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Unicel: Crônica de um escândalo anunciado
Esta é a
página inicial do website "Unicel: Crônica de um
escândalo anunciado"
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Legislação e referências:
Portal Teleco
• Seção Telefonia
Celular - Unicel (aeiou)
Resumo e acompanhamento
Nota de Helio Rosa:
A partir de um texto básico do portal Teleco [Unicel
(aeiou)], inseri recortes retirados de uma coleção de notícias
(transcritas mais abaixo), para montar uma tentativa de resumo deste
imbróglio chamado "Unicel". Colaborações e correções são muito bem-vindas!
A Unicel era uma operadora de celular da Banda E na região metropolitana de
São Paulo (011). Ela adquiriu esta licença, como única proponente, em licitação
da Anatel iniciada em 2005.
Ela foi inicialmente desclassificada por não ter depositado as garantias.
Recorreu, no entanto à Justiça e em 12/04/2007 foi homologada vencedora pelo
conselho da Anatel. O Ato nº 65.595, de 21 de junho de 2007, que expediu a
autorização foi publicado em 25/06/2007, no Diário Oficial da União. O Termo de
autorização foi publicado no DOU de 20/07/07.
A Unicel adquiriu também uma faixa de extensão de 2,5 MHz em 900 MHz.
A Unicel é de propriedade da família Melo da Silva e tem José Roberto Melo da
Silva como presidente e CEO.
A Unicel passou por dificuldades para atrair investidores, mas em Mai/08
conseguiu fechar um acordo com o grupo árabe Hits que passou a deter 49% das
ações da empresa, com opção de compra de 75% em três anos. A operação foi
aprovada pela Anatel em Set/08.
O Grupo Hits atua na Arábia Saudita e na África. Em Mai/08 o Grupo Hits assinou
um MOU com a ZTE que passou a ser o parceiro estratégico para desenvolver
operações na África e América Latina.
Em Agosto de 2008 a Unicel iniciou um período de teste comercial de sua
operação e adotou o nome de "aeiou".
Em 08 de agosto de 2008 ocorreu o lançamento comercial. Na fase de testes
a aeiou cadastrou 10.000 chips.
A Unicel chegou a ter 20 mil celulares em 2010, mas só reportou a quantidade de
celulares até o 1T11 (16 mil).
Em 16 de janeiro de 2009 "a Unicel... comunicou à Agência Nacional de
Telecomunicações que não efetivará a transferência parcial de seu controle
societário para a Hits do Brasil Empreendimentos e Participações, cuja anuência
havia sido dada pela Anatel através do ato 5.414 de 16 de setembro de 2008."
No mesmo dia foi noticiado que "a Hits Telecom vai pedir uma arbitragem da
Câmara Brasil-Canadá contra a companhia nacional".(...)
"Embora a Hits tenha feito um aporte de mais de 22 milhões de dólares na Unicel,
desde março do ano passado, a empresa controlada pela família Melo da Silva não
cumpriu sua parte no acordo", afirma a nota da Hits.
Segundo ela, a empresa brasileira - criada para ser a quarta operadora de
celular no Estado de São Paulo - "deixou de realizar a reestruturação societária
necessária para viabilizar a implementação do negócio acordado, além de se
furtar a transferir 48,98 por cento da ações a que a Hits tem direito na
sociedade.
A Hits alega ainda que a Unicel reteve os aportes recebidos. Ela pretende, com a
arbitragem, receber as ações a que afirma ter direito."
Em 19 de setembro de 2010, Rubens Ramos ("Listas UFRN") "profetizou": "a jogada do outro Silva, o da UNICEL, foi a seguinte: primeiro conseguir uma licença de operação da ANATEL, "with a little help of his friends", os compadres de casamento, compadre José Roberto Campos e comadre Erenice Guerra. Daí então busca investidores que entrem com o dinheiro pois a concessão já foi conseguida. Vendem então participação no negócio baseado no potencial de mercado futuro (celular). Do nada, e sem nada, fica-se milionário.
Em 20 de setembro de 2010 a mídia divulgou: "A Unicel, empresa de
telefonia celular que teve o marido da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra,
José Roberto Camargo Campos, como diretor, teve ajuda do Conselho Diretor da
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Tribunal de Contas da União
(TCU) na obtenção de licença para operar telefonia móvel via rádio, também
chamado de Serviço Móvel Especializado. Os dois colegiados votaram
favoravelmente à concessão da licença para a Unicel, contrariando parecer de
suas respectivas áreas técnicas."
