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ASPECTOS DE RÁDIO - PROPAGAÇÃO
(2) |
Autor: Marcio Eduardo da Costa Rodrigues |
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2.1.1.
Propagação em espaço livre - Visibilidade
Essa é a situação básica de
propagação, segundo a qual transmissor e receptor estão imersos em um espaço
livre de obstruções em qualquer direção e o campo elétrico é calculado em
um ponto qualquer de observação. O mecanismo de propagação envolvido é o de
propagação em visibilidade. Embora a propagação em espaço livre seja uma
situação bastante particular, o seu entendimento e cálculo são úteis para
que se desenvolva expressões mais complexas e que possam melhor definir a
propagação em diferentes ambientes e para diferentes sistemas (como os
celulares). Além disso, sua expressão pode servir como uma base de comparação
com expressões mais complexas e realistas.
A perda (atenuação) de propagação
é determinada pela relação entre a potência recebida e a potência
transmitida. Inicialmente, será calculada a perda de propagação entre antenas
isotrópicas (irradiação uniforme em todas as direções) e, posteriormente,
será inserido o ganho das antenas.
A densidade de potência calculada
a uma distancia d (em campo distante) do transmissor isotrópico é dada pela
expressão (3-4),
onde o ganho GT é igual à unidade. A potência recebida é
calculada da forma já mostrada no desenvolvimento da expressão (3-6).
Aqui, no cálculo da área efetiva de recepção, o ganho GR é também
igual à unidade. Então:
(3-7)
Expressando o resultado em decibéis:
(3-8)
Apresentando o resultado em
unidades mais convenientes à faixa de freqüências utilizada (sistemas
celulares e PCS - Personal Communication
Systems) e às dimensões usuais das células, para sistemas celulares :
(3-9)
Essa é, portanto, a atenuação
de propagação considerando-se as antenas transmissora e receptora isotrópicas
(irradiação igual em todas as direções), chamada atenuação (ou perda) básica
de transmissão em espaço livre. Quando se considera os ganhos das antenas
:
(3-10)
A expressão (3-10) é denominada Fórmula de Friis. Calculando em decibéis, por procedimento idêntico
ao adotado na obtenção da expressão (3-9),
chega-se a :
(3-11)
onde :
dBi - ganho,
em dB, em relação ao ganho da antena isotrópica (unitário)
A expressão (3-11) fornece a perda (ou atenuação)
de transmissão em espaço livre.
2.1.2.
Reflexão sobre Terra Plana (expressão de dois raios)
Para se chegar a expressões de
atenuação de propagação que melhor descrevam as situações reais
encontradas, vai-se acrescentando complexidade ao problema inicial (espaço
livre), obtendo-se expressões teóricas que retratam os novos mecanismos
considerados. O primeiro procedimento, e o mais intuitivo, é o de se considerar
a influência da superfície da Terra na propagação. A faixa de freqüências
aqui enfatizada (UHF) e as distâncias envolvidas (nos sistemas atuais,
tipicamente menores que 15 km) permitem que a Terra seja considerada plana na
maior parte das regiões sem a introdução de erros significativos, para efeito
de reflexão no solo.
Durante a propagação do sinal,
os raios oriundos da antena transmissora sofrem, em geral, inúmeras reflexões
até chegarem à antena receptora. O tratamento inicial dado à questão da
reflexão considera a Terra Plana. Isso pode ser feito pela análise da solução
de Norton para este problema. A Figura
3-2 ilustra os mecanismos de propagação que dão origem à solução de
Norton.
Figura
3-2 - Reflexão
sobre Terra Plana
Pela solução de Norton chegam três
ondas ao receptor: onda do raio direto,
onda do raio refletido na Terra Plana
e a onda de superfície.
É importante ressaltar que essa solução é válida apenas quando a
distância horizontal entre transmissor e receptor é muito maior que o
comprimento de onda (l),
e quando o índice de refração da Terra (proporcional a k1 , o número
de onda na Terra) é muito maior que o índice de refração no espaço livre
(proporcional a k0 , o número de onda no espaço livre). A expressão
da solução de Norton é a seguinte: [2]
;
d >> l e k1
>> k0
(3-12)
O primeiro termo da expressão é
referente ao raio direto, correspondendo à Fórmula de Friis vista na propagação
em espaço livre. Esse resultado é esperado, uma vez que na propagação em
espaço livre, a onda que chega ao receptor é de um raio direto (propagação
sem intervenção de nenhum obstáculo), exatamente como representado no
primeiro termo da expressão de Norton. O segundo termo é referente ao raio
refletido em Terra Plana. O coeficiente de reflexão (R) é dependente do ângulo
qi
e da relação entre k1 e k0 ; e a fase Dj
é proporcional à diferença de percurso entre o raio direto e o raio
refletido.
