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Leia na Fonte: Conv. Midiática
[03/02/14]  Governo não abandonou o Ginga - por Kiko Machado

Em matéria publicada pelo sitio Notícias da TV (clique aqui para ler), Gustavo Gindre opina que o governo abandonou o Ginga como sistema de interatividade. Afirma que devido a obrigatoriedade do Middleware vir apenas para 75% dos televisores fabricados no país em 2013 e para os 100% em 2015 "é possível dizer que o Ginga fracassou na TV aberta e com ele morreu a única tecnologia nacional de um sistema dito “nipo-brasileiro”.

Pois bem, acontece que a análise de Gindre não se baseia em fatos, mas sim em uma análise pessoal e bastante equivocada. Aliás, este erro vem se tornando um discurso comum para aqueles que propagam a morte do Ginga. E há casos de erros ainda mais grotescos, como o da coluna Peneira Fina (clique aqui para ler) do jornal O Regional, da cidade de Catanduva, que faço questão de reproduzir aqui tamanha a ignorância do comentarista:

Os programas criados pelo Governo Federal sempre causam polêmica e as opiniões são diversas. Dentre eles se destacam: Minha Casa Minha Vida, Cartão de Crédito Minha Casa Melhor, Bolsa Família, Bolsa Escola, Bolsa Leite e assim vai. Porém, agora existe o programa Brasil 4D, que instala aparelhos conversores de TV Digital na casa de famílias carentes. Em 2013, foram instalados 100 equipamentos em João Pessoa, na Paraíba. O próximo passo será realizado no Distrito Federal, no qual 300 famílias serão beneficiadas partir do dia 15 de fevereiro. Não sabia que a política de ‘pão e circo’ havia voltado, pois agora está tudo completo. Dá onde morar, dá o que comer, o de beber e a diversão. Pra que trabalhar? Pelo menos, vamos ver se assistindo TV muitos param de fazer filhos para aumentar o valor recebido por meio dos programas do Governo.*

Não, caro leitor, não é para rir. Há jornalistas (a coluna Peneira Fina não é assinada na versão digital do jornal) que lidam com esta iniciativa do governo de forma tão banal. É uma pena que muitos prefiram informar os brasileiros de forma tão irresponsável. O governo federal vem sim investindo no Ginga como sistema interativo para a TV aberta. Atualmente, dois programas estão em andamento.

BRASIL 4D

O projeto Brasil 4D é uma iniciativa do governo que irá permitir ao cidadão usar a televisão para acessar benefícios e serviços dos governo federal e dos municípios onde o sistema estiver disponível. Será possível fazer consultas a vagas de emprego, oportunidades de capacitação profissional; ter acesso ao calendário de vacinação, além de acessar conteúdos e serviços bancários e de aposentadoria. 300 famílias do Distrito federal serão beneficiadas nesta fase.

Um teste anterior fora feito em João Pessoa, com 100 famílias. Dentre os resultados foi observado uma economia de R$ 12, por família, que utilizaram os serviços oferecidos pelo sistema. Segundo o coordenador e idealizador do Projeto Brasil 4D, o superintendente de Suporte da EBC, André Barbosa, "as famílias economizaram por não ter que pegar ônibus e ir até os lugares para procurar emprego ou capacitação, conseguir informações. Fizeram tudo pela TV", explica***. Ele calcula que, quando o projeto estiver em vigor, a economia possa chegar, em dez anos, a um total de R$ 7 bilhões. A intenção do projeto é levar os benefícios da internet a famílias de baixa renda que ainda não têm acesso à banda larga. Comparar o Brasil 4D a qualquer tipo de programa de transferência de renda como cita a coluna Peneira Fina e um erro grosseiro. E sinal claro de que quem escreveu a matéria nem se quer leu as informações básicas do que é o programa. São parceiros do programa empresas como o Banco do Brasil, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Caixa Econômica Federal, o DataSUS, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), HMATV, Oi, a Telebras e a Totvs, que forneceu os set-top-box para recepção da interatividade via Ginga.

GINGA LABS.

O MiniCom lançou, em dezembro de 2012, o Programa de Estímulo ao Desenvolvimento do Padrão Nacional de Interatividade da Televisão Digital Brasileira – Programa Ginga Brasil. Com a parceria da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), e apoio da PUC-Rio e da Universidade Federal da Paraíba, o programa prevê ações de capacitação de profissionais, além da criação e difusão de aplicativos de interatividade.

Uma dessas ações é o Ginga BR.Labs, projeto que selecionou 10 emissoras públicas para receberem laboratórios de testes de conteúdos e aplicações interativas de TV Digital. Além disso, vem capacitando 40 técnicos, produtores ou diretores das entidades selecionadas no uso e desenvolvimento de aplicações e conteúdos interativos baseados no Ginga.

TV PÚBLICA X TV PRIVADA

O erro comum, que citei acima está na avaliação equivocada do que o Ginga deveria ser. E esta é uma questão muito debatida e que ainda gera estranhamento de que algumas pessoas ainda o cometam. Desde o princípio da TV digital no Brasil, mesmo anterior à escolha do padrão e etc., a TV digital brasileira teve seu caminho traçado para a favorecer a inclusão digital. A introdução do Ginga não foi uma escolha tecnológica apenas, mas sim, um meio para a televisão pudesse ser utilizada como meio universalizador de informações e serviços para aqueles que a internet seja um item caro demais ou impossível de se ter, devido a localização. Nunca o governo federal prometeu que o Ginga seria utilizado pelas emissoras privadas. Como a televisão no Brasil é uma concessão de um serviço público, ele determinou as normas e padrões da TV digital, mas nunca foi afirma do de que este sistema deveria ser adotado pela radiodifusão brasileira.

Portanto, o Ginga é uma decisão política. Uma ação do governo para incluir pessoas que não tem acesso a internet. A banda larga vem tendo um crescimento muito favorável no país. Levantamento da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) registrou 133,7 milhões de acessos à internet em banda larga, em 2013, o que equivale a crescimento de 55% no ano**. Contudo, aumento impulsionado pela banda larga móvel está nas redes 3G e 4G, responsáveis por 111,4 milhões de conexões. Smartphones ou tabletes capazes de permitir a nevegaçao eficiente em sites e realização de serviços são mais caros do que os set-top-box disponíveis atualmente. Além disso, o celular é um item pessoal, diferente da TV interativa que pode ser utilizado por toda a família.

Ainda de acordo com a Telebrasil a expansão também se deu com a ativação de 191 novos municípios em 2013. Ao todo, as redes de terceira geração estão instaladas em 3.476 municípios, onde moram 90% dos brasileiros.

Então cabe a pergunta: e os demais? E o restante da população que não é atendida pela expansão da internet banda larga no Brasil? São para estas pessoas que a TV interativa via Ginga irá ser relevante.

Portanto, é mentirosa a informação de que o Brasil abandonou o Ginga. Pelo contrário, está implantando ações efetivas para a popularização dos serviços e conteúdo interativo por meio das emissoras públicas e abertas. É uma pena que as opiniões publicadas sejam repercutidas pela imprensa sem nenhuma confirmação ou consulta ao "outro lado". Regra simples do bom jornalismo.