despacho, a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal, ratificou
em parte o teor da liminar da 14ª vara, agregando a ela os fundamentos para
suspender imediatamente o contrato. Para ela, trata-se de “violação dos
princípios da legalidade, moralidade, transparência e isonomia”.
A juíza fixou ainda multa diária por descumprimento em R$ 100 mil para cada
empresa (Telebras e Viasat) e suspensão do desembaraço aduaneiro ou a lacração
de todo equipamento importado pela Viasat. Além disso, determinou a apresentação
do contrato firmado entre as duas empresas, até agora mantido em sigilo.
O contrato entre a Telebras e a Viasat foi divulgado em fevereiro, autorizando a
empresa americana a explorar 100% da capacidade em banda ka do Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), da Telebras.
A americana foi contratada por R$ 663,57 milhões, para conectar 15 mil pontos de
internet no país, em 60 meses.
Como dizia estar em negociação avançada com a estatal para explorar 15% da banda
ka, a Via Direta Telecomunicações por Satélite e Internet, de Manaus, entrou com
processo na Justiça, pedindo a suspensão do contrato. O juiz Francisco Carlos
Queiroz, da 14ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho de Manaus concedeu
liminar.
Tudo começou porque houve uma licitação para contratar três empresas, em 2017,
mas a concorrência foi esvaziada por falta de interessados. Operadoras do setor
de satélite e telefonia agora querem saber quais foram as condições oferecidas à
Viasat, se foram melhores do que as do edital.
As empresas que prestam serviços por satélite, reunidas sob a entidade da
categoria, o Sindisat, e as operadoras de telecomunicações, sob o
SindiTelebrasil, estudam medidas legais para cancelar esse e outros contratos
firmados pela Telebras.
Na decisão de ontem, a juíza informou que a União protocolou petição,
manifestando seu interesse como assistente
simples, o que deslocou a competência para a Seção Judicial Federal do Amazonas.
A juíza escreveu que causa “perplexidade ao magistrado encarregado de
interpretar e aplicar a constituição […] o fato de um equipamento de
telecomunicação governamental, que envolveu gastos públicos estimados nos autos
em 4 (quatro) bilhões de reais, e denominado de ‘Satélite de Defesa
Estratégica’, ter sido entregue para uso e exploração exclusiva a uma empresa
estrangeira – a Viasat”. Para ela, somente esse fato atenta contra a
Constituição Federal.
“[…] É claramente incompatível com a independência nacional a entrega do único
satélite de defesa estratégica à empresa estrangeira”, escreveu a juíza. “Aliás,
trata-se de tragédia jurídica anunciada, consubstanciada na revelação de que a
nação brasileira será reduzida à condição de refém de empresa estrangeira”.
Procuradas, a Telebras respondeu que não comenta processos em curso, e a Viasat
não retornou o pedido de informação até o fechamento desta edição.