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Série de artigos sobre VoIP (4) |
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José de Ribamar Smolka Ramos |
Série
de artigos sobre
VoIP
Quarto artigo - Parte 05
Série VoIP (4) – Dimensionamento VoIP (WAN)
(Continuação)
Calculando o delay:
Para que percepção dos usuários VoIP quanto à qualidade da conversação seja aceitável, procura-se limitar o delay total, fim a fim, em 150 ms.
Neste delay estão incluídos os tempos de processamento da voz, tanto na origem (encoding) quanto no destino (dejitter e decoding). Então, por segurança, vamos considerar que o delay imposto pela rede TCP/IP deve ficar abaixo de 100 ms.
Os componentes do delay causado pela rede são:
- Delay de roteamento (DR) – Tempo de processamento do pacote no roteador. Depende da capacidade de processamento de pacotes do roteador;
- Delay de enfileiramento (DQ) – Tempo de espera no buffer de transmissão do roteador. Depende do tamanho médio dos frames físicos EF e da banda total do link;
- Delay de transmissão (DT) – Tempo que um frame físico ocupa o link. Depende do tamanho médio dos frames EF e da banda total do link;
- Delay de propagação (DP) – Tempo de propagação do sinal através do link. Depende do comprimento do link. Como regra geral, use as seguintes fórmulas[1]:
Para obter DP em ms, com o comprimento l do link expresso em km. Um enlace via satélite causa um delay de propagação da ordem de 390 ms. Outro fator que aumenta este delay é a forma de multiplexação (PDH, SDH, quantidade de multiplexadores, etc.) utilizada pelo provedor dos links seriais. Na dúvida, acrescente mais um ou dois milissegundos por conta disto.
Queremos calcular o delay provável ao longo das rotas que o tráfego segue entre os roteadores de origem e destino.
Como todos os links do nosso exemplo tem a mesma capacidade, e considerando o tamanho médio do frame físico EF (ver figura 8), o delay de transmissão em cada link será sempre o mesmo, igual a:
Supondo agora que todos os roteadores possuem a mesma capacidade de processamento de pacotes, igual a 100 Kpps, o delay de roteamento de um pacote também será sempre o mesmo, igual a:
Supondo, também, que todos os link são metálicos com comprimento na ordem de 500 km, e considerando mais 1 ms por conta da multiplexação nos links, temos:
Para casos reais, estes cálculos tem que ser feitos caso a caso, conforme as características específicas dos links e dos roteadores (mais arrays...).
Para o cálculo do DQ vamos usar o modelo Erlang C. Portanto, vamos começar calculando a intensidade do tráfego EF bidirecional em cada interface, em Erlangs. Considerando os valores de Kbps bidirecionais (ver figura 9), a intensidade de tráfego cursado, em Erlangs, em cada sentido dos links é dada pela divisão do tráfego em Kbps pela capacidade do link (também em Kbps). Para nosso exemplo, isto é mostrado na figura 10.
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R1 |
R2 |
R3 |
R4 |
R1 |
0 |
0,184 |
0 |
0,188 |
R2 |
0,184 |
0 |
0,204 |
0 |
R3 |
0 |
0,204 |
0 |
0,211 |
R4 |
0,188 |
0 |
0,211 |
0 |
Figura 10 – Erlangs por interface |
Como vimos na seção
sobre a teoria do tráfego telefônico, estes valores de intensidade de tráfego (A)
correspondem, de acordo com o modelo Erlang C para N = 1, à probabilidade
de ocorrência de delay para um pacote, porque, neste caso P(>0) = A.
O tempo médio de retenção do circuito tm é igual DT. Então, o tempo médio de enfileiramento para os pacotes que sofrerem delay é:
E o delay médio para todos os pacotes será:
Aplicando esta fórmula a todos os elementos não nulos da figura 10, temos os valores médios para DQ em cada link, em ms, mostrados na figura 11:
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R1 |
R2 |
R3 |
R4 |
R1 |
0 |
0,04 |
0 |
0,04 |
R2 |
0,04 |
0 |
0,04 |
0 |
R3 |
0 |
0,04 |
0 |
0,04 |
R4 |
0,04 |
0 |
0,04 |
0 |
Figura 11 – DQ médio por link (ms) |
O DQ é apenas uma parte da resposta. Normalmente também queremos avaliar a probabilidade de jitter (variação no delay), portanto precisamos fazer alguns cálculos a mais.
Supondo todos os fatores sob controle, o delay mínimo que um pacote pode sofrer em uma interface é DT + DR + DP (quando DQ é igual a zero). No nosso exemplo, este valor é aproximadamente 3,24 ms.