Em 24 de março de 2011 a Folha de S. Paulo noticiou:
(...) A controladoria (CGU) considerou, porém, que a Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações) beneficiou a empresa de telefonia Unicel ao
conceder a ela uma faixa de frequência em condições privilegiadas e recomendou
que a agência suspenda imediatamente a outorga.
A Unicel era dirigida à época pelo marido da então ministra Erenice. A CGU
recomenda à Anatel que abra processo para investigar os responsáveis por terem
beneficiado a empresa e não apontou culpados."
No mesmo dia, o portal Convergência Digital repercutiu:
"O Ministério das Comunicações vai abrir investigação para apurar as
responsabilidades pela destinação, sem licitação, de radiofrequência à empresa
Unicel. A denúncia de que houve irregularidades nessa decisão da Anatel foi um
dos motivadores que deflagrou, no ano passado, a queda da então ministra-chefe
da Casa Civil, Erenice Guerra.
A auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU) com base nas
denúncias concluiu que houve realmente irregularidades e, por isso, recomenda à
Anatel a “imediata anulação” dos atos realizados com vista à outorga que
beneficou a Unicel – mais conhecida pelo nome fantasia aeiou."
Em 29 de setembro de 2011 o jornal Valor Econômico noticiou:
(...) A Unicel, operadora de celulares que estreou em 2008 com a promessa de ser
a "Gol da telefonia móvel", desapareceu do mercado - deixando para trás dívidas
e reclamações de assinantes.
Até a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) perdeu o rastro da
companhia. Em comunicado publicado no "Diário Oficial da União", em agosto, o
órgão declarou que a Unicel "se encontra em local incerto e não sabido."(...)
Em 23 de novembro de 2012 a mídia divulga que "o passivo da Unicel,
empresa de telecomunicações ligada ao marido da ex-ministra Erenice Guerra, não
se restringe aos R$ 270 milhões devidos ao governo por falta de pagamento das
licenças de 1,8 GHz e 400 MHz que ela adquiriu.
Com a Receita Federal, a dívida chega a R$ 4 milhões. Deste valor, ao menos R$
1,7 milhão é referente a débitos previdenciários. O restante vem de outros
débitos não especificados pelo fisco. Esse tipo de passivo precisa ser quitado
antes de qualquer transferência de outorga.
Soma-se a isso um passivo trabalhista significativo e disputas judiciais com
ex-fornecedores." [Portal Teletime]
Em 27 de novembro 2012 a mídia entra em mais detalhes sobre os
problemas da Unicel:
"TELETIME fez um levantamento nos registros da empresa no Tribunal de Justiça de
São Paulo e no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que corresponde à área da
sede da empresa e onde, naturalmente, seriam impetrados os processos. A maior
parte dos processos contra a Unicel cobram o não pagamento de dívidas e, entre
os credores estão nomes como Totvs, Huawei, Ericsson, Telesp (grupo
Telefônica/Vivo), Diveo, Embratel e Transit Telecom. Esta última, por exemplo,
cobra um crédito de R$ 2,3 milhões da Unicel.
Na esfera trabalhista, há 43 processos de ex-funcionários que ainda não
conseguiram receber da empresa tudo a que têm direito. Entre as reclamações
feitas à Justiça estão alegações de danos morais, falta de pagamento de
vencimentos e de direitos trabalhistas, entre outros."
No mesmo dia o Teletime divulgou:
"O processo de compra da Unicel pela Nextel chegou ao Conselho Diretor da
Anatel. O conselheiro Rodrigo Zerbone foi designado para relatar o caso, em
sorteio realizado na última segunda, 26. Também foi sorteado, neste caso para o
conselheiro interino Marcus Paolucci, um processo de extinção da Unicel. Segundo
apurou este noticiário, trata-se do processo aberto em função do não pagamento
da licença adquirida no lelião das faixas de 3G."
Em 03 de dezembro de 2012 a Anatel notificou a Unicel, que se encontra em local incerto e não sabido, sobre Procedimento para Apuração de Descumprimento de Obrigações – PADO nº 3500.010889/2011, dando o prazo de 15 dias para apresentação de sua defesa administrativa.
Em 05 de dezembro de 2012, "diante deste quadro, a Unicel conseguiu um mandado de segurança da Justiça Federal impedindo o conselho diretor da Anatel de decidir sobre a anuência prévia em torno da venda da Unicel para a Nextel por um prazo de 10 dias.
