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Leia na Fonte: Teletime
[02/02/18]
Desafios
para 2018 - por Aníbal Diniz (vice-presidente da Anatel)
* Aníbal Diniz, 55, foi Senador pelo Acre e hoje é conselheiro e
vice-presidente da Anatel.
Recebi, no final de 2017, a honrosa incumbência de substituir eventualmente o
conselheiro Juarez Quadros do Nascimento na presidência da Agência Nacional de
Telecomunicações – Anatel. Entendo que essa nova missão, conferida pela
unanimidade de meus pares, coroa a postura colaborativa que tenho adotado na
busca das soluções mais adequadas para as questões importantes que dizem
respeito ao setor e que impactam diretamente na vida das pessoas que cada vez
mais dependem das telecomunicações no seu dia-a-dia.
A Anatel foi criada nos idos de 1997 com uma visão futurística e inovadora.
Nessa trajetória de vinte anos de incontáveis conquistas, a agência mantém sua
missão perene de guardar a governança da regulação do setor de telecomunicações,
que se renova a uma velocidade de difícil acompanhamento. Não há dúvida de que a
essencialidade de 20 anos atrás, a telefonia fixa, foi sendo superada por outras
tecnologias e acabou dando lugar ao mundo digital. A demanda por internet em
banda larga fixa e móvel para a recepção e transmissão de dados a velocidades
cada vez maiores é o grande desafio do momento.
Avançamos na expansão das redes móveis com a adoção dos compromissos de
abrangência nos últimos leilões de radiofrequência, que possibilitaram a chegada
do 3G a praticamente todos os municípios, a maior parte deles hoje cobertos
também pela tecnologia 4G. Mas ainda existem falhas de cobertura pelas quais as
operadoras são frequentemente cobradas e sancionadas. Alteramos o regulamento do
Serviço de Comunicação Multimídia para que os provedores com até 5 mil
assinantes sejam dispensados de autorização e apenas comuniquem à Anatel onde
estão prestando serviço. O Plano Geral de Metas de Competição, que é instrumento
fundamental para o desenvolvimento e competitividade do setor, também está sendo
revisado. E no fechamento de 2017 houve a aprovação do Plano de Recuperação
Judicial da Oi, que teve acompanhamento preciso tanto da área técnica quando do
conselho diretor da Anatel, sempre com absoluto zelo pelo interesse público.
É certo que 2018 será um ano atropelado pela fervura do calendário eleitoral,
tanto no plano nacional quanto nos estados, e pela euforia da Copa do Mundo na
Rússia, onde a seleção do técnico Tite busca a superação do trauma vivido em
2014 no Brasil. O mês de janeiro já passou, mas há quem diga que só a aprovação
das novas diretrizes no caso Martiniano, atinente ao tema da reversibilidade,
ocorrida na primeira reunião do conselho diretor, a partir do voto aglutinador
do presidente Juarez Quadros, garantiu por antecipação o sucesso do ano
regulatório. Além de afastar as diretrizes que apontavam para a tese
patrimonialista, o acórdão prevê para 2018 tanto a consulta pública quanto a
deliberação final sobre o regulamento de controle de bens reversíveis,
ansiosamente aguardado pelas concessionárias do setor.
Muitos outros assuntos regulatórios terão atenção especial em 2018, alguns deles
sob a nossa relatoria. Já no primeiro trimestre planejamos levar à consulta
pública o Regulamento de Fiscalização Regulatória, que mudará de forma
significativa a fiscalização e o sancionamento setorial. Será um marco para a
atuação da agência, uma vez que abrirá horizontes para uma atuação responsiva,
onde a correção de uma infração em benefício da sociedade terá absoluta
prioridade.
O novo regimento interno proporcionará atuação mais célere e eficiente. Também
entregaremos o Centro de Altos Estudos em Telecomunicações – Ceatel, que já foi
submetido à consulta pública e, quando implantado, oportunizará espaço de
aprimoramento para todo o quadro funcional e pode se constituir numa referência
em estudos regulatórios em telecomunicações no futuro. O Regulamento Geral de
Interconexão – RGI também se constitui em um importante item da nossa agenda e
será fundamental para facilitar e ampliar negócios entre as prestadoras,
aproveitando a evolução tecnológica para reduzir custos.
