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Considerações sobre os Efeitos à Saúde Humana da Irradiação Emitida por Antenas de Estações Rádio-Base de Sistemas Celulares     (5)

Autores:  Maurício Henrique Costa Dias e Gláucio Lima Siqueira 

V. Demais Efeitos em Estudo  

      A interferência com outros equipamentos eletrônicos é um efeito que, a princípio, nada tem a ver com a saúde. A exceção ocorre quando o aparelho em questão atua como suporte à vida de uma pessoa, como é o caso dos marcapassos cardíacos. De qualquer forma, não há evidências de que isto ocorra, pelo menos dentro dos limites das diretrizes de segurança. É possível entretanto, que os próprios celulares possam interferir se a antena for postada diretamente sobre o marcapasso. Entretanto, a ocorrência deste problema é relatada apenas para alguns tipos de telefones digitais e alguns tipos de marcapasso [5].

      A outra grande preocupação dos pesquisadores atualmente, com relação à exposição à irradiação de RF, além da possível associação com o câncer, são os chamados “efeitos não-térmicos”. Na verdade, mesmo alguns estudos sobre o câncer estão associados a efeitos deste tipo. Os efeitos não-térmicos não são mediados pelo calor, mas sim devidos à interação direta do campo

eletromagnético com moléculas ou componentes do tecido, uma vez que suas partículas tentarão se orientar com o campo elétrico de modo a minimizar sua energia potencial. Tais efeitos ainda não são muito bem compreendidos e suas conseqüências exatas para a saúde humana ainda estão sendo investigadas [4].

      Vários trabalhos têm sido publicados relatando evidências de efeitos fisiológicos e comportamentais em geral. Ainda que estes resultados careçam de replicação, alguns efeitos são detalhados nesta seção.

      Uma linha de pesquisa que vem ganhando atenção é a que procura identificar efeitos não-térmicos associados especificamente ao fato de a irradiação dos celulares ser pulsada, ou seja, ao fato do sinal irradiado ser modulado. Alguns trabalhos nesta linha também são abordados aqui.   

V.1. Efeitos fisiológicos e comportamentais  

      Um possível efeito fisiológico é a dor-de-cabeça. Na verdade, ninguém tem alegado haver evidências de que a irradiação das ERBs causem dores de cabeça, mesmo porque, não há base biofísica ou fisiológica para tal. Entretanto, alguns estudos reportam este efeito nos usuários dos telefones celulares. Tendo em vista esta associação, é possível que este efeito ocorra [5].

      De maneira geral, os estudos com usuários de aparelhos celulares indicando alguma evidência de mudança comportamental ou fisiológica ainda não foram replicados. Em particular, considerando-se os baixos níveis de exposição associados a uma ERB, nenhum dos estudos provê evidência substancial de que a irradiação naqueles níveis possa causar algum risco à saúde. Na verdade, muitos dos efeitos reportados nem implicam necessariamente na existência de um risco [5].

      Entre os controversos e não replicados efeitos à saúde de pessoas analisadas citados na literatura estão [5]:

-          aumento na pressão sanguínea;

-          alteração da atividade elétrica do cérebro;

-          pequenas mudanças em exames de eletro-encefalograma (EEG);

-          pequenas mudanças no padrão de sono.

Na contramão da divulgação de efeitos possivelmente perigosos, um trabalho recente relatou que a exposição de pessoas voluntárias à irradiação de telefones celulares em 900 MHz melhorou seus desempenhos em testes que avaliavam a capacidade de atenção daquelas pessoas [34].

      As mesmas observações feitas quanto a estudos com usuários voluntários se aplicam aos resultados de estudos com animais ou células, de modo geral. Alguns efeitos nocivos citados com ratos são perdas na memória de longo prazo, e redução do tempo de reação [5]. Por outro lado, mantendo a controvérsia sobre tais resultados, uma pesquisa recente com ratos expostos à irradiação de 900 MHz, com SAR entre 1 e 3,5 W/kg, por 45 minutos diários, e apenas sobre as cabeças, não indicou efeito algum sobre o processo de aprendizagem testado [35].

      O pesquisador H. Lai há algum tempo defende a existência dos efeitos não-térmicos, baseado em pesquisas com ratos e células. Suas pesquisas indicam efeitos no sistema nervoso de ratos expostos a RF nos níveis limites das diretrizes de segurança. Além das próprias pesquisas, ele aponta outras que indicam efeitos biológicos de RF em “muito baixa” intensidade, tais como:

-          possibilidade de danos à barreira de sangue que resguarda o cérebro de certas toxinas;

-          mudanças na percepção de cálcio pelas células.

-          mudanças na proliferação das células;

-          redução da fertilidade de ratos;

-          redução da alimentação e bebida de ratos;

Os trabalhos, resultados e interpretações que apontam os efeitos acima tem sido alvo de controvérsia entre os especialistas [5].

