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Fonte: Blog de Orlando Barrozo
[29/01/14]
TV digital
acaba com o Ginga - por Orlando Barrozo
“TV nipo-japonesa”: é como se refere o jornalista Gustavo Gindre ao padrão da
televisão digital brasileira (SBTVD), derivado do japonês ISDB-T. Num belo
artigo publicado esta semana no também excelente blog Notícias da TV, Gindre
afirma que acaba de ser eliminado o único traço de brasilidade existente no
padrão: o middleware Ginga, que permite recursos de interatividade pela TV. O
governo federal, único que poderia obrigar a implantação, simplesmente desistiu.
Foram demais as pressões das emissoras abertas, essas capitanias que controlam
tudo no bilionário mercado brasileiro de televisão.
A notícia não chega a ser propriamente nova. Comentamos sobre isso aqui algumas
vezes, a última delas em fevereiro de 2012. Estava claro então que o Ginga era,
na prática, uma enganação. Ou, explicando melhor, uma forma (capenga, é verdade)
de justificar a adoção do padrão japonês, após uma disputa onde houve de tudo –
de chantagens a manipulação criminosa de dados, e sabe-se lá mais o quê. Na
versão oficial, decantada pelo então presidente Lula, o Ginga seria a grande
contribuição brasileira no mundo da tecnologia de televisão: um sistema
operacional desenvolvido no Brasil, altamente eficiente, a ser copiado por todos
os outros países.
Membros da Academia, pesquisadores independentes e desenvolvedores acreditaram,
e se animaram a produzir uma série de aplicativos baseados naquela joia.
Descobriu-se depois que seu custo era inviável, já que rodava sobre Java,
patente da americana Oracle. Ainda assim, o governo obrigou os fabricantes a
embutir Ginga em todos os TVs, o que hoje ocorre em 80% dos modelos produzidos
no país (até 2015, serão 100%).
Enfim, um delírio completo. Como já afirmavam vários especialistas que
entrevistamos a partir de 2008, quando começaram as transmissões do SBTVD,
interatividade na TV não foi levada a sério em nenhum país do mundo. Japoneses,
alemães e americanos, que desenvolveram cada um seu padrão para TV digital,
sequer se preocuparam com isso. Não há por que, quando se sabe que o destino da
TV é se conectar à internet, onde o usuário dispõe da máxima interatividade
possível e imaginável!
Fica agora a pergunta no ar: quem vai ressarcir as centenas de pequenas empresas
que acreditaram na palavra do presidente da República e investiram no Ginga?
Alguns desses empreendedores aplicaram todas as suas economias no projeto. Foram
ludibriados, mais ou menos como os poupadores da caderneta no governo Collor,
até hoje à procura da devolução de seu pobre dinheirinho.
Lamentavelmente, o Ginga é apenas um, entre inúmeros exemplos de como ciência e
tecnologia são (mal)tratados no Brasil, e cada vez mais. Péssimo exemplo do que
acontece quando política e tecnologia se misturam. A conta, pagamos eu, você e
todos os que ainda insistem em ser contribuintes.
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