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Fonte: Convergência Digital
[02/06/15]
Anatel: Canal de retorno da TV digital terá de ser pago pelo pobre - Luís
Osvaldo Grossmann
O Ministério das Comunicações e a Anatel dizem desejar e defender a
interatividade plena na TV Digital, mas ambos chancelaram a opção das operadoras
móveis e das emissoras comerciais de dar aos brasileiros mais pobres
equipamentos sem canal de retorno, sem conectividade – o que, por óbvio, limita
essa mesma interatividade, para dizer o mínimo.
“O governo tem preocupação que não haja duas tevês, uma para os que tem maior
poder aquisitivo, outra para os mais pobres. O governo tem a clara noção de que
a conquista da TV Digital deve servir a todos”, declarou o secretario de
Comunicação Eletrônica do Minicom, Emiliano José, ao participar de debate na
Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, nesta terça, 2/6, mas não voltou
atrás da decisão de cobrar pela interatividade de quem não tem condições de
pagar.
A Anatel, que se posiciona como a responsável pela presença do Ginga C na
especificação do conversor que será distribuído aos beneficiários do Bolsa
Família, é ao menos mais direta sobre o impacto da escolha de um equipamento que
tem entradas para cabo ou USB – ou seja, para internet fixa ou móvel – mas não
inclui a conectividade em si.
Tem-se, como explicou o conselheiro Rodrigo Zerbone, “uma interatividade de dois
níveis, mais restrita, em que o telespectador somente tem acesso àquilo que a
própria emissora coloca em sua programação. A interatividade plena depende do
canal de retorno, que só pode ser alcançado com alguns serviços de
telecomunicações, internet fixa ou móvel”.
Como a preocupação do grupo que reúne teles e tevês é com o orçamento da
transição, Zerbone reconhece que a conectividade “foi pensada como questão
complementar devido a limitação dos recursos alocados para o projeto”. Como
insistiu, “os conversores serão preparados para a possibilidade de receber essa
interatividade plena, mas o serviço fixo ou móvel tem que ser adquirido pelo
telespectador, ou garantido por programa público ou pelo interesse privado”.
É fato que a migração digital – que envolve distribuição de transmissores às
emissoras de TV, receptores (conversores) à população carente, publicidade e
pesquisa de cobertura – envolve cifras grandes. O orçamento previsto é de R$ 3,6
bilhões. No entanto, quando os custos são mencionados há um aparente subtexto de
que o dinheiro é um presente ou foi tomado à força das operadoras de celular.
Para todos os efeitos, esse valor foi na verdade o desconto no preço dos nacos
da faixa de 700 MHz que Vivo, Tim, Claro e Algar adquiriram no ano passado.
Trata-se de uma fatia especialmente cobiçada do espectro radioelétrico pois
permite maior eficiência à oferta acesso móvel à internet – e a um custo muito
inferior de implantação do que a atual faixa usada para o 4G, 2,5 GHz.
Se resta evidente que não interessa a nenhum dos envolvidos que o custo da
migração ultrapasse os R$ 3,6 bilhões previstos, vale mencionar que governo e
Anatel atuam, na prática, como se esse fosse um teto intransponível. Mas não é
isso que previa o edital do leilão da faixa de 700 MHz, regras aceitas pelas
operadoras que dele participaram.
Lá está expresso que “caso o repasse de valores se mostre insuficiente para a
integral execução das atividades [de migração para o sistema digital] o Gired
deverá informar ao Conselho Diretor o montante dos recursos faltantes, que
deverão ser aportados pelas proponentes vencedoras, com divisão proporcional dos
custos de ressarcimento”.
É certo que ainda existem custos que não estão claramente dimensionados –
particularmente as pesquisas que vão medir se cada município atingiu o mínimo
necessário de 93% de domicílios aptos a receber a TV Digital. Mas até aqui os
números indicam que o conversor escolhido, sem conectividade, vai implicar em
desembolso de um terço do orçamento total previsto.
Estimativas da EBC sugerem que incluir modems 3G nesses conversores custaria R$
200 milhões – levando a conta com esses aparelhos para algo perto de R$ 1,5
bilhão. É um bocado de dinheiro, mas vale a lembrança feita no debate pelo
senador Walter Pinheiro (PT-BA): “A TV digital não veio só para resolver o
problema do chuvisco, mas permitir que a televisão possa interagir, não apenas
consultando serviços, mas enviar também”.