Em 20 de dezembro de 2012 o portal Convergência Digital noticiou:
"A Anatel jogou uma pá de cal nas operações da Unicel e no potencial casamento
com a Nextel. Na prática, operações mesmo já não existiam, mas as decisões desta
quinta-feira, 20/12, que cassaram as outorgas relacionadas a serviços de
telefonia móvel (SMP) e trunking (SME), têm impacto direto nas negociações da
Unicel com a Nextel, que pretendia comprá-la – especialmente pelas frequências
móveis para a região do DDD 11, em São Paulo - com uma oferta estimada em R$ 300
milhões. A agência vetou o negócio.
No mesmo dia o Teletime também noticia e comenta: A agência selou o fim das outorgas da operadora, mas ainda há espaço para um pedido de reconsideração e, claro, a esfera judicial. O curioso é que a extinção das licenças da empresa foi dada no processo de anuência prévia para a compra pela Nextel e não no processo de extinção por caducidade, relatado pelo conselheiro Marcus Paolucci.
Em 22 de janeiro de 2013 a Anatel oficializou sua decisão de extinguir a licença SMP da Unicel e o direito de exploração das faixas de radiofrequência destinadas à empresa em 2007. O despacho que trata do assunto foi publicado no Diário Oficial da União nesta data.
Em 23 de janeiro de 2013 comentei: Mais abaixo, nesta página, está
transcrito o trecho de um artigo da jornalista Miriam Aquino, que conta
esta mesma história da Unicel. Vale conferir!
Em 22 de fevereiro de 2013 o jornal Folha de S. Paulo divulgou que "a
operadora de telefonia celular Unicel apresentou ao Ministério Público Federal
acusações contra um suposto cartel das teles, que negociaria pareceres, votos e
até decisões do conselho diretor da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações).
No documento, protocolado no dia 4 de fevereiro de 2012, sob o número
2.122/2013, o controlador da Unicel, José Roberto Melo da Silva, acusa as quatro
maiores teles do país -Vivo, Oi, Claro e TIM- de impedir a entrada de novos
competidores, "fazendo acertos" com os reguladores.[Fonte]
No mesmo dia, a Anatel publicou em seu Portal uma extensa "Nota de
Esclarecimento" sobre o assunto da reportagem, que começa com estas explicações:
- As decisões da Anatel referentes à Unicel foram tomadas em plena conformidade
com a legislação e a regulamentação em vigor;
- São totalmente infundadas e descabidas as acusações de José Roberto Melo da
Silva à atuação da Anatel;
- Tendo em vista a conduta criminosa de José Roberto Melo da Silva, a Anatel
adotará as providências legais cabíveis para que seja processado criminalmente
por denunciação caluniosa, nos termos do art. 339 do Código Penal.
- Todos os processos relacionados à Unicel são públicos e estão acessíveis em
sua íntegra a qualquer cidadão no sítio eletrônico da Anatel. [Fonte]
Em 25 de fevereiro de 2013 a PROTESTE envia ofício à Câmara dos
Deputados onde reitera o pedido apresentado junto com diversas outras entidades
em setembro de 2012 para que seja instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito
(ja conhecida como "CPI dda Anatel"), em caráter de urgência.
Neste mesmo dia é divulgada a íntegra da Denúncia feita pelo controlador da
Unicel, José Roberto Melo da Silva.
Em 15 de março de 2013 a Anatel negou os pedidos feitos pela Nextel e pela Unicel que buscavam reverter a decisão de dezembro do ano passado, quando não apenas a agência rejeitou a anuência prévia à compra da segunda pela primeira, como também cassou as outorgas das Unicel.
Em 23 de maio de 2013 foi divulgado que "a Anatel concluiu mais um
processo que atinge a operadora Unicel, desta vez avaliando a caducidade da
outorga concedida para a prestação de telefonia móvel em São Paulo. Trata-se de
um processo que o Conselho Diretor foi impedido de avaliar no ano passado por
conta de uma liminar obtida pela empresa.
Na prática a agência já tinha determinado a extinção das licenças – não só de
SMP, mas também de SME – mas o fez no processo de anuência prévia da negociação
pela qual a Nextel tentava comprar a Unicel, o que se deu ainda no ano passado.
No caso específico, a Anatel extinguiu a autorização das operações de telefonia
móvel da Unicel e das outorgas para uso de radiofrequência nas faixa de 900 MHz
e 1,8 GHz na área 11, São Paulo." [Fonte: Convergência Digital]
Em 17 de junho de 2013 foi divulgado que "a Anatel arquivou a solicitação
de homologação de contrato de interconexão entre a empresa e a TIM, Vivo e
Nextel. Os editais da gerência de Monitoramento das Relações entre Prestadoras,
da Superintendência de Competição, foram publicados na edição do Diário Oficial
da União desta segunda-feira (17). A publicação dos editais foi necessária
porque a agência afirma que a Unicel “se encontra em local incerto e não
sabido”, o que impossibilita a comunicação direta. Esse tipo de comunicação vem
sendo adotado pela agência desde 2011." Fonte: Tele.Síntese]
Em 28 de fevereiro de 2014 a Anatel cedeu à TIM, o uso, em caráter secundário e precário, limitado a 18 meses, de 5 MHz da faixa de 900 MHz, que pertencia a Unicel, em São Paulo.
