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ASPECTOS DE RÁDIO - PROPAGAÇÃO (1) |
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Autor: Marcio Eduardo da Costa Rodrigues (*) |
Parte da Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio
Abril de 2000.
Autor: Marcio Eduardo da Costa Rodrigues.
Orientadores: Luiz Alencar Reis da Silva Mello e Flávio José Vieira
Hasselmann.
1. Introdução
Este capítulo apresenta a conceituação básica da rádio-propagação, iniciando-se pela descrição de mecanismos e características pertinentes a cada região do espectro de rádio-freqüências. Por serem de maior interesse neste trabalho, as características de propagação em ambientes celulares serão exploradas com um maior grau de profundidade, onde será dada especial atenção aos novos sistemas micro e picocelulares, tanto interiores (indoor) quanto exteriores (outdoor).
O canal de rádio-propagação, pela sua natureza aleatória e
dependente da faixa de freqüências utilizada, não é de fácil compreensão,
exigindo estudos teóricos e dados estatísticos para sua caracterização. Há
três formas (modos) básicas de propagação, a partir das quais podem ocorrer
subdivisões. Os modos podem ser compreendidos através do diagrama da
[1].
Figura
3-1 - Modos
básicos de rádio-propagação
O modo de maior importância no estudo da propagação em comunicações
celulares é o modo das ondas terrestres. Em especial, as ondas espaciais são
predominantes na faixa de freqüências e distâncias envolvidas nesse
tipo de sistema. No diagrama
da , a onda direta e a onda
refletida no solo representam mecanismos básicos de propagação. Nas situações
práticas o que se encontra é, somada a esses dois mecanismos, a ocorrência de
ondas espalhadas, difratadas e, dependendo do ambiente, ondas transmitidas através
de obstáculos.
Dependendo da faixa de freqüências utilizada, do ambiente e das
distâncias envolvidas, haverá predomínio de um ou alguns mecanismos sobre os
demais. A
[2]
a seguir, apresenta um sumário das faixas de freqüência rádio, suas características
(mecanismos de propagação envolvidos) e aplicações.
Freqüências |
Mecanismos
de propagação |
Efeitos
da atmosfera e do terreno |
Aspectos
de sistema |
Tipos
de serviço |
ELF (30
- 300 Hz) |
onda
“guiada” entre a ionosfera e a superfície da Terra e refratada até
grandes profundidades no solo e no mar |
atenuação
em 100 Hz entre 0,003 e 0,03 dB/km sobre o solo e de 0,3 dB/km sobre a água
do mar |
antenas
(cabos aterrados) gigantescas; taxas de transmissão muito baixas (1 bps) |
comunicação
com submarinos, minas subterrâneas; sensoriamento remoto do solo |
VLF (3
- 30 kHz) |
onda
“guiada” entre a camada D da ionosfera e a superfície da Terra e
refratada no solo e no mar |
baixas
atenuações sobre o solo e no mar |
antenas
de tamanho viável têm ganho e diretividade muito baixos; taxas de
transmissão muito baixas |
telegrafia
para navios com alcance mundial; serviços de navegação; padrões horários |
LF (30
- 300 kHz) |
onda
“guiada” entre a camada D da ionosfera e a superfície da Terra até
100 kHz, com a onda ionosférica tornando-se distinta acima desta freqüência |
desvanecimento
em distâncias curtas devido à interferência entre a onda ionosférica e
a de superfície |
antenas
de tamanho viável têm ganho e diretividade muito baixos; taxas de
transmissão muito baixas |
comunicação
de longa distância com navios; rádio-difusão e serviços de navegação |
MF (300
- 3000 kHz) |
onda
de superfície a curta distância e em freqüências mais baixas e onda
ionosférica a longa distância |
atenuação
da onda de superfície reduz sua cobertura a 100 km; onda ionosférica
forte à noite |
possibilidade
de uso de antenas de 1/4 de onda e antenas diretivas com múltiplos
elementos |
rádio-difusão,
rádio-navegação e alguns serviços móveis |
HF (3
- 30 MHz) |
onda
ionosférica acima da distância mínima; onda de superfície a distâncias
curtas |
comunicação
muito dependente do comportamento da ionosfera; onda de superfície
