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Leia na Fonte: Teletime
[15/08/18]
Operadoras criticam diretamente contrato da Telebras com a Viasat - por
Bruno do Amaral
Presença constante nos debates e conversas de corredor do Congresso
Latinoamericano de Satélites, que aconteceu esta semana no Rio de Janeiro, a
parceria entre Telebras e a norte-americana Viasat protagonizou o painel sobre o
mercado brasileiro, realizado nesta quarta, 15.
Pela primeira vez, as empresas do segmento de satélites que atuam no Brasil
criticaram publicamente o acordo, que até aqui vinha sendo contestado apenas
pela associação setorial, o SindiSat, inclusive judicialmente. Elas afirmaram
que a parceria não afeta suas operações, e que a chegada de uma nova e poderosa
competidora, por si só, não é um problema, mas reclamam do que chamam de falta
de isonomia nas condições da contratação. Por sua vez, a Telebras rebate: o
processo de escolha da Viasat foi legal e totalmente transparente para órgãos de
controle, alega.
"O que queremos são oportunidades iguais para competir", defende o diretor geral
da Embratel/StarOne, Lincoln Oliveira. "Gostamos de competição, como cidadão é
bom que tenhamos alternativas; e como empresas creio que temos como contribuir e
buscar oportunidades", completa. "Competição não é e nunca foi um problema. A
palavra de ordem é isonomia, ela tem que ser mantida, as regras têm de ser as
mesmas para todos", argumenta o diretor geral da Telesat, Mauro Wajnberg. Ele
comparou a atuação da Hughes e da Yahsat, que precisaram participar do leilão ou
comprar capacidade de quem participou, com a condição em que a Viasat, que está
entrando no mercado brasileiro via parceria com a Telebrás e que terá benefícios
com o acordo sem precisar adquirir posição orbital e frequências, dizem.
Wajnberg entende que a Telebras tem como missão legítima fornecer acesso nas
condições do programa nacional de banda larga, e que isso não estaria sendo
respeitado no acordo. "Quando vejo que a Viasat vai prover serviços para avião,
eu me pergunto: isso é PNBL? Isso traduz a minha preocupação."
A Hughes chegou a pedir no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC) participação no programa Internet para Todos, mas não
conseguiu avançar nisso. Nenhuma das operadoras participantes no debate
confirmou ter feito o mesmo pedido, mas a Hispamar disse que era uma
possibilidade. "Não batemos em porta de ministério nenhum. Vamos analisar, mas
não pensamos nisso no momento", explica o chairman da companhia, Clóvis
Baptista, que revelou, contudo, também estar desenvolvendo um produto de acesso
compartilhado por WiFi para áreas carentes.
Na visão do executivo, a política pública não é a única forma de chegar em
lugares remotos. "Podemos fazer mais, as soluções existem, compete a cada
operador determinar a estratégia e de que maneira vai ajudar o Brasil a crescer
e suprir as lacunas da banda larga fixa", analisa.
O diretor geral da Eutelsat, Rodrigo Campos, afirma que o setor tem vários
exemplos de participação em políticas públicas. "O Gesac é servido por satélite
há 15 anos por esses mesmos operadores aqui", diz, citando conexões em escolas
públicas e backhaul para teles móveis cumprirem obrigações de cobertura.
Na avaliação do diretor geral da Intelsat, Márcio Brasil, há ainda a
possibilidade de o SGDC não conseguir dar conta de toda a demanda por capacidade
na região. "Enquanto em widebeam tem 'n' transponders em ampla região, no
spotbeam você acaba fatiando um pouco a cobertura. É possível que em algumas
regiões a capacidade do SGDC vai acabar primeiro, e aí vai ter que contar com
operadoras com cobertura em todo o território para continuar suprindo, porque a
demanda de tráfego vai aumentar, é um problema que com certeza vai acontecer."
O presidente da Abrasat, Fábio Alencar, indicou que o argumento do governo na
defesa do contrato da Telebras com a Viasat não teria sido técnico. "Isso foi
muito ruim para o mercado em geral. Acho que o satélite da Telebras deveria ter
entrado na competição, isso teria ajudado a otimizar o preço", afirma. No
entendimento dele, a estatal "faz mal ao próprio governo, que está obrigado a
comprar simplesmente por ser governo". Sustenta também que o mercado já tinha
players dispostos a atuar da mesma forma que a norte-americana. "Não pode nunca
assumir que outros não são competitivos."
Ao serem questionados sobre as razões pelas quais nenhuma daquelas empresas,
assim como a Viasat, entrou no chamamento público para a comercialização do SGDC,
Lincoln Oliveira, da Star One, disse que é porque os termos do leilão não eram
considerados razoáveis.
Defesa
Em manifestação da plateia, o gerente de tecnologia e soluções satelitais da
Telebras, Bruno Soares Henriques, defendeu a empresa ressaltando a importância
do setor e da iniciativa em parceria com a Viasat para a universalização da
banda larga no País. "O processo de contratação com a Viasat foi de forma
totalmente legal e transparente para os órgão de controle", alega. Ele defendeu
que esta foi a solução mais eficiente para conseguir atender às necessidades do
PNBL e das políticas públicas. "Nós, como gestores executivos e pessoas atuantes
no mercado de satélites, temos responsabilidade de levar internet para
desconectados. Não adianta falar que não dá porque tem que ir de barco, tem que
levar", disse, em referência à afirmação do executivo da Star One de que um dos
grandes desafios de se levar a banda larga a todo o Brasil, mesmo que via
satélite, são as imensas dificuldades logísticas, como na região Amazônica.
Bruno Henriques defendeu enfaticamente que a transação foi realizada em
conformidade com a Lei das Estatais, e que se existe alguma discordância, ou
mesmo em relação à recriação da estatal e ao PNBL, os questionamentos deveriam
ser direcionados à legislação em si. "Se competição é tão saudável assim, então
tem de aceitar a chegada da Viasat". Sobre a oferta do Gesac, que até então
vinha sendo oferecida pelas empresas privadas ao MCTIC, Henriques lembrou que a
Telebras ofereceu a condição de um ponto do Gesac a R$ 700 por 10 Mbps, sem
franquia, "o que ninguém se dispôs a fazer até agora", afirmou. Ressaltou também
a necessidade de urgência no início da operação do satélite, impedido pelos
questionamentos judiciais.
Henriques disse que se houve alguma falha em todo o processo, foi a estatal não
ter realizado a divulgação mais ampla da parceria logo que ela foi anunciada. "A
gente demorou a comunicar e causou animosidade no mercado", finalizou. Ele disse
que o projeto do SGDC existe praticamente desde a recriação da Estatal, que
passou por diferentes projetos políticos e que precisava encontrar uma forma de
se viabilizar e atender ao seu propósito. "O satélite ajuda sim a reduzir a
desigualdade digital", insistiu, em referência o tema do "Tratado de
Tordesilhas" tecnológico, em que a maior parte da oferta de conectividade está
restrita à região litorânea, com pouca estrutura disponível no interior do país
.
Outro aspecto colocado no debate é sobre o que poderia ser feito
alternativamente, considerando-se que o satélite consumiu investimentos de R$ 3
bilhões e que, após lançado, a cada dia sem uso perde valor. Os participantes do
debate concordaram que o satélite é um patrimônio público e que, portanto, deve
ser bem utilizado. Insistem que a Telebras deveria ter dado as mesmas condições
para todos os players mesmo após o chamamento público, e destacam que o governo
precisa pensar em políticas públicas que contemplem o satélite. (Colaborou
Samuel Possebon)