Michael Stanton

WirelessBrasil

Ano 2004       Página Inicial (Índice)    


22/08/2004
A identificação por radiofreqüência está chegando

Na verdade, ela já está em uso entre nós. A forma mais comum, por enquanto, é o "passe eletrônico" colado no pára-brisa do carro e usado em nossas estradas para pagar o pedágio sem precisar parar, mas ela também vem sendo usada em cartões de identificação que podem ser lidos sem contato. O nome genérico para esta tecnologia em inglês é "radio frequency identification" (RFID), ou seja, a identificação por radiofreqüência. Esta tecnologia permite realizar remotamente o armazenamento e recuperação de informação usando um dispositivo chamado de etiqueta de rádio-identificação ("RFID tag", em inglês), um objeto pequeno que poderá ser afixado a, ou incorporado em, um produto ou bem, ou até num ser vivo. A etiqueta de identificação por radiofreqüência possui uma antena de rádio que permite receber pedidos enviados por uma leitora de identificação por radiofreqüência e transmitir respostas. (v. www.projetoderedes.com.br/artigos/artigo_identificacao_por_radiofrequencia.html).

O uso de identificação por radiofreqüência é visto por alguns como uma extensão, através de adoção de uma nova tecnologia, dos códigos de barras, que são lidos opticamente para permitir a identificação automática (v. www.eanbrasil.org.br). Códigos de barras são usados no comércio, nos serviços de transportes em geral, e até em identificação das pessoas. No comércio, já existe um acordo internacional para adoção de códigos globalmente únicos para produtos, chamados de "Números Globais de Item Comercial", ou GTINs (do inglês), sendo o formato mais comum chamado de EAN-13, de 13 dígitos decimais. Os produtos fabricados no Brasil usando este formato começam com os códigos nacionais 789 ou 790, e incluem um código de produtor e código de produto, que juntos possuem 10 dígitos. Para o comércio, a adoção de códigos de barra tem simplificado a operação de ponto de venda, eliminando a necessidade de usar etiquetas de preço nos produtos e o registro potencialmente errôneo destes preços pelo operador do caixa. Adicionalmente, esta automação simplifica controle de inventário, pois o registro correto das vendas permite deduzir a quantidade de itens ainda no estoque.

A próxima etapa da automação do comércio envolverá a própria identificação por radiofreqüência. As vantagens potenciais de identificação por radiofreqüência sobre código de barros são diversas. A principal é realizar a identificação sem contato nem visada direta do produto. Em segundo lugar, o código eletrônico permite identificar, não apenas o tipo do produto como também seu número de série, permitindo identificar individualmente cada item revendido. É evidente que isto não será explorado para itens de menor valor, mas poderá ter grande utilidade onde o item for mais caro ou complexo, onde podemos ter um histórico próprio da sua produção e características. A descrição eletrônico do produto é descrita no sítio www.eanbrasil.org.br/servlet/ServletContent?requestId=43.

As etiquetas de identificação por radiofreqüência usadas para pagar o pedágio nas estradas normalmente têm sua próprias baterias elétricas, mas as etiquetas mais novas são passivas, sem fonte de energia própria. O pequeno corrente elétrico induzido na sua antena pelo sinal de rádio enviado pela leitora RFID é suficiente para a etiqueta poder transmitir sua resposta. Devido a limitações de energia, a resposta é necessariamente curta, de em torno de cem até algumas centenas de bits. Sem fonte de energia, a etiqueta pode ser muito enxuta: as menores etiquetas disponíveis comercialmente são 0,4 mm por 0,4 mm e da espessura de uma folha de papel, o que as tornam quase invisíveis. Elas podem ser coladas ao lado de fora de um objeto, ou enxertado debaixo da pele de um animal ou pessoa. O alcance do seu funcionamento varia de 10 mm a 5 metros.

A ampla utilização de etiquetas RFID decolará quando seu custo é uma pequena fração do valor do objeto identificado. Hoje o custo da sua fabricação é 25 centavos do dólar norte-americano, ou seja, em torno de R$ 0,75. Se conseguirem reduzir este custo para R$ 0,15, é previsível sua ampla adoção para etiquetar produtos individuais no comércio, por exemplo, no supermercado. Por enquanto, isto ainda não uma alternativa economicamente viável. Examinaremos a seguir alguns exemplos da sua utilização hoje em outras países.