      Um trabalho recente de pesquisadores da UFPB apresentou resultados preliminares de um estudo de longo prazo com ratos de laboratório. O grupo exposto era submetido a uma irradiação diária de 1,6 mW/cm2 em 2450 GHz, por uma hora, ao longo de 1 ano (4 gerações de ratos). A densidade de potência irradiada corresponde ao limiar de segurança da C95.1. Dentre os resultados mais relevantes, verificou-se uma redução da ordem de 20% do número de filhotes gerados, em comparação com o grupo controlado (não exposto). Indícios de efeitos comportamentais também foram detectados [7]. Vale destacar que o trabalho foi inédito no Brasil, e aparentemente é mais um que aponta os indícios de redução de fertilidade e da ingestão de comida e água já citadas por Lai. Mais ainda, até o momento, não há menção deste trabalho por parte do comitê especializado da WHO. Por outro lado, como qualquer estudo com ratos, a interpretação dos resultados ainda é motivo de controvérsia, e a pesquisa ainda carece de replicação.

      Defeitos de nascença e abortos são efeitos fisiológicos também citados como possíveis conseqüências da exposição à irradiação de RF. Entretanto, os níveis de exposição em que tais efeitos foram relatados eram altos o suficiente para causar aquecimento do corpo inteiro, ou seja, trata-se de um efeito térmico. Nos níveis da irradiação emitida por ERBs, insuficientes para causar tal aquecimento, não há qualquer evidência de laboratório ou epidemiológica daqueles efeitos [5]. 

V.2. Efeitos da modulação  

      A maioria das pesquisas sobre os efeitos biológicos da irradiação opera com uma portadora contínua, não modulada em seus experimentos. Na prática entretanto, além da freqüência da portadora, os sinais transmitidos por celulares são modulados, e tal modulação corresponde a variações em freqüências bem mais baixas que a da portadora. Alguns pesquisadores acreditam que estas variações especificamente seriam a causa de alguns efeitos biológicos.

      O pesquisador norte-americano W. Ross Adey, que estuda tais efeitos há mais de 20 anos, tem realizado alguns trabalhos nos quais sinais modulados são utilizados. Uma de suas pesquisas, por exemplo, verificou que a irradiação modulada em amplitude nas freqüências de 150 e 450 MHz poderiam produzir mudanças na percepção de cálcio em células do sistema nervoso. Trabalhos posteriores de outros autores, entretanto, refutaram aquelas conclusões [1].

      Um grande defensor da teoria de que a modulação seria por si só causadora de alguns efeitos fisiológicos e comportamentais é o biofísico G. J. Hyland. Suas considerações sobre os efeitos da modulação empregada nos celulares [36] tem sido muito citadas aqui no Brasil como uma das evidências dos perigos das ERB [10].

Hyland é reconhecido como um especialista sobre mecanismos de interação da irradiação não-ionizante com organismos vivos, inclusive o homem, e é um crítico feroz das atuais diretrizes de segurança adotadas internacionalmente, tanto com relação aos níveis adotados, que ele considera altos demais, como com relação à própria filosofia de desenvolvimento daquelas diretrizes, baseadas essencialmente nos efeitos térmicos, e na premissa de que os efeitos não-térmicos já reportados ainda carecem de replicação. Segundo ele, esta demanda por reprodutibilidade das evidências de efeitos não-térmicos seria descabida, já que tais efeitos só se verificam com seres vivos. Como cada ser vivo apresenta um metabolismo que pode ser muito diferente de um para o outro, mesmo tratando-se da mesma espécie (do homem, por exemplo), seria impossível garantir reprodutibilidade de efeitos em tentativas de replicações, nos moldes de como se costuma exigir para efeitos térmicos.

      Hyland usa o conceito de “coerência”, ou seja, da possibilidade de haver interferência construtiva (em fase) entre as atividades elétricas do organismo e a irradiação a que ele possa estar submetido como base para suas considerações. Por exemplo, ele cita as ondas cerebrais, cujas freqüências seriam da ordem de dezenas de hertz, como passíveis de interferência com a irradiação de baixa freqüência dos celulares. Tais freqüências ocorrem não somente na banda básica do sinal modulante, mas também em alguns processos de gerenciamento de recursos do sistema celular – a sinalização periódica que o aparelho faz para a ERB quando está em estado de espera é um exemplo disso. Esta parece ser a preocupação mais concreta daquele pesquisador, e a partir dela ele especula sobre os possíveis efeitos não-térmicos das freqüências de microondas, a partir dos relatos e evidências encontrados na literatura.

      Os efeitos citados por Hyland como decorrentes da modulação, ou mais precisamente, da coerência nas freqüências existentes na irradiação, seriam principalmente danos ao funcionamento dos sistemas nervoso e imunológico de organismos vivos. E ainda que a irradiação de microondas seja não-ionizante, ele não descarta sequer a possibilidade de indução de câncer. Hyland acredita que a exposição poderia causar interferência com o processo de reparação natural do DNA, produzindo aberrações em cromossomos e micronúcleos.       

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