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Fonte: Link / Estadão
[15/02/16]
Distribuição de conversores emperra desligamento do sinal analógico de TV
Sem atingir número de residências preparadas, cronograma de implantação da TV
digital enfrenta adiamentos; uso da faixa de 700 MHz para expansão da banda
larga móvel depende de altos investimentos de operadoras e emissoras de todo o
País
Vila Renovação é um bairro na periferia de Rio Verde, município com cerca de 200
mil habitantes no interior de Goiás, onde a cozinheira Maria Ferreira Soares, de
61 anos, esperava mudar a partir de hoje a qualidade da imagem e do som de sua
TV. A cidade foi escolhida para ser a primeira do País a encerrar a transmissão
do sinal analógico e receber a programação da TV aberta apenas por sinal
digital. Contudo, a migração pode ser adiada mais uma vez: segundo o Ibope,
somente 82% das casas da cidade têm TVs ou conversores compatíveis com o sinal
digital – o desligamento, porém, só pode acontecer quando 93% dos domicílios
estiverem preparados.
Para seguir com o desligamento, o Grupo de Implantação do Processo de
Redistribuição dos Canais de TV e RTV (Gired) – que coordena a migração para TV
digital no País – depende do parecer do ministro das Comunicações, André
Figueiredo. Seja qual for a decisão, o caso de Rio Verde mostra que ainda há um
longo caminho pela frente até o fim das transmissões analógicas no País. As
pessoas precisam trocar televisores ou usar conversores em aparelhos antigos. Se
o governo desligar o sinal antes da troca, parte da população não conseguirá
assistir aos canais de TV aberta. Alardeada em campanhas das emissoras na TV
aberta, a melhoria do som e da imagem não parece ser estímulo suficiente para
que os brasileiros se preparem.
Na casa de Maria, ela e outros cinco moradores torcem para que o sinal digital
melhore a imagem e som do televisor da sala, que está no mesmo lugar há uma
década. “Quando a transmissão funciona, a TV não é tão ruim. O problema mesmo é
o sinal”, diz a cozinheira. Ela ganhou um conversor digital de um parente, mas
ele nem foi ligado à TV ainda – a família não sabe que o sinal digital está
disponível na cidade.
Em outro bairro, a costureira Matilde Maria de Queiróz, de 72 anos, ainda não
acredita que vai precisar de um televisor novo. Ela tem antena parabólica, mas o
equipamento pode não ser capaz de receber o sinal digital. “Meu filho trouxe um
técnico, mas ele disse que é melhor esperar até dia 15. Se a parabólica não
funcionar, aí vamos ver o que fazer”, diz ela. Os televisores da casa, por serem
muito antigos, não possuem entrada para o conversor digital.
A dificuldade em atualizar a base instalada de TVs é o principal entrave à
implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, criado em
2006.
Na época, o governo previa que o sinal analógico de TV seria desligado em dez
anos. Em junho de 2013, o prazo foi adiado para 2018. Em janeiro deste ano, o
governo postergou mais uma vez a migração em algumas capitais do País para 2017,
caso de Rio de Janeiro e São Paulo, embora ainda conserve 2018 como o último ano
do sinal analógico no País.
Limpeza.
Usar o espectro de frequência de maneira eficiente é o principal objetivo do
governo com a mudança. “Antes, não se imaginava a quantidade de serviços
fundamentais que ocupariam o espectro”, diz o secretário de serviços de
comunicação eletrônica do Ministério das Comunicações, Roberto Pinto Martins.
O governo vai “limpar” a faixa de frequência de 700 MHz – hoje ocupada pelas
emissoras de TV (veja gráfico acima). A frequência será atribuída às operadoras
Claro, TIM e Vivo para expansão do serviço de banda larga móvel (4G). Elas
arremataram os lotes de frequência em um leilão da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) em 2014 por R$ 5,85 bilhões. Atualmente, as operadoras
usam a frequência de 2,5 GHz para 4G, mas os 700 MHz são cobiçados porque exigem
menor investimento em antenas.
Além do valor pago pela concessão, as operadoras se comprometeram a investir R$
3,6 bilhões para criar a Entidade Administradora da Digitalização (EAD). A
empresa é responsável pelos pagamentos de custos das emissoras decorrentes da
mudança de frequência, por informar a população sobre a mudança e distribuir
gratuitamente conversores para 14 milhões de beneficiários do Bolsa Família. “A
população só vai aderir se tiver dinheiro para comprar uma TV nova ou um
conversor”, diz Marcelo Zuffo, professor da Escola Politécnica da USP.
Em Rio Verde, a EAD começou a distribuir conversores em agosto do ano passado:
mais de 5,6 mil famílias (dos 7 mil beneficiários do Bolsa Família na cidade)
receberam o aparelho até novembro, data inicial marcada para o fim do sinal
analógico. Após o adiamento, a EAD ampliou o benefício para pessoas de baixa
renda registradas no Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social. Com
isso, outras 17 mil pessoas ganharam direito ao aparelho, mas até o fechamento
desta reportagem apenas 5 mil pessoas tinham retirado o conversor.
A baixa procura tem motivo: muitas pessoas nem sabem se fazem parte do Cadastro
Único. Além disso, o processo para receber o dispositivo é complexo: é preciso
se cadastrar por meio de um site e agendar um horário para ser atendido em
apenas dois pontos de distribuição na cidade.
Para reverter o quadro, a EAD mudou o discurso com a população: em vez de
mencionar o Cadastro Único, passou a associar a distribuição de conversores a
quem participa de programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Luz para Todos.
“Isso gerou incremento substancial na busca por conversores”, diz o presidente
do Gired, Rodrigo Zerbone.
Ver Gráfico
Enquanto isso, quem não tem direito ao conversor gratuito se prepara como pode.
Segundo Gilson Pompílio de França, gerente de vendas da loja de eletrônicos
Fujioka, a venda de TVs aumentou 25% no ano passado – com destaque para os
modelos mais baratos, de 32 polegadas e preço até R$ 1 mil. “A maioria dos
compradores tinha menor poder aquisitivo”, diz. Na loja Mercadão Eletrônica, a
procura por conversores também aumentou. Só em novembro de 2015, 300 aparelhos
foram vendidos. “Depois as vendas caíram, mas devem subir depois de 15 de
fevereiro”, diz o proprietário da loja, Pedro Valdir Carrer.
Radiodifusão.
Mas não são só as operadoras que investem alto para garantir a migração da TV
analógica para digital. As emissoras já investiram R$ 3,6 bilhões na compra de
transmissores e antenas, o que permitiu a chegada do sinal digital a 70% do
território nacional. Em todas as cidades com mais de 250 mil habitantes, as
grandes emissoras já estão preparadas para a transmissão – só a Rede Globo está
presente em cidades menores, com 50 mil habitantes.
Para levar o sinal aos 30% do território nacional que ainda dependem do sinal
analógico, as emissoras precisariam investir ao menos R$ 1,5 bilhão. “Nesse
período de crise, o grande limitador são os recursos”, diz o presidente da
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero.