FERNANDO NETO BOTELHO
TELECOMUNICAÇÕES - QUESTÕES JURÍDICAS
Novembro 2004 Índice (Home)
28/11/04
• GPRS x EDGE (2)
----- Original Message -----
From: Fernando Botelho
To: Celld-group@yahoogrupos.com.br
Sent: Sunday, November 28, 2004 10:55 AM
Subject: Re: [Celld-group] GPRS x EDGE
Mensagem de José Smolka:
Pessoal,
Vou tentar não escever muito. Quando a turma da Industrial Light and Magic ou da
Pixar Studios vai preparar um novo filme, a primeira coisa que eles fazem é uma
versão simplificada das imagens, formada apenas por linhas e pontos, chamada de
wireframe. Pois bom, vamos a uma imagem em wireframe da questão.
Primeiro vou deixar bem claro minha posição quanto a todos os processos de
transmissão de dados sobre infra-estrutura de telefonia celular (AMPS, TDMA, GSM
e CDMA).
Como profissional de comunicação de dados, acho isso tudo a camada física (TCP/IP,
ou, para os puristas, OSI camada física e camada de enlace) mais complicada do
mundo!! Temos mais uma edição do clássico problema de engenhar transporte de
dados sobre uma infra-estrutura que foi pensada para ser eficiente no transporte
de voz, ou seja, estamos tentando ensinar truque novo a cachorro velho.
De qq forma, vamos ao assunto.
Tanto o TDMA quanto o GSM foram bolados para sucederem a estrutura de telefonia
celular analógica de 1a. geração (o AMPS), sem criar uma ruptura que complicasse
o deployment para as operadoras.
Essencialmente, o que foi feito foi acrescentar time division multiplexing (TDM)
por cima de um esquema legacy de frequency division multiplexing (FDM).
Em cada banda reservada para a operação do serviço (A, B, C, D, E, ...) existe
uma divisão em canais (FDM).
A utilização dos canais é dividida em time-slots (TDM), e a capacidade de
transmissão depende da largura de banda do canal (porque? Leia Shannon) e da
duração dos time-slots (que define quantas transições de estado do canal
podem ser "socadas" naquele tempo).
Como disse antes, tudo foi montado pensando no transporte de voz. Voz
digitalizada, neste caso.
Com o uso de vocoders sofisticados podemos limitar consideravelmente a
quantidade de bps dos fluxos de voz (até 8 Kbps, comparado com os 64 Kbps do PCM
tradicional).
Com técnicas de modulação "fancy" podemos limitar o baud rate do
canal, e com isso tudo, um usuário de voz pode ser acomodado tranquilamente em
dois time-slots (um para uplink e outro para downlink -
afinal de contas, a comunicação é full-duplex).
Começamos a tentar transmitir dados usando a mesma estrutura de transporte de
voz. Estes serviços CSD (circuit-switched data) tinham o problema de
modulação ineficiente e limitação de banda (1 canal, 2 time-slots). Daí porque
eles só conseguiam taxas efetivas de transmissão da ordem de 19 Kbps.
Como melhorar isso? Um caminho óbvio é melhorar o encoding dos dados,
conseguindo que uma única transição de estado do meio represente mais bits do
sinal original.
Outra é, já que não dá para mexer na largura de banda dos canais (isso
complicaria demais a convivência com a base instalada), vamos alocar mais
time-slots para transmissão, o que me dá mais tempo para transmitir os
símbolos encoded do sinal original.
Claro que, se um usuário de dados "come" mais time slots que um usuário
de voz, vc ainda tem o problema que um número relativamente reduzido de usuários
de dados pode saturar a capacidade da célula, e impedir o acesso de usuários de
voz (de onde ainda vem o grosso da receita, portanto isso não parece uma boa
idéia).
Então, como superar isso?
Encontrando uma maneira de alocar de forma mais inteligente o total de
time-slots disponível para a demanda. Desta forma, a quantidade de
time-slots que um usuário utiliza é variável ao longo da sua sessão de uso,
e quando ele não está transmitindo ou recebendo, os mesmos time-slots
podem ser reutilizados para outros usuários.
Tanto o GPRS quanto o EDGE usam, em graus variados, ambas as técnicas.
Não sou especialista o suficiente para dizer como.
Aliás, se alguém puder me explicar, estou curioso.
Grosso modo, os mesmos problemas e soluções (com as devidas adaptações de
canais/time-slots para códigos) se aplicam ao caso do CDMA (1XRTT, 1XEVDO
e 1XEVDV).
Grosso modo, este é o wireframe. O resto, como no trabalho de animação, é
acrescentar texturas, iluminação, cenários, etc. Agora me digam: é ou não a
camada física mais complicada do mundo?
[ ]'s
José Smolka
OK.
Obrigado pela rica informação.
Pelo que os demais colegas também disseram, esta otimização da banda de passagem
e dos canais, através do uso de encoding dos pacotes a que você se refere na
informação, não se dá por utilização do mesmo hardware (mesmas antenas) mas por
adição de novo hardware, com consequente duplicação da estrutura (para que o
sistema antigo não sofra interrupção e continue a se utilizar dos mesmos
equipamentos/tecnologia anteriores, ao mesmo tempo em que o novo se instala,
para absorção dos novos usuários, com irradiação e uso de nova faixa de
frequência, tecnologia, e antenas).
Não há, nesta hipótese, pelo que eu entendi, um, digamos, upgrade estrutural da
infra anterior, ou, uma evolução técnica da estrutura anterior, mas uma
verdadeira adição de nova estrutura e respectiva tecnologia a cada ponto onde já
instalada a antiga.
Seria mais ou menos, uma empresa "A", titular dos pontos "X" de antenas,
prestadora, através desses pontos, de serviços móveis com uso da tecnologia "Y"
(TDMA, por ex.), passar a implementar e prestar tanto o serviço que já
lhe havia sido delegado (faixa de frequência + área geográfica anteriormente
delimitados pela ANATEL), quanto, ao implantar nova tecnologia
(correspondentemente, otimização dos time-slots dos canais da frequência e
absorção de novas assinaturas - para dados ou voz/dados), obter,
correspondentemente: nova delegação/ANATEL (para a nova faixa de frequência com
correspondência à área de prestação - Bandas "C", "D", "E") + instalação de
equipamentos (antenas e cabeamento), sem interrupção do serviço anterior.
Pelo que estou vendo, há, então, uma superposição não só de serviços (de
licenças e estratégias comerciais) mas de toda a infra-estrutura de cada ponto
de irradiação, que passam a atuar em faixas diversas, com diversos
equipamentos..
Isso é muito importante para nós, que temos, muitas vezes, de interpretar esse
fenômeno segundo delimitadores regulatórios e jurídicos (impacto ambiental,
relação de consumo empresa-assinante, repercussão tributária, etc.), que, muitas
vezes, não deixam claro o conteúdo essencial, material, tecnológico, da mudança.
Agradeço enormemente, portanto, esta preciosa ajuda.
Só mesmo um espaço tão valioso como esse prá proporcionar acesso tão rápido e
objetivo ao conhecimento e à experiência dos colegas.
Grande abraço,
Fernando Botelho