Cada administrador tem que definir o grau de probabilidade que ele quer associar ao cálculo do jitter. Vamos usar o seguinte: assumimos como DQ máximo desejável o dobro do DQ calculado, e vamos verificar qual a probabilidade de ocorrência deste valor.
A fórmula para probabilidade de ocorrência de delay maior ou igual a t é:
Então, para o nosso caso, a probabilidade de DQ ficar abaixo do dobro dos valores calculados na figura 11 será:
A figura 12 mostra estas probabilidades, para nosso caso:
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R1 |
R2 |
R3 |
R4 |
R1 |
0 |
92,3% |
0 |
92,1% |
R2 |
92,3% |
0 |
91,3% |
0 |
R3 |
0 |
91,3% |
0 |
90,9% |
R4 |
92,1% |
0 |
90,9% |
0 |
Figura 12 – Probabilidade DQ máx. |
Adicionalmente, vamos verificar qual o tempo t para o qual é esperado que, em 99,999% dos casos (o famoso five 9’s), DQ fique menor ou igual a ele. Partindo novamente da expressão para a probabilidade de DQ ser maior ou igual a t.
Aplicando esta fórmula aos dados não nulos da figura 10, temos a figura 13.
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R1 |
R2 |
R3 |
R4 |
R1 |
0 |
1,805 |
0 |
1,818 |
R2 |
1,805 |
0 |
1,870 |
0 |
R3 |
0 |
1,870 |
0 |
1,893 |
R4 |
1,818 |
0 |
1,893 |
0 |
Figura 13 – DQ para P= 99,999% (ms) |
Sintetizando tudo que encontramos nas figuras 11, 12 e 13, associados ao delay mínimo de 3,24 ms, podemos finalmente dizer quais são os delays esperados por interface, suas probabilidades e o delay que engloba 99,999% das ocorrências, conforme a figura 14.
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R1 |
R2 |
R3 |
R4 |
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Médio |
99,999% |
Médio |
99,999% |
Médio |
99,999% |
Médio |
99,999% |
R1 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,05 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,06 |
R2 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,05 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,11 |
0 |
0 |
R3 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,11 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,13 |
R4 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,06 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,13 |
0 |
0 |
Figura 14 – Delay médio e para P=99,999%, por interface (ms) |
Para avaliar o delay provável ao longo das rotas, vamos considerar que:
- O delay médio na rota é igual à soma dos delays médios de todos os roteadores ao longo da rota;
- A variabilidade esperada para o delay médio na rota é igual à soma das variabilidades dos delays médios de todos os roteadores ao longo da rota;
- A probabilidade de ocorrência do delay médio ao longo na rota é igual ao produto das probabilidades de ocorrência dos delays médios de todos os roteadores ao longo da rota;
- O delay que engloba o maior número de ocorrências na rota é igual à soma dos delays que englobam o maior número de ocorrências de todos os roteadores ao longo da rota;
- A probabilidade de ocorrência do delay que engloba o maior número de ocorrências na rota é igual ao produto das probabilidades de ocorrência dos delays que englobam o maior número de ocorrências de todos os roteadores ao longo da rota.
Então, finalmente, para respondermos nossas últimas duas perguntas, aplicamos estes princípios aos dados da figura 14, obtendo a figura 15.
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R1 |
R2 |
R3 |
R4 |
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Médio |
Máximo |
Médio |
Máximo |
Médio |
Máximo |
Médio |
Máximo |
R1 |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,05 (99,999%) |
6,56±0,08 (85,2%) |
10,1 (99,998%) |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,06 (99,999%) |
R2 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,05 (99,999%) |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,11 (99,999%) |
6,56±0,08 (85,2%) |
10,24 (99,998%) |
R3 |
6,56±0,08 (85,2%) |
10,19 (99,998%) |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,11 (99,999%) |
0 |
0 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,13 (99,999%) |
R4 |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,06 (99,999%) |
6,56±0,08 (85,2%) |
10,11 (99,998%) |
3,28±0,04 (92,3%) |
5,13 (99,999%) |
0 |
0 |
Figura 15 – Delay médio e máximo e suas probabilidades, nas rotas (ms) |
Se os valores encontrados não sejam satisfatórios, volte ao início e diminua o fator de bloqueio utilizado (usamos 5%, lembra?). Desta forma o número de circuitos calculados por Erlang B vai aumentar, e a banda EF também. Isto faz a ocupação das interfaces cair (em Erlangs), e a faixa de excursão dos delays estreitará.
[1] Estas fórmulas consideram que a velocidade de propagação de ondas eletromagnéticas via meios metálicos ou óticos é de 0,8.c, e via rádio é de 0,9.c.