A Delta Airlines, empresa de aviação norte-americana, anunciou em julho que vai adotar os uso de etiquetas RFID na bagagem dos seus passageiros. Hoje, são extraviados quatro peças de bagagem em cada mil transportadas, e o custo anual de localizá-las chega a US$ 100 milhões. Espera-se economizar este custo com emprego da nova tecnologia. (v. zdnet.com.com/2100-1105_2-5254118.html).
 

A Wal-Mart, grande empresa varejista dos EUA, está exigindo que seus 100 maiores fornecedores adotem a tecnologia RFID até janeiro de 2005. Com isto, será possível dispor de informação de melhor qualidade sobre os próprios produtos, bem como melhorar a gestão do seu inventário. Neste processo, na maioria dos casos, as etiquetas RFID serão afixadas às caixas dos produtos, ao invés do que às embalagens individuais. (v. zdnet.com.com/2100-1103_2-5202240.html).

A Digital Angel fabrica dispositivos para identificação de animais, principalmente os domesticados criados para alimentação e laticínios. Recentemente passou-se a usar RFID para esta finalidade, com o implante da etiqueta de RFID em cada animal (v. http://www.destronfearing.com/rfid.htm). Esta forma de identificação tem permitido a extensão da sua aplicação para incluir também animais de estimação, facilitando eventualmente sua recuperação depois de perdidos. Uma empresa associada, a Verichip, desenvolveu e comercializa uma etiqueta do tamanho de um grão de arroz, que permite sua implantação em seres humanos (v. http://www.4verichip.com/verichip.htm). Este produto, também chamado "verichip", tem sido dirigido principalmente para identificação seguro de pacientes médicos que não estão totalmente competentes, ou por terem sofrido acidentes, ou por estarem desmemoriados, por exemplo, por problemas de senilidade. Uma outra aplicação vem sendo demonstrada por um boate em Barcelona, Espanha, onde os clientes têm como alternativa para controle de consumo o implante deste verichip. (v. http://www.terra.com.br/istoe/1810/ciencia/1810_vigilancia_em_rede.htm).

O que vimos até aqui são os propostos benefícios da tecnologia RFID. Quais são os aspectos negativos? Foram apontados vários: a perda de privacidade, o aumento de insegurança e o desemprego.

A perda de privacidade advém da possibilidade, já de certa forma existente com o uso da automação comercial, de poder relacionar o indivíduo com seu padrão de consumo, quando a compra é realizada de forma identificável, tal como cartão de crédito ou débito, ou com cartão de fidelidade. Cada vez mais, as lojas acumulam informações sobre como gastamos nosso dinheiro, e esta informação poderá ser repassado para outros interessados em bisbilhotar as nossas vidas. Se estes cartões, especialmente de fidelidade venha a utilizar tecnologia RFID, poderá até ser identificada nossa presença na loja e disparados anúncios de propaganda de produtos que a loja sabe que acostumamos comprar - alguém que já fez compras num sítio sofisticado como Amazon reconhecerá este fenômeno.

O aumento insegurança poderá vir do uso das leitoras RFID por terceiros, que com seu própria leitora RFID poderá descobrir a presença de produtos etiquetados em nossos bolsos e bolsas. Isto poderá ser um prato cheio para um assaltante, que assim poderá escolher com cuidado a quem roubar. Em algumas circunstâncias poderá ser desejável inabilitar as etiquetas RFID depois de realizada a venda. Um outro perigo é a criação de classes de etiquetas RFID que cujo conteúdo poderá ser alterado por rádio. Este permitiria seu uso para registrar informação potencialmente útil. Por exemplo, a sua utilização numa estrada com pedágio, onde o valor cobrada depende do trajeto, a etiqueta RFID poderia armazenar o ponto de entrada na estrada, e informar isto na saída. Um usuário poderia querer modificar esta informação para pagar um valor menor. Uma perigo semelhante ocorre se a informação modificável se refere à identificação do próprio produto numa loja, onde poderia ser substituído na etiqueta a identificação de um produto mais barato.

Finalmente, se as empresas estão motivadas a adotar a tecnologia RFID para reduzir custos, alguns críticos argumentam que é mais do que provável que esta economia incluirá a redução da força de mão de obra, conseqüência da automação pretendida, pelo menos nas atividades relacionados ao controle de inventário hoje feito com leitura de códigos de barra. Entretanto, espera-se que boa parte dos atuais empregados nestas atividades seja transferida para atividades mais nobres. (v. management.silicon.com/itdirector/0,39024673,39121837,00.htm).

Uma coisa é certa: a RFID veio para ficar.