Michael Stanton
WirelessBrasil
Ano 2000 Página Inicial (Índice)
19/06/2000
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A convergência das redes de
comunicação
Desde a criação do telégrafo nos anos 1830, a cada nova
mídia de comunicação adotada foi criada uma rede distinta para torná-la
disponível a seus usuários.
Sucessivamente tivemos o telefone, o telex, a comunicação de dados e a TV a
cabo, cada um acompanhado por sua própria rede de serviços.
Hoje é comum o usuário final possuir conexões separadas às redes de telefonia,
de dados e de TV a cabo.
Quando se fala da convergência na área de telecomunicações, se refere à redução
para uma única conexão de rede, fornecendo todos os serviços, com conseqüente
economia de escala.
A convergência é um tema discutido desde os anos 80, quando foi reconhecida
pela primeira vez a importância crescente da comunicação entre computadores.
Com a digitalização da rede de telefonia, a voz passou a ser transmitida como
dados entre as centrais telefônicas, mantendo-se porém a rede de terminais
analógicos para os usuários finais.
Nesta época já foi defendida a extensão do canal de voz digital até o usuário
final, substituindo seu antigo telefone analógico por um aparelho digital.
Foi proposta a criação da Rede Digital de Serviço Integrados (RDSI, em inglês
seria ISDN), que levaria ao usuário uma única conexão (digital), podendo ser
usado indistintamente para voz (telefonia) e comunicação de dados em até 128
kilobits/s.
Quando foi proposto, este serviço seria revolucionário, pois os modems usados na
época eram tipicamente de 2400 bits/s.
Porém, ele demorou muito para chegar.
No Brasil, ele somente passou a ser oferecido ao público no final dos anos 90,
quando já existiam modems de 56 kbps, e outras alternativas ainda mais rápidas.
A segunda tentativa de promover a convergência veio ainda nos anos 80,
associada à introdução de fibras óticas e serviços de faixa larga.
A fibra ótica possui uma capacidade de transmissão digital tão enorme, que abriu
a possibilidade de enviar por cabo novas aplicações antes impraticáveis, tais
como televisão.
Enxergava-se a perspectiva de realizar um novo nível de integração entre as
redes de comunicação, e foi lançada a proposta de RDSI de Faixa Larga (RDSI-FL),
baseada em Asynchronous Transmission Mode (ATM).
Nesta proposta, seria criada uma rede mundial ATM, à qual todos os computadores
estariam ligados, e através de uma única conexão seria realizado acesso a
serviços de telefonia e televisão, além de dados.
Para dar suporte à transmissão de voz e vídeo, o ATM previu suporte diferenciado
para diferentes tipos de serviço, de qualidades e prioridades distintas.
A propalada convergência através de uma rede ATM não se sustentou.
Embora o ATM hoje seja muito usado nos backbones das grandes redes de dados, não
se espera para ele uma sobrevida longa.
O que teria lhe sido fatal foi a concorrência com outras tecnologias de rede,
especialmente a Ethernet, que permite interligar computadores em rede local por
um preço muito menor que o ATM.
Sem interligar diretamente as centenas de milhões de computadores das grandes
redes, o ATM passou a ser apenas mais uma tecnologia de rede, entre várias, e
requerendo ainda uma tecnologia de inter-redes, tal como o TCP/IP da Internet
para comunicação fim-a-fim.
O ATM não deverá sobreviver porque ele é muito complexo e caro comparado com as
alternativas mais recentes.
Hoje acredita-se que a convergência entre as redes de serviços será realizada
através do TCP/IP, estendido para tratar prioritariamente aplicações como voz e
vídeo.
A extensão mais promissora se chama Serviços Diferenciados, que permite uma
classificação simples de aplicações, de acordo com seu grau de urgência ou
importância, ou com o preço cobrado para sua transmissão. Nesta visão, a
Internet deverá deixar de ser uma rede onde todos usuários são tratados de forma
igual.
Será este o preço a pagar para se tornar a rede única para todos os serviços
diferentes.
Devem aparecer novos serviços, talvez principalmente de entretenimento, pelos
quais vai se pagar um preço maior do que pelo serviço tradicional de hoje.
A cara do futuro já está se evidenciando a nível mundial através das fusões
entre empresas operadoras de serviços de telecomunicações (telefonia e TV a
cabo), e entre fabricantes de equipamentos.
Entre fabricantes de telefonia, há uma corrida generalizada para a tecnologia
TCP/IP de comunicação de dados, geralmente através da aquisição de empresas
especializadas.
A conseqüência mais evidente é o lançamento nos últimos meses de equipamentos de
telefonia IP, termo que caracteriza a comunicação por voz, com qualidade e
recursos da telefonia, usando redes de dados para sua transmissão.
Alguns casos incluem a aquisição da Bay Networks pela Nortel Networks, da Fore
Systems pela Marconi, e da Xylan pela Alcatel.
Desconfia-se que não há um futuro muito róseo para um fabricante de equipamentos
de telefonia que não acompanhe esta evolução.
Enfim, parece que a tecnologia vai permitir realizar a sonhada convergência
para uma rede única.
Porém isto só deve trazer benefícios para o usuário final, se ele tiver a
liberdade de escolher quem será seu provedor destes serviços integrados.
Para esta pergunta não se pode postular ainda uma resposta.