O coeficiente de reflexão no
solo, R, é dado pelas seguintes expressões: [6]
(3-13)
onde :
índices
V e H - referem-se às componentes do campo elétrico
incidente em relação ao plano de incidência. O plano de incidência é o
plano formado pelo raio incidente e a normal à superfície de reflexão (Terra
Plana, nesse caso) no ponto de incidência.
RV - coeficiente de reflexão de Fresnel, para a
componente vertical (também denominado componente hard)
RH - coeficiente de reflexão de Fresnel, para
a componente horizontal (também denominado componente soft)
(3-14)
permissividade
elétrica complexa (efetiva) relativa da superfície da Terra.
com
:
e - permissividade
elétrica da superfície refletora [F/m]
s - condutividade
da superfície refletora [Siemens/m]
w
= 2pf - freqüência
angular [rad/s]
f - freqüência
[Hz]
e0
= 8,854x10-12 - permissividade elétrica
no vácuo [F/m]
qi - ângulo
de incidência, formado entre o raio incidente e a normal no ponto de incidência
(Figura 3-2)
Uma observação a respeito dos
coeficientes de reflexão é que, para uma faixa muito grande de valores de qi
, tem-se : [1]
RH (qi)
@
-1 ,
ou seja, a componente horizontal do campo elétrico refletido mantém o módulo
e sofre inversão de 1800 na fase, em relação ao campo incidente
Esse valor só se altera de forma
significativa para freqüências muito altas e terra de pobre condutividade. Se qi
é muito grande (incidência rasante), então RV @
RH @
-1, pois, observando-se as expressões
(3-13), quando qi
cresce muito, cos(qi)
tende a zero e RV,H tendem a -1. Mas, para outros valores de qi
, o comportamento de RV difere do comportamento de RH (RV
não tende a -1 para um ampla faixa de valores de qi
, como ocorre com RH). A Tabela
3-2 apresenta alguns valores de condutividade e de permissividade elétrica
relativa, para algumas superfícies. [1]
Superfície
|
s
[Siemens/m]
|
er
|
Terra
seca (pobre)
|
10-3
|
4
- 7
|
Terra
comum
|
5x10-3
|
15
|
Terra
úmida
|
2x10-2
|
25
- 30
|
Água
do mar
|
5
|
81
|
Água
doce
|
10-2
|
81
|
Tabela 3-2 - Alguns
valores típicos de s
e er
O terceiro termo da expressão de
Norton representa a onda de superfície. A função F(w) é a função de atenuação
da onda de superfície e é ela que define sua intensidade. Essa função
diminui de intensidade com o aumento da freqüência e com o afastamento do
ponto de observação (recepção) em relação ao transmissor. Na faixa de freqüências
tratada (UHF), o efeito da onda de superfície pode ser desprezado. Então, se
simplificarmos a expressão (3-12),
através da supressão do termo de onda de superfície, considerarmos os
coeficientes de reflexão iguais a -1 (o que é válido, como visto, para incidência
rasante) e, se a distância d for muito maior que hT + hR
(soma das alturas da antena transmissora e receptora, respectivamente), a potência
recebida pode ser obtida da seguinte maneira.
Diferença de fase entre raio
direto (R1) e todo o percurso de reflexão (R2) :
(3-15)
(essa expressão é
geral e independe das condições assumidas no parágrafo anterior,
naturalmente)
Pode-se demonstrar que, se a condição
de d >> (hT + hR) é atendida :
(3-16)
Com as condições assumidas e
algum tratamento algébrico, a expressão (3-12)
toma a seguinte forma :
(3-17)
Levando a expressão
(3-16) em (3-17),
obtém-se :
(3-18)
E a expressão de potência
recebida fica :
(3-19)
O gráfico referente à expressão
(3-19) é
apresentado na Figura
3-3 a seguir.
Figura
3-3 - Gráfico
de atenuação por Terra Plana (2 raios)
A expressão (3-19) pode sofrer uma outra simplificação
se, além das condições já impostas, garantirmos que sen(Df/2)
@
Df/2.
Esta situação ocorre quando a incidência é de tal maneira rasante que a
diferença de percurso, e portanto de fase, entre o raio direto e o raio
refletido é muito pequena. Essa aproximação é válida a partir de
determinada distância em relação ao transmissor, como será apresentado
adiante. Através da aproximação
(3-20)
e como, pela expressão (3-12),
, pode-se escrever
,
para
< 0,3 radianos (aproximadamente)
(3-21)
Inserindo o resultado (3-21)
em (3-19), obtém-se
:
(3-22)
Essa é a expressão de potência
recebida na propagação em Terra Plana, usada quando são válidas as aproximações
feitas. A expressão de atenuação de propagação L correspondente é
calculada a seguir.