Helio Rosa
06/03/14
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escândalo anunciado".
Leia na Fonte: Tele.Síntese
[11/01/13]
A Anatel e o esqueleto no armário - por Miriam Aquino
(...)
O fim do caso Unicel, com a cassação e extinção das duas licenças, foi, sem
dúvida, a decisão mais acertada e mais firme tomada pelo colegiado sob o comando
dos dois. Esquecendo-se do grande componente político que envolvia esta empresa,
havia argumentos fortes dentro do atual governo favoráveis à sua revenda.
Aqueles que defendiam a venda da Unicel para a Nextel argumentavam que era a
forma de a União receber o valor devido pelas frequências que não foram pagas.
Agora, avaliam essas fontes, até que a Anatel consiga fazer novo leilão, vai
demorar muito, pois os controladores da Unicel devem recorrer à justiça, que
pode postergar por anos para dar o caso por encerrado.
Mas se a Anatel aprovasse a venda desta empresa para a Nextel, estaria premiando
os seus controladores, que não pagaram funcionários, fornecedores ou a União, e
esses inadimplentes saíram com bons milhões de reais em seus bolsos . Por isto,
a decisão da agência foi a mais acertada.
Uma rápida retrospectiva para mostrar como esta empresa surgiu no cenário de
telecom brasileiro e por que seus donos não poderiam ser premiados pelo Estado
brasileiro:
A Unicel apareceu no mercado de telefonia celular sob o manto da polêmica desde
seu início. Em 2005 a Anatel lança uma licitação para a venda de algumas
frequências de celular. Dela participa a Unicel, de propriedade da família Melo
e Silva, presidida por José Roberto Melo e Silva, um técnico conhecido do
mercado de telecom, que se indagava, porém, quais eram os parceiros que iriam
participar com ele daquela empreitada. E logo se viu que a empresa não tinha
qualquer parceria financeira de peso.
Ganhou a licitação de uma frequência no mais rico mercado brasileiro– a região
metropolitana paulista – mas foi desclassificada pela Anatel, pois não depositou
as garantias exigidas no edital, de meros 10% do valor do preço mínimo (R$ 90
milhões à época). A empresa recorreu e acabou ganhando na justiça o direito de
ficar com a frequência, decisão tomada por cautelar. Em abril de 2007, o
conselho da Anatel declara-a vencedora da licitação. Em julho daquele ano, o
termo de autorização (que é o seu contrato) é publicado no Diário Oficial.
Uma família sem qualquer tradição em outro ramo de negócios, sem recursos e sem
parceria consistente iria se meter neste segmento de altíssima concentração de
capital por que motivo? A especulação mais razoável do mercado era que o grupo
iria vender rapidamente seu principal ativo – a frequência – e sair altamente
capitalizado, mas dando um ponto final nesta aventura.
Comenta-se que a Oi chegou a fazer uma oferta firme à Unicel, pois precisava
entrar no mercado paulista, mas parece que ambição da família e de seus
porta-vozes era grande demais, fazendo com que a Telemar desistisse da compra e
preferisse disputar no preço um novo leilão promovido pela Anatel.
Chegam os árabes
A diferença entre o preço que a família estipulava para este ativo e aquele que
o mercado considerava razoável era tanta, que outra parceria/venda, que chegou a
receber a anuência prévia da Anatel, também não se concretizou. Em 2008,
obrigada pelo edital a cumprir um cronograma de cobertura, a Unicel chega a se
lançar no mercado paulistano, com o esquisito nome fantasia de “a e i o u”. Ao
mesmo tempo, anuncia um acordo de venda de 49% de suas ações para o grupo árabe
Hits do Brasil Empreendimentos e Participações.
No início de 2009, porém, o ex-futuro sócio ingressa com pedido de arbitragem em
fórum internacional, pois alega que teria feito aporte de US$ 22 milhões na
empresa brasileira, mas a família Melo da Silva não teria cumprido a sua parte,
de promover a reestruturação societária prometida, para permitir o ingresso do
sócio.