Além dos temas constantes da agenda regulatória, considero imprescindível que
haja um esforço coordenado para a revisão do modelo de concessão do STFC, que é
a popular telefonia fixa prestada em regime público, cujas obrigações de
universalização continuam impondo severas restrições às operadoras
concessionárias. As pessoas em todas as regiões do país clamam por banda larga
fixa e móvel, e o órgão regulador tem o poder-dever de propor ao Poder Executivo
uma política pública compatível com os anseios da atualidade. Nesse sentido é
que estamos conduzindo o relatório do Plano Estrutural de Redes de
Telecomunicações – PERT, que terá três missões estratégicas: identificar a
infraestrutura existente; apontar as áreas mais deficientes para onde as
políticas públicas devem ser direcionadas e identificar as fontes de recursos
para financiar os projetos, encontrando uma forma legal de usar os fundos para o
desenvolvimento e universalização das telecomunicações que o setor arrecada.
Há temas como o uso eficiente do espectro com a definição da faixa que será
destinada à tecnologia 5G, a internet das coisas (IOT), que cada vez mais
ocupará espaços nos fóruns setoriais daqui para frente. O leilão da sobra de
espectro da faixa de 700 MHZ, que está sendo preparado pela área técnica e já
anunciado pelo presidente Quadros constitui-se em agenda positiva e mobilizadora
do setor. Mas teremos que nos dedicar à busca de medidas regulatórias e
legislativas para o pleno desenvolvimento da internet das coisas no Brasil, uma
vez que os milhões ou bilhões de dispositivos inteligentes a serem conectados
não poderão conviver com a taxa de habilitação hoje praticada.
Vivemos num ambiente em que as mudanças ocorrem de forma cada vez mais
acelerada. O que conhecemos e a regulação que aplicamos hoje podem não fazer o
menor sentido amanhã. A Anatel precisa estar à frente no sentido de identificar
as tendências do mercado, mas, ao mesmo tempo, não pode se arriscar a aplicar
regras por antecipação porque não temos nenhuma segurança quanto às falhas de
mercado que surgirão com as novidades tecnológicas. O melhor é que o mercado
amadureça por conta própria, que os prestadores de serviços satisfaçam às
exigências sempre crescentes dos consumidores, e que o órgão regulador só atue
onde realmente se fizer necessário.
A aproximação da agência com os órgãos que cuidam de inovação e temas
correlatos, como a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI, Rede
Nacional de Pesquisa – RNP, a Telebrás, a Câmara e o Senado com suas comissões
de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática, o CPQD, o próprio MCTIC e
muitos outros órgãos públicos e entidades privadas será fundamental para que
alcancemos nossos objetivos em 2018, que passam por possibilitar as condições
para que a internet de banda larga chegue ao maior número possível de
residências e esteja acessível à maioria dos brasileiros.
É incrível como a Exposição de Motivos EMC Nº 231/MC da Lei Geral de
Telecomunicações permanece atual quanto aos desafios a serem superados:
"…A necessidade de adotar uma regulamentação que permita que as operadoras
possam reagir rapidamente aos imperativos do mercado e da evolução tecnológica,
oferecendo assim toda gama de serviços de telecomunicações exigida pela
sociedade, não significa que não se deva conferir peso adequado ao papel social
das telecomunicações. Num país como o Brasil, com grau inadequado de atendimento
à demanda, deve continuar sendo um objetivo central da política governamental a
oferta à sociedade de serviços básicos de telecomunicações em toda a extensão do
seu território, de forma não discriminatória, com atributos uniformes de
disponibilidade, acesso e conectividade, e a preços satisfatórios. De uma forma
ampla, o que se pretende é criar condições para que o progresso das tecnologias
da informação e das comunicações possa efetivamente contribuir para mudar, para
melhor, a maneira de viver das pessoas…"
É nossa responsabilidade mantermos elevado o nível das discussões em torno da
atualização do arcabouço regulatório diante das transformações que o setor de
telecomunicações vem experimentando. E o ano de 2018 pode ser um marco
importante na busca de soluções inovadoras que harmonizem o interesse do mercado
com a demanda crescente da cada vez mais exigente sociedade brasileira.