bastante atenuada |
uso
de antenas log-periódicas e conjuntos horizontais de dipolos; sistemas de
poucos canais |
fixo
ponto-a-ponto; móvel terrestre, marítimo e aeronáutico; rádio-difusão |
VHF (30
- 300 MHz) |
propagação
em visibilidade; difração; tropodifusão (ondas
espaciais) |
efeitos
de refração; multipercursos; difração pelo relevo; espalhamento
troposférico |
antenas
Yagi (dipolos múltiplos) e helicoidais; sistemas de baixa e média
capacidade |
fixo
terrestre; móvel terrestre e por satélite; rádio-difusão; rádio-farol |
UHF (300
- 3000 MHz) |
propagação
em visibilidade; difração; tropodifusão (ondas
espaciais) |
efeitos
de refração; multipercursos e dutos (faixa alta); difração e obstrução
pelo relevo |
antenas
Yagi (dipolos múltiplos), helicoidais e de abertura; sistemas de média e
alta capacidade |
fixo
terrestre; radar móvel terrestre e por satélite; rádio-difusão e TV;
celular e PCS (Personal Communication Systems) |
SHF (3
- 30 GHz) |
propagação
em visibilidade |
desvanecimento
por multipercursos; atenuação por chuvas (acima de 10 GHz); obstrução
pelo terreno |
antenas
de abertura; sistemas de alta capacidade |
fixo
terrestre e por satélite; móvel terrestre e por satélite; sensoriamento
remoto; radar |
EHF (30
- 300 GHz) |
propagação
em visibilidade |
desvanecimento
por multipercursos; atenuação por chuvas; absorção por gases; obstrução
por edificações |
antenas
de abertura; sistemas de alta capacidade |
rádio
acesso fixo e móvel; sistemas por satélite; sensoriamento remoto |
Tabela 3-1 - Aspectos
gerais de rádio-propagação
A faixa de freqüências
escolhida para os primeiros sistemas celulares, e que ainda é predominante, está
situada na faixa entre 800 MHz e 900 MHz. Essa escolha não é casual, estando
vinculada a uma série de fatores, entre eles: [1]
- para o uso de antenas omnidirecionais eficientes, mantendo um tamanho adequado para sua instalação nos terminais móveis, a freqüência utilizada não pode ser muito baixa – antenas mais eficientes têm comprimento entre l/8 e l/4, onde l é o comprimento de onda, que aumenta com o decréscimo da freqüência. Logo, freqüências muito baixas acarretariam em antenas grandes. Assim, é imposto um limite inferior à faixa de freqüências;
- pela característica de alta mobilidade dos sistemas celulares e por, na maioria das vezes, o usuário estar imerso no ambiente urbano, situações de visibilidade entre móvel e base são pouco prováveis, inviabilizando faixas de freqüência mais altas, que se fundamentam nesse mecanismo de propagação. A comunicação deve ser estabelecida primordialmente pelos mecanismos de reflexão, difração e espalhamento, e ainda, a onda propagante deve ser capaz de penetrar edificações. Esses fatores impõem um limite superior à faixa de freqüências.
Pelo exposto, conclui-se que as faixas adequadas seriam as de VHF (30 MHz– 300 MHz) e especialmente UHF (300 MHz – 3000 MHz). Fatores como interferência com outros sistemas na mesma faixa (televisão e sistemas militares e aéreos, entre outros) e desenvolvimento tecnológico incipiente na época, levaram à delimitação de um subgrupo dentro das faixas adequadas, que resultou na faixa hoje utilizada.
2. Mecanismos e efeitos de propagação
Os mecanismos de propagação predominantes na faixa de freqüências usada em sistemas celulares são: visibilidade, reflexão (incluindo múltiplas reflexões e espalhamento) e difração (incluindo múltiplas difrações). É usual se denominar a reflexão especular de reflexão apenas, e a reflexão difusa de espalhamento.
O efeito de propagação que se pronuncia é o multipercurso, pois o sinal resultante recebido é devido à composição de inúmeras versões do sinal original transmitido, que percorreram diferentes percursos determinados, em grande parte, pelas reflexões e difrações que sofreram. Outro efeito de propagação é o que se manifesta através da flutuação do nível de sinal devido a obstruções geradas pelo relevo ou criadas pelo homem. Esse efeito é conhecido por sombreamento.