Por que a família Melo e Silva era tão intransigente na definição do preço de
seu ativo, sabendo que não tinha qualquer condição financeira para tocar o
negócio? Aí entra o ingrediente político. José Roberto Melo e Silva era padrinho
de casamento de Erenice Guerra, que ascendia politicamente no governo petista. E
o marido de Erenice, também José Roberto, mas Camargo Campos, era o porta-voz da
empresa junto ao governo e à Anatel. E Erenice foi ganhando poder, até virar a
ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República.
Trunking
Com o fortalecimento político de tão ilustre consorte, a Unicel tem também
contemplada pela Anatel outro pleito, em uma das maiores ilegalidades já
praticadas por esta agência reguladora.
Tudo começou em 2004, por, dizem alguns, pura disputa de vaidades entre
superintendentes da Anatel. Mas o fato é que foi feita uma chamada pública para
a ocupação da faixa de frequência de 411 MHz. O problema é que esta faixa não
havia sido sequer regulamentada pela área competente. Mas duas empresas se
inscreveram para ter um naco deste espectro. Entre elas, a nossa conhecida
Unicel (que na época tentava firmar um acordo com um fabricante de trunking que
atuava na área de segurança norte-americana).
Convencida de que a inscrição bastava para receber a frequência, a Unicel passou
todo o ano de 2004 em busca da licença, contra o parecer da área técnica da
Anatel. Em fevereiro de 2005, o conselho diretor referenda a decisão técnica,
mas entende que um novo chamamento poderia ser feito, já que a frequência estava
finalmente regulamentada. A Unicel contesta este entendimento. Recursos e contra
recursos foram lançados, até que, em setembro de 2005, a procuradoria da Anatel,
liderada por Domingos Bedran ( depois, ex-conselheiro, que foi abatido em sua
recondução justamente por causa deste assunto) acaba respaldando o argumento da
empresa, mas adverte que a licença só poderia ser concedida pelo Conselho
Diretor da Anatel.
Aí vem a ilegalidade explícita. O então presidente da agência, Elifas Gurgel do
Amaral chamou para si a decisão que seria do conselho e admitiu como legal o
pleito da empresa, referendando o chamamento público de 2004 e considerando que
não havia razões para fazer licitação da frequência. A procuradoria da Anatel,
em outubro de 2005, confirmou a decisão de Elifas, que mandou, então, expedir o
ato de outorga.
Mas os técnicos da Anatel não reconheceram a decisão monocrática do presidente e
o processo volta para o conselho diretor, que tem como relator o ex-conselheiro
Pedro Jaime Ziller de Araujo. Pedro Jaime acaba encontrando a solução para
atender a grupo tão poderoso: anula o ato ilegal, mas reconhece o direito da
empresa à licença e manda seu voto para o conselho diretor. Desfalcado, o
conselho aprova a proposta por apenas três votos favoráveis. José Leite Pereira
Filho vota contra. Ele queria a cassação da licença.
Em fevereiro de 2009, a Unicel e a diretoria da Anatel conseguem um importante
aliado: o Tribunal de Contas da União considera legal o último ato do Conselho
Diretor. Mas aí, a família já estava se perdendo em sua própria ambição, com as
disputas no front da telefonia celular. E o contrato com a outorga de trunking
que deveria ser também assinado, dormia na gaveta do técnico mais atento.
Em setembro de 2010, depois de denúncias de tráfego de influência em diferentes
áreas do governo, Erenice Guerra deixa a Casa Civil e a Controladoria Geral da
União manda a Anatel cancelar a licença de trunking. Este pedido fica parado no
gabinete da ex-conselheira Emilia Ribeiro mais de 18 meses, até que, pelas mãos
de um conselheiro substituto, ele retoma à pauta de deliberação, e é encerrado,
juntamente com a intenção de compra e com a licença do celular. Mas para que a
decisão fosse tomada na instância superior, a área técnica já havia aberto o
processo sancionatório.
Depois de passar por tantas linhas até aqui escritas, o leitor que ainda está
comigo deve estar rindo do que escrevi no primeiro parágrafo: de que a dupla
Bernardo e Rezende não adiam tomadas de decisões, sejam elas as mais complexas
ou politicamente explosivas. Mas continuo pensando isto mesmo, pois a decisão de
tirar o esqueleto do armário foi tomada em rito sumário. Em uma única reunião
acabou-se com os três problemas (uma licença de trunking não outorgada, uma
licença de celular outorgada e uma intenção de compra de uma empresa atolada em
dívidas que só iria premiar aqueles que a levaram a isto).
(...)
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escândalo anunciado".