(3-23)
Em
decibéis :
(3-24)
A expressão (3-24) fornece a atenuação de propagação
de Terra Plana, que se aproxima do valor exato quando as condições assumidas
nas aproximações são satisfeitas. Demonstra-se que a distância d a partir da
qual é válida a aplicação de (3-24)
é :
(3-25)
Essa distância corresponde ao último
máximo do gráfico da
Figura 3-3
, que ocorre, segundo
), na distância aproximada de 6 km. A partir desse ponto, a queda do campo com
a distância se aproxima a 1/d4 .
O que é interessante de se
observar na expressão de atenuação em Terra Plana é a sua independência com
a freqüência e a dependência com a distância através de uma fator 4
(10log(d4)), em contraste com a dependência através de um fator 2
(10log(d2)) encontrada na propagação em espaço livre (onde o único
mecanismo é o de visibilidade).
A expressão obtida tem aplicação
limitada a regiões de relevo relativamente plano e com poucas construções
(espaços amplos e abertos, típicos de regiões rurais). A análise da reflexão
em Terra Plana acima realizada, considera a superfície refletora como sendo
lisa. A reflexão é dita especular, e a direção da onda refletida é única e
bem definida pelo ângulo entre a onda incidente e a normal à superfície
refletora, através da Lei de Snell da reflexão.
Se a superfície refletora não é
lisa, a onda refletida não possuirá direção única. O que ocorre é um
espalhamento (difusão) da energia incidente, em várias direções, causado
pela irregularidade (rugosidade) da superfície refletora. A Figura 3-4 ilustra o espalhamento de uma
frente de onda plana (representada pelos raios incidentes paralelos) refletida
em uma superfície rugosa.
Figura 3-4 - Reflexão
em superfície rugosa (espalhamento)
Observa-se na Figura
3-4 que, embora a lei de reflexão continue válida (ângulo de incidência
igual ao ângulo de reflexão), como a superfície é irregular, haverá inúmeros
ângulos de incidência, distribuídos de maneira desordenada, dando origem a inúmeros
ângulos de reflexão. Isso constitui o espalhamento da energia. O efeito prático
da reflexão assim gerada (reflexão difusa) é que menos energia será acoplada
ao receptor. Foi desenvolvido um critério prático para a avaliação da
rugosidade de uma superfície. Seja a Figura
3-5 a seguir.[1],
[8]
Figura 3-5 - Determinação
da diferença de fase entre raios refletidos em superfície rugosa
Demonstra-se que a diferença de
comprimento entre os dois percursos, (AB + BC) e (A’B’ + B’C’) é dada
por :
(3-26)
A
diferença de fase entre os percursos será, então :
(3-27)
Se d << l,
Df
é pequeno e pode-se considerar a superfície como sendo lisa. O critério prático
consiste em assumir que a superfície é rugosa quando Df
³
p/2
, o que leva a :
, conhecido por Critério de
Rayleigh
(3-28)
Ou, se y
é suficientemente pequeno : seny
@
y,
que leva o critério a ser expresso por
.
A rugosidade é, portanto,
determinada pela diferença de fase entre raios que atingem diferentes pontos da
superfície (com elevações distintas), conforme a Figura 3-5 ilustra. Dessa forma, o
espalhamento da energia está sendo analisado através da diferença de fase
entre raios. Quanto menor a diferença (determinada pela relação entre o desnível
d e o comprimento de onda l),
mais lisa é a superfície e menor será o espalhamento por ela causado. O que
ocorre na prática é que, pela característica irregular do perfil das
rugosidades, o desnível d é tratado como uma variável aleatória e o seu
desvio padrão sh
passa a ser a medida de quão acentuada é a rugosidade da superfície.
Substituindo d por sh
na expressão (3-27),
é definido o parâmetro C.
(3-29)
Para Y
pequeno :
(3-30)
Um critério
usual é o seguinte :
C
< 0,1 ® superfície lisa;
C > 10 ® superfície
muito rugosa, de forma que o espalhamento é tão grande que pode-se
desconsiderar a componente refletida, pois é desprezível a energia acoplada ao
receptor através de reflexão.
Para valores de C
entre 0,1 e 10, é definido o coeficiente de espalhamento:
, obtido empiricamente. O coeficiente de reflexão especular é então corrigido
pelo coeficiente de espalhamento, resultando no coeficiente de reflexão
especular a ser usado :
(3-31)