Quando do projeto de um sistema, a determinação exata das características de mecanismos e efeitos é muito importante. Os mecanismos de propagação determinam a atenuação de propagação no enlace e, consequentemente, o valor médio do sinal no receptor. A compreensão dos mecanismos envolvidos é básica para o cálculo do raio máximo de uma célula. Por outro lado, os efeitos de propagação determinam as flutuações rápidas e lentas do sinal em torno de seu valor médio. As flutuações que reduzem o valor do sinal abaixo da média são o que se denomina desvanecimento (em pequena escala ou, usualmente, desvanecimento rápido; e em larga escala ou, usualmente, desvanecimento lento). O correto entendimento das características dos efeitos de propagação é básico para a estimativa do desempenho do sistema e cálculo de cobertura das células.
2.1. Mecanismos básicos
Serão descritos a seguir alguns mecanismos importantes para a compreensão da rádio-propagação, especialmente em comunicações móveis. Antes, porém, serão apresentados alguns conceitos básicos.
Ganho
máximo de uma antena
(3-1)
O termo “isotropicamente” é utilizado para definir a irradiação uniforme de energia em todas as direções. Conhecendo-se PT e GT (ganho máximo da antena transmissora), é possível se determinar a densidade de potência a qualquer distância do transmissor.
Área
efetiva de recepção
Outro conceito importante é o de área efetiva de recepção de uma antena, definido por :
(3-2)
onde :
l = 3x108 [m/s] / f [Hz] - comprimento de onda
com :
f - freqüência
GR - ganho máximo da antena receptora
Conhecendo-se a densidade de potência na recepção, a potência recebida é encontrada através do produto entre a densidade de potência e a área efetiva de recepção da antena.
A relação entre densidade de potência e o campo elétrico recebido é estabelecida, em campo distante, por :
(3-3)
onde :
s - densidade de potência [W/m2]
E
- módulo do campo elétrico
[V/m]
h - impedância intrínseca do meio [W]; no espaço livre : h = h0 = 120p @ 377 W
A densidade de potência a
uma distância d, para uma antena isotrópica é dada por
, onde PT é a
potência transmitida. Para uma antena de ganho GT , o ganho multiplica a expressão de densidade de potência,
gerando :
(3-4)
Igualando as expressões (3-3) e (3-4) chega-se, no espaço livre, a :
(3-5)
A potência recebida será :
(3-6)
Serão agora apresentados os mecanismos de propagação envolvidos nas comunicações celulares.
(*) O autor, MÁRCIO
EDUARDO DA COSTA RODRIGUES (marcior@centroin.com.br)
graduou-se em engenharia de telecom pela UFF em dezembro de 1997, concluiu o mestrado em "Ciências em Engenharia Elétrica (Telecomunicações)" com ênfase em "Rádio-propagação - Comunicações Móveis e Rádio Acesso" pelo CETUC / PUC-Rio - RJ em abril de 2000 e obteve certificação em PMP (Project Management Professional) pelo PMI (Project Management Institute) em 2004.
Atuou profissionalmente na NEC do Brasil S.A. como estagiário, na DSC Tecnologia Ltda como engenheiro responsável pela área de Engenharia de Telecomunicações da unidade DSC Telecom e na WiNGS Telecom Ltda onde é Gerente de Engenharia até a presente data; nesta empresa coordena e executa projetos de:
- cobertura de rádio-freqüência (projeto pioneiro de celular no Metrô Rio, cobertura em plataformas de petróleo, coberturas em ambientes indoor, entre outros),
- projetos de software para cálculo de rádio-enlaces,
- projetos de emissão de relatórios de conformidade (exposição da população a irradiação eletromagnética), segundo critérios Anatel, para operadoras de telefonia celular e rádio,
- projetos de WLAN/WiFi (redes locais sem fio),
- projetos de enlaces ponto-a-ponto para backbone de operadoras celulares/SMP, envolvendo planejamento de freqüências e uso do software de cálculo PathLoss e
- suporte à equipe de desenvolvimento de software, especificando algoritmos, entre outros.