Michael Stanton
WirelessBrasil
Ano 2000 Página Inicial (Índice)
24/07/2000
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Eleições para a Internet
No dia 31 de julho fecham-se as inscrições para poder
votar nas primeiras eleições gerais da Internet.
Se você tem mais de 16 anos e possui um endereço eletrônico, você pode tirar seu
título de eleitor já, e votar ainda este ano para um dos diretores da ICANN - a
Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (www.icann.org),
a organização responsável pela "governança" da Internet, depois que o governo
norte-americano tomou a decisão de privatizá-la em 1997.
O processo é simples e é realizado através do site da ICANN, onde tem
explicações de como se pode tornar sócio individual, com direito de voto,
através de um formulário em português (http://members.icann.org/languages/portuguese/index.html).
Ser sócio individual da ICANN é gratuito, e só requer um pouco de paciência,
pois o servidor da ICANN tem estado muito movimentado nos últimos dias, pela
iminência do término do prazo para se associar.
É preciso explicar um pouco sobre a ICANN e suas funções e antecedentes, e
porque ela é importante.
A Internet é uma federação mundial de redes, autônomas e administradas
separadamente.
O que une estas redes para fazê-las funcionarem em conjunto é a adoção de
padrões técnicas, em especial os protocolos chamados coletivamente de TCP/IP.
Esta tecnologia hoje é administrada pela IAB - Internet Architecture Board (http://www.iab.org/iab/)
, um órgão eminentemente técnico.
O TCP/IP define uma tecnologia. Para poder usá-la, é necessário adotar certas
convenções, das quais as mais importantes tratam da alocação de endereços IP
(como 200.211.26.82) e de nomes de domínios (como
www.estadao.com.br).
Estes endereços e nomes precisam ser únicos em toda a Internet, e foi
constituída a IANA - Internet Assigned Numbers Authority (http://www.iana.org)
para administrá-los corretamente.
Durante quase 20 anos a IANA se confundia com a pessoa de Jon Postel, um dos
fundadores da Internet, que passou quase toda sua vida profissional a seu
serviço.
Uma vez tive a oportunidade de conhecê-lo, em 1994, quando foi negociada a
delegação da IANA para a administração de endereços IP usadas no Brasil para o
que veio a ser a registro nacional (http://www.registro.br),
localizado na FAPESP em São Paulo.
Apesar da importância do seu trabalho, ele era uma pessoa simples, com cara de
hippie dos anos 60 - tem algumas fotos no site
http://www.postel.org.
A partir de 1997, Jon se envolveu muito com a transferência das funções da IANA
para a ICANN, e ajudou a formular os seus estatutos.
Infelizmente, ele veio a morrer logo em seguida, em outubro de 1998.
Seu amigo e colega Vint Cerf fez sua eulogia em "I remember IANA" (http://www.ietf.org/rfc/rfc2468.txt).
A ICANN, que hoje é considerado o centro de decisões sobre a Internet, é
dirigida por um presidente e 18 diretores.
Destes 18, três são selecionados por cada um de três Organizações de Suporte,
que arregimentam organizações envolvidas nas três áreas de endereços IP, nomes
de domínio e protocolos.
Destes nove diretores nenhum é brasileiro.
Os outros nove diretores serão eleitos pelos sócios individuais da ICANN, e em
outubro próximo serão realizadas as primeiras eleições para eleger um diretor de
cada um de cinco regiões do mundo.
Uma das vagas é para a região chamada "América Latina e Caribe" (AL&C), que se
estende do México à Terra do Fogo, incluindo, evidentemente, o Brasil.
Segundo o censo de computadores ligados à Internet realizada em janeiro de
2000 pela Network Wizards (http://www.isc.org/ds/WWW-200001/dist-bynum.html),
a região AL&C representa 1,6% da Internet mundial, com um total de 1.157.327
computadores registrados de uma população mundial de 72 milhões (estes números
não contabilizam computadores domésticos ou aqueles dentro das redes privativas
de empresas).
Dentro da região, o Brasil está na primeira posição com 38,6% do total, seguido
por México (35%), Argentina (12,3%), Colômbia e Chile (ambos com 3,5%).
Seria então compreensível que o Brasil seja representado nesse novo foro
importante que é a diretoria da ICANN.
Se isto realmente virá a ocorrer depende de duas coisas.
Primeiro, o tamanho da Internet brasileira precisa ser refletido no número de
sócios individuais da ICANN.
A ICANN publica o número de inscrições recebidas (http://members.icann.org/pubstats.html).
No dia 19 de julho, contabilizavam-se 52.652 sócios no mundo todo, liderados por
Japão (20.261), EUA (12.115) e Alemanha (8.674).
Da região AL&C havia parcas 689 inscrições, lideradas por México (208) e
Argentina (134).
Do Brasil havia 98, que correspondem a apenas 14% do total, muito aquém dos 38%
da população de computadores nacionais na Rede.
Desta forma, não será expresso adequadamente o peso do País na Internet.
Você, leitor, pode fazer a diferença.
Inscreva-se hoje como sócio individual da ICANN, e incentive seus colegas a
fazer a mesma coisa.
O prazo é curto, mas o benefício para a representação internacional do País é
grande.
O segundo requisito para o Brasil ter uma voz na diretoria da ICANN depende
de haver um candidato.
Felizmente, o temos na pessoa de Ivan Moura Campos, antigo professor de
computação da UFMG, que tem contribuído muito para o desenvolvimento da Internet
no País durante o tempo em que exercia o cargo de Secretário de Política de
Informática e Automação do MCT, quando a Internet foi aberta para uso universal
(1994 e 1995).
Nesta época foi criado o Comitê Gestor Internet Brasil (http://www.cg.org.br),
responsável por guiar o desenvolvimento da Internet no País, e por resolver
alguns dos problemas do que trata a ICANN a nível mundial. Desde ano passado o
Ivan voltou a presidir o Comitê Gestor, e seria bom vê-lo também na ICANN.