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Leia na Fonte: Teletime
[18/12/19]
Inclusão da Telebras como dependente da União pode comprometer suas atividades
- por Marcos Urupá
Com a aprovação do Projeto de Lei Orçamento 2020, na terça-feira, 17, no
Congresso Nacional, a Telebras passou a ser classificada como estatal dependente
e em 2020 integrará o Orçamento Fiscal e da Seguridade Social (OFSS), sendo
excluída do Orçamento de Investimento das Empresas Estatais. Isso significa que
a empresa deixa de ter independência de manejo do seu orçamento e passa a
constar no orçamento federal de 2020, como uma despesa a mais para o governo
arcar. Além disso, essa inclusão cria uma estrutura peculiar dentro da
administração pública que pode comprometer as atividades da empresa. Pelo
orçamento aprovado, está previsto na Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) o
valor de R$ 743 milhões para a estatal, alocados dentro do orçamento do
Ministério de Ciência, Tecnologia e Comunicações, pasta responsável pela
empresa.
Para o relator desta área temática na PLOA, deputado André Figueiredo (PDT-CE),
a decisão de incluir a empresa como estatal dependente partiu das observações
apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no Acórdão 937/2019-TCU –
Plenário, no âmbito do TC 007.142/2018-8, em que o órgão analisou a situação de
dependência (ou não), em relação à União, das empresas estatais federais
consideradas como não dependentes, além dos impactos nas contas públicas. Os
resultados observados pelo TCU foram no sentido da existência de empresas
estatais formalmente classificadas como não dependentes, mas com dificuldade de
desempenhar suas atribuições e honrar seus compromissos. O órgão recomendou ao
Executivo uma análise sobre a Telebras, observando o disposto no art. 2º, inciso
III, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
"Pela LFR, deve ser considerada como empresa estatal dependente a empresa
controlada que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de
despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no último
caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária. Dada a exclusão
da Telebras do Orçamento de Investimento e a sua inclusão no Orçamento Fiscal e
da Seguridade Social, aduz-se que o Poder Executivo, com base nos apontamentos
do TCU e nos próprios levantamentos efetuados, passou a considerar a Telebras
como empresa estatal dependente", diz o deputado.
Os problemas de colocar a Telebras como dependente da União
A inclusão da empresa como uma empresa dependente da União traz uma série de
problemas, na visão do parlamentar, que foi também Ministro das Comunicações do
governo Dilma Rousseff. O primeiro deles, é a criação de uma situação inusitada
dentro da administração pública. Ocorre que a Telebras é uma empresa estatal
federal constituída sob a forma de sociedade de economia mista com capital
aberto à negociação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). André Figueiredo
ressalta que a transferência para o Orçamento Fiscal e de Seguridade Social
(OFSS), sem que haja o prévio fechamento de capital e concentração das ações na
titularidade da União, cria uma situação peculiar no setor público. "Isso porque
ao permanecer com capital aberto, a empresa, que detém em sua composição capital
privado, receberá recursos públicos que beneficiarão os acionistas privados, sem
qualquer contrapartida definida", diz o parlamentar.
A este noticiário, o deputado disse ainda que "tornar a empresa dependente,
antes de fechar o capital (estimado a um custo de R$ 1 bilhão e que não tem
previsão orçamentária), traz um enorme risco de questionamentos sobre possível
abuso de poder por parte da União (Lei nº 6.404/76, art. 117, § 1º, "c"), e pode
incorrer em imensuráveis ações judiciais dos acionistas minoritários, além de
outros problemas junto a CVM".
Figueiredo segue ainda afirmando que a classificação da Telebras como dependente
da União traz ritos burocráticos típicos da administração pública direta como,
por exemplo, movimentar seus recursos na Conta Única da União e utilizar o SIAFI
como meio de operacionalização de todas as suas receitas e despesas, dentre
outros. "A caracterização como empresa dependente ainda trará a obrigação de
cumprir todas as regras orçamentárias, dificultando a atuação da empresa com a
eficiência requerida das empresas jurídicas de direito privado com fins
lucrativos", pondera.
Isso envolve, por exemplo, a atividade fim da empresa. "Como agente executor dos
objetivos das Políticas Públicas de Telecomunicações que sucedeu o PNBL, a
Telebras poderá ser limitada aos contingenciamento de recursos, às limitações
orçamentárias como o teto de gastos, e a falta de flexibilidade administrativa
que amarrará completamente as operações da empresa. Tanto que no relatório que
fiz, recomendei que a empresa continuasse figurando no Orçamento de Investimento
das Empresas Estatais e não no OFSS", disse o parlamentar.
Adaptação
Em fato relevante divulgado nesta quarta, 18, a Telebras informou sobre a
reclassificação e ressaltou que procura se adequar. A empresa diz que desde
agosto, quando o governo comunicou a inclusão no OFSS, a companhia "realiza
ações próprias, em conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações e com outros órgãos da União objetivando atender as necessidades de
adaptação de seus processos internos, em especial os processos contábeis,
financeiros, orçamentários e patrimoniais envolvidos com o intuito de
identificar os impactos decorrentes".
Privatização
Na opinião do advogado e diretor da empresa de consultoria de telecomunicações
Grupo Avanzi, Dane Avanzi, esse processo de reclassificação da estatal pode ser
enxergado como uma etapa preparatória para a privatização. Ele justifica que
isso seria um movimento acertado (assim como as teles já têm dito há algum
tempo), uma vez que "operar um sistema extremamente grande e complexo de modo a
garantir níveis razoáveis de qualidade demanda o expertise da iniciativa
privada, por possuir metodologias, visão e práticas comerciais diferentes da
administração da res pública". Ele reconhece que há questões complexas, como a
infraestrutura terrestre e a capacidade satelital para as Forças Armadas do
SGDC-1, mas que, "como cidadão, vê com bons olhos" uma possível desestatização.
"A Telebras tem hoje nas mãos uma máquina que não foi projetada para gerar
dinheiro e para o consumidor final, o Estado não tem essa expertise", opina.
(Colaborou Bruno do Amaral)