Depois de passar os dois últimos dias tentando ouvir o Fórum SBTVD sobre os
motivos que o levou a não anunciar oficialmente a decisão do Conselho
deliberativo pelo uso do middleware fixo completo, incluindo a nova
especificação do Ginga-J, decidi publicar a entrevista feita na
terça-feira,07/04, com Paulo Riskalla, líder da área de Software OEM da Sun
Microsystems para América Latina.
Do Fórum continuei ouvindo esta semana que "nada foi decidido, ainda", "não
há sobre o que falar", "e a decisão não deve sair esta semana, só na
próxima", embora muitas fontes confirmem o contrário.
Procurei a Sun, então, para tentar entender, exatamente, o que é o Java DTV.
E tentar saber que custos sobre ele poderiam ser objeto de uma negociação
que, segundo algumas fontes, estaria atrasando o anúncio oficial do Fórum
SBTVD.
Riskalla foi didático e objetivo.
"Java DTV é um conjunto de APIs, que pode ser considerado uma única API
dentro do Ginga-J e que, funcionalmente, substitui o GEM. Sua especificação
foi criada a quatro mãos, pela Sun e um grupo definido pelo Fórum", diz. "A
especificação é, portanto, de co-propriedade da Sun e do Fórum SBTVD. O
Fórum tem a possibilidade de harmonizar a especificação com os outros
módulos do Ginga e, se quiser, fazer a implementação ou apenas determinar
que empresas o façam. O Fórum também pode definir que tipo de licença deverá
reger essa implementação", explicou.
Então, não há nenhuma cobrança da Sun para o Java DTV?
"Não há custos sobre a especificação", responde Riskalla. Pode haver
cobrança sobre uma implementação. O Fórum pode pedir que a Sun ou qualquer
outra empresa faça uma implementação de referência. Para isso há custo. Há
custo para o desenvolvimento da implementação comercial e pode haver
cobrança por ela. Mas não houve qualquer pedido do Fórum para a Sun nesse
sentido".
E a própria Sun, vai fazer uma implementação comercial da especificação Java
DTV? _ quis saber. Segundo Riskalla, isso é uma possibilidade, mas ainda não
está nos planos da companhia. O que a Sun fez foi deixar disponível para
download em seu site a versão 1.0 da especificação que foi entregue ao
Fórum. "Posso te dizer que, desde março, quando foi liberada, já tivemos um
pouco mais de 600 downloads", afirma Riskalla.
Mas se a Sun ainda não tem planos de fazer uma implementação comercial, e
submetê-la ao Java Community Process (JCP) e ao Sun Certified Programmer
(SCP) para que vire uma JCR certificada, alguma outra empresa pode fazê-lo?
"Sim. E passar a cobrar de qualquer um que faça uso da tecnologia aprovada
lá", explica Riskalla.
Sobre o quê, então, há custos na relação da Sun com o Fórum?
Riskalla explica que há cobrança sobre implementações comerciais da Sun
usadas no middleware, como a máquina virtual Java, o Java TV e o JMF. "E
posso assegurar que por termos interesse em ver o mercado brasileiro e
latino americano crescer, definimos um valor bastante agressivo,
competitivo, diferente de tudo que trabalhamos no mundo. É um valor para o
teto, que pode cair em negociações envolvendo grandes volumes. Um valor para
ajudar o mercado a decolar", explica o executivo.
Sobre esses valores, e a a possibilidade de queda deles em uma provável nova
rodada de negociação do Fórum com a Sun, Riskalla não pode falar. Mas sua
entrevista me levou a fazer outra série de perguntas para fontes do Fórum,
integrantes ou não do Conselho Deliberativo.
Que APIs integram o GEM e do MHP foram substituídas pelo Java DTV?
Saem as APIs Havi e Davic e entram inovações brasileiras como a inclusão das
APIs LWUIT, para tratamento de interface, que possibilita levar para a TV
conquistas das interfaces dos celulares como ícones que rodam, mudam de
lugar, etc.
"GEM" e "MHP" são a espinha dorsal especificações da interatividade camada
do Blu-ray, da plataforma "tru2way", e de middlwares adotados na Itália,
Coreia, e outros países europeus. O que o Brasil está propondo é uma
espeinha dorsal nova, royalty-free/open. Razão de um dos maiores argumentos
favoráveis do Java DTV é o fato do Brasil ter a oportunidade de deixar de
ser um seguidor de tecnologias, pora se tornar um propositor.
Quem propôs a renegociação de valores com a Sun?
A Eletros, representante dos fabricantes de televisores e conversores. A
Eletros sempre alimentou o desejo de ter o menor preço possível para os
componentes de software. O estranho é que componentes como a Máquina Virtual
Java não são de fornecimento exclusivo da Sun. Podem ser adquiridos de
outros fabricantes. E o próprio desenvolvedor do middleware pode fazer tudo
do zero, já que todas as APIs são públicas. Segundo algumas fontes, é
possível desenvolver um middleware do zero. E arcar apenas com os custos de
certificação, para poder usar marcas como Java, entre outras.
O Fórum SBTVD tem interesse em desenvolver uma implementação de referência
do Ginga-J com o Java DTV?
Essa possibilidade chegou a ser discutida e depois perdeu força para a
corrente que defende que o Fórum SBTVD investa no desenvolvimento de uma
suite de testes de conformidade para implementações do middleware Ginga. Até
porquê, teoricamente o projeto Ginga CDN, financiado pelo governo, deve
desenvolver uma implementação Ginga de referência e dar contibuidade às
pesquisas de novas tecnologias que possam vir a ser incorporadas ao
middleware Ginga. Um trabalho que deverá render os primeiros frutos em um
ano, no cenário mais otimista.
Perguntas ainda sem resposta
Durante toda a semana procurei confirmar com o Fórum SBTVD os motivos que
levaram ao adiamento do anúncio de escolha do Ginga-J com o Java DTV. Como o
Java DTV faz uso de APIs da implementação Java TV, onde existe cobrança de
licenciamento por parte da Sun, é bem possível que a negociação pendente com
a empresa passe por aí.
De todo modo, a opinião geral era a de que este detalhe deveria ter sido
negociado lá atrás, em março de 2008, quando da assinatura do memorando com
a Sun. E não agora.
Há quem veja nesse pedido uma manobra para voltar a atrasar todo o processo.
Definido o uso do Java DTV, o Módulo Técnico do Fórum SBTVD precisa
consolidar o trabalho de especificação do Ginga-J e submetê-la mais uma vez
à aprovação do Conselho Deliberativo. Os mais otimistas dizem que isso deve
acontecer na próxima reunião do Conselho, no dia 27 de abril, uma vez que
dia 21 é feriado e, no meio de caminho, muitos de seus membros esatrão no
NAB Show, em Las Vegas.
Caso aprovada na reunião do dia 27, a especificação do Ginga-J segue para
consulta pública na ABNT e referendo do Comitê de Desenvolvimento. Processo
que deve consumir todo o mês de maio, já que demora no mínimo 30 dias.
Resumo da ópera: dá tempo para ter conversores com middleware no mercado
antes do Natal?
Os mais otimistas dizem que sim. Os pessimistas dizem que não. E que se a
interatividade for postergarda para 2008, será muito mais complicado
defender o padrão brasileiro nos países latino americanos.