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Coluna Circuito de Cristina de Luca - Convergência Digital
[06/04/09]
TV Digital: Que Ginga? - por Cristina de
Luca
Esta segunda-feira, 06/04, é um dia importante para o Fórum SBTVD e o futuro
do mercado de TV Digital no Brasil. Pela primeira vez desde que foi criado,
o Fórum poderá tomar uma decisão sem consenso, por voto. Na pauta, a
especificação do middleware Ginga para receptores fixos e televisores com
receptores embutidos. E, ironia das ironias, para decidir que Ginga teremos,
o Fórum precisará mostrar toda a sua 'ginga'.
Passados quinze dias da última reunião do Conselho Deliberativo, ninguém
arrisca um palpite. "Pode ser a reunião mais rápida ou a mais longa da
história do SBTVD". "Tudo pode acontecer". "As opniões continuam muito
divididas", formam as frases mais ouvidas nos últimos dias.
Uma coisa é certa. Se realmente tomada hoje _ como espera a maioria e deseja
o Conselho Deliberativo, formado por treze conselheiros dos setores de
Recepção, Radiodifusão, Software, Transmissão e sete representantes
indicados pelo Poder Executivo _ a decisão deixará ao menos um segmento
industrial feliz: o de software, que terá finalmente uma diretriz clara para
trabalhar.
Explico.
O middleware Ginga é desenvolvido em três partes: uma é o Ginga-NCL, já
definido; a outra, o Ginga-J, sobre o qual pairam as dúvidas; e a terceira,
uma camada comum a esses dois módulos, declarativo e procedural, encarregado
da comunicação entre eles, de modo a balancear o uso do melhor em termos de
performance para a aplicação interativa.
É possível ter aplicações interativas só usando o módulo NCL? É. E já
existem várias delas em teste no mercado. É inegável que a linguagem NCL,
somada à linguagem Lua _ interativa, com alto poder computacional (é sete
vezes mais eficiente em termos de utilização que o Action Script, utiizando
um espaço quarenta vezes menor) e de penetração (já é uma das linguagens
mais usadas no mundo na área de entretenimento) _ dá aos desenvolvedores
brasileiros a oportunidade de resolver de forma fácil e eficiente um
conjunto muito grande de tarefas da TV digital.
Mas é igualmente inegável que só com NCL/Lua, podemos deixar de fazer coisas
de forma tão eficiente quanto Java faz. Por quê? Porque o Java dá conta de
tarefas computacionais mais complexas, como as necessárias a transações que
demandem requisitos de segurança forte.
Qual o melhor dos mundos? Ter os dois. Razão pela qual tantos defendem esse
caminho.
São maioria? Impossível prever, dizem todos os integrantes do Fórum com quem
tive a oportunidade de conversar, de diversos segmentos, software, academia,
radiodifusão, indústria de receptores, governo...
Sendo, o Conselho Deliberativo do Fórum SBTVD precisará definir, então, que
especificação de Ginga-J usar: a com GEM (Globally Executable MHP) ou a com
Java-DTV (especificação livre recém criada pela Sun)? Qual das duas abre
mais portas para o padrão brasileiro no mercado internacional? Sobretudo nos
países latino americanos, onde o lobby do padrão DVB, europeu, vem usando a
indefinição em torno da especificação do middleware Ginga para receptores
fixos e televisores como argumento contrário ao padrão nipo brasileiro? E
aí,novamente, as opiniões se dividem. Há quem advogue que a única forma de
manter o argumento "livre de royalties" para o middleware seja optar pelo
Java-DTV. E há quem acredite que a boa penetração do GEM em outros mercados
possa facilitar a disseminação do padrão nipo brasileiro em outros países.
Uma decisão o mais rápido possível aceleraria também os complexos trabalhos
de harmonização do middleware brasileiro com os diferentes padrões de
middleware existentes, e de adequação aos requisitos gerados pela
convergência tecnológica com outras redes (Internet e telefonia móvel, entre
as principais).
A guerra dos Ginga é ruim para os negócios
Considerando que o Ginga é o único componente genuinamente nacional do
"sistema nipo-brasileiro" de TV Digital, a definição da especificação que
tanta curiosidade gera em outros mercados, faria muito bem aos negócios, nos
mercados interno e externo.
Quer um bom exemplo?
Daria ainda mais brilho ao cartão de visitas do SBTVD na próxima NAB Show,
de 17 a 23 de abril, em Las Vegas, onde o Fórum SBTVD participará, este ano
com estande próprio. Segundo a assessoria de imprensa do Fórum, já estão
confirmadas a presença, no mesmo espaço, da UFPB - Universidade Federal da
Paraíba e das empresas Mopa, Telavo, Transtel Conti e EiTV. Outras empresas,
como a TQTVD e a HXD Interactive Television, também articulam a ida ao
evento.