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Leia na Fonte: Blog de Orlando Barrozo
[19/01/12]
Ginga pra cá,
Ginga pra lá - por Orlando Barrozo
Há cerca de dois anos, começaram a ser lançados no Brasil os TVs com conversor
digital embutido (o chamado set-top box). Não foram propriamente um sucesso, mas
com certeza ajudaram a vender mais aparelhos. Com um TV desses e uma antena
apropriada, o usuário pode sintonizar o sinal das emissoras digitais (SBTVD) e
ter acesso a todos os serviços que, pelo cronograma previsto, seriam
incorporados ao padrão de TV brasileiro. Entre esses serviços, um dos mais
interessantes era a interatividade, ou a possibilidade de “conversar” com a
emissora através de recursos interativos. Lembro até hoje de um discurso do
ex-ministro Helio Costa anunciando o famoso Ginga, que o Brasil implantaria até
mesmo antes dos países desenvolvidos!
Pois bem, já se passaram quatro anos do lançamento do SBTVD e, embora varios
fabricantes tenham lançado TVs com interatividade, pouca gente sabe sequer que
isso existe. Com exceção de Globo e SBT, mesmo assim em horarios bem restritos,
nenhuma emissora investiu nisso. E têm elas um excelente motivo: é um
investimento que não se paga. Para ser atrativa, a interatividade exige
desenvolver software proprio, com visual agradavel. As emissoras só irão fazê-lo
se tiverem quem pague a conta, ou seja, anunciantes. Estes, por seu lado, só
investirão se acreditarem que o público aceitará a inovação e participará,
aumentando (ou pelo menos qualificando) a audiência.
E, no entanto, o governo agora quer obrigar os fabricantes de TVs a adotarem,
por decreto, a interatividade. Segundo o site Convergência Digital, será imposto
um calendario para isso, obrigando que pelo menos 30% dos TVs produzidos no país
este ano venham com set-top box; para 2013, seria exigido percentual de 60%; e
para 2014, 90%. Hoje, o total gira em torno de 10%. Diz ainda o site que a
decisão foi tomada após longas e infrutíferas negociações com a industria e
devido ao “desespero” dos desenvolvedores de software, que até agora só tiveram
prejuízos.
Vejam como é facil inverter as coisas. Quem hoje compra um TV com interatividade
(Sony e Philips informam que todos os seus modelos possuem) não tem o que
assistir. O problema, portanto, não está nos aparelhos, mas nas emissoras, que
deveriam colocar esses conteúdos no ar. E o governo, seja por incompetência ou
por não saber como pressionar as emissoras, vai em cima da industria.
Em tempo: segundo a Eletros, que representa a maioria dos fabricantes, um TV com
conversor embutido custa, em média, R$ 180 a mais. Alguém perguntou se o
consumidor quer pagar essa diferença?