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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[12/11/12]
Bill and Keep e compra da Unicel. Há um elo de ligação entre os dois movimentos?
Tele.Síntese Análise 364
O embate em torno do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC) já era esperado.
Afinal, o plano estabelece regras assimétricas para ampliar a competição, o que,
em última análise, irá significar queda nos preços e melhoria da qualidade dos
serviços de telecomunicações para o usuário final.
Por isso o tiroteio das empresas consolidadas no mercado contra o que está por
vir. Mas, se há predisposição dos grandes grupos privados em condenar as ações
da agência reguladora, recentes movimentos colocaram mais combustível no
caldeirão da pressão sobre a Anatel.
Até o início da noite de quarta-feira, 31, a agência não tinha conseguido
reduzir as diferenças entre seus próprios conselheiros, e não sabia se o
regulamento seria aprovado na reunião de hoje, quinta. A torcida do mercado é
para que não.
Mas havia forte interesse da Anatel em aprovar o documento final, até para
confirmar sua intenção de estabelecer a competição em diferentes mercados onde
considera haver problemas.
Um dos embates que surgiu com bastante vigor nestas duas últimas semanas não se
concentrou na rede das incumbentes fixas, mas justamente no segmento mais
competitivo, o da telefonia celular. A intenção da Anatel em implementar o bill
and keep parcial entre as quatro grandes operadoras e as três pequenas – CTBC,
Sercomtel e Nextel – criou um clima de consternação entre as operadoras de
celular. Clima este que se transformou em irritação, quando a Nextel entrou com
documento na Anatel pedindo anuência prévia para a aquisição da Unicel,
operadora marcada por polêmicas desde seu surgimento.
Ninguém fala em voz alta, mas o que todos se perguntam é se essa aquisição é o
elo de ligação para essa mudança regulatória. “A assimetria regulatória para
promover a competição não pode se transformar em distorção competitiva em prol
de um competidor”, afirma diretor de uma operadora. “Era, sim, preciso dar uma
solução para o SME, mas a dúvida é se a proposta é toda republicana”, alfineta
outro executivo. “Não há qualquer razão econômica para a Nextel comprar esta
operadora, com mais de R$ 100 milhões de dívida. Até porque, pelas regras
atuais, ela vai ter que devolver a frequência de 1,8 GHz da Unicel. Essa é uma
cláusula pétrea, que nunca mudou na agência: empresa com duas licenças iguais na
mesma região (neste caso, Grande São Paulo) tem de devolver a frequência de uma
das duas”, completa mais um interlocutor.
As celulares acham que a Anatel está errando a mão, ao estabelecer um bill and
keep parcial de 80% a 20% na relação da terminação da chamada para as três
pequenas operadoras. Na previsão de alguns executivos, a se manter essa relação
por muito tempo, a Nextel assume a liderança do mercado de telefonia celular em
dois anos. “Hoje, com a relação de 60% a 40% entre o SMP e o SME, a Nextel tem
42% do mercado corporativo de São Paulo”, afirma.
O crescimento exponencial da Nextel no mercado se daria porque, mantida a
relação de 80% a 20%, o custo da interconexão da Nextel para as outras redes de
celular seria de R$ 0,07 contra a média de R$ 0,37. Esta enorme diferença de
custo daria todo o impulso para o forte crescimento da operadora. Esse
raciocínio, para a Anatel, é absurdo porque a Nextel simplesmente não tem
espectro para tantos clientes. Tem apenas 30 MHz, contra os 80 MHz das outras
operadoras de celular. “Com tão pouco espectro, nenhuma empresa pode ter muito
cliente”, rebate técnico da agência.
Foco no corporativo
Outro executivo concorda que a Nextel não vai mesmo ter muitos usuários, pois
vai manter a sua estratégia de só focar em clientes ricos e corporativos, mas
isso não significa que precise de tratamento diferenciado. E explica: hoje, com
o trunking, a Nextel tem só 4,5 milhões de clientes, mas tem receitas anuais de
R$ 6 bilhões. “A Nextel fatura com menos de cinco milhões de clientes o que as
demais empresas precisam faturar com 32 milhões de usuários”, completa. Para a
Anatel, no entanto, as empresas reclamam apenas para evitar a entrada de novos
competidores.
Pelas contas do mercado, no entanto, a Nextel, além de um desconto de 80% no
pagamento da VU-M para as outras operadoras (na prática, esclarecem, o bill and
keep é um desconto na taxa de interconexão, que as grandes operadoras vão ser
obrigada a dar), terá outras vantagens regulatórias. Entre elas, a queda no
preço das redes de transportes (EILD), além de cobrar 20% a mais em sua VU-M.
Conforme assinala o executivo, o bill and keep só será aplicado nas ligações
móvel/móvel entrantes contra grandes operadoras, mas nas ligações fixo/móvel
continua o full billing. E há cerca de 20 dias a comissão de arbitragem da
Anatel decidiu que a Nextel tem mesmo direito de cobrar uma VU-M para si própria
20% mais alta do que as demais taxas de interconexão, a serem pagas pelos
usuários da rede fixa de telefonia. “São muitas as mudanças regulatórias que
irão favorecer a empresa”, ressalta a fonte.
A Anatel, por sua vez, contesta veementemente essa visão, argumentando que as
acusações são feitas apenas para acuar o órgão regulador no momento em que ele
decide medidas de abertura do mercado.