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TELEFONIA
CELULAR (2) |
Autor: MÁRCIO
RODRIGUES |
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2
- Fundamentos e Conceitos básicos
2.1. O Conceito Celular
O objetivo dos primeiros sistemas móveis era o de obter uma grande área
de cobertura através do uso de um único transmissor de alta potência, com a
antena situada em um local elevado. Embora essa abordagem gerasse uma cobertura
muito boa, o número de usuários era limitado. Um determinado conjunto de freqüências
era utilizado por toda a região e cada freqüência era alocada a um único usuário
por vez, para evitar interferências. Como exemplo da baixa capacidade, pode-se
citar o sistema móvel da Bell em Nova Iorque, em 1970: o sistema suportava um máximo
de apenas doze chamadas simultâneas em uma área de mais de dois mil quinhentos
e oitenta quilômetros quadrados [1].
Dado o fato de que as agências de regulamentação dos governos não poderiam
realizar alocações de espectro na mesma proporção do aumento da demanda de
serviços móveis, ficou óbvia a necessidade de reestruturação do sistema de
telefonia por rádio para que se obtivesse maior capacidade com as limitações
de espectro disponível e, ao mesmo tempo, provendo grandes áreas de cobertura.
O conceito celular foi uma grande descoberta na solução do problema de
congestionamento espectral e limitação de capacidade de usuários que havia em
sistemas de comunicações móveis até então. Esse conceito permite oferecer
grande capacidade com limitações de espectro alocado, sem grandes mudanças
tecnológicas. A FCC (Federal
Communication Commission – órgão americano regulamentador de
telecomunicações), em uma regulamentação de 22 de Junho de 1981 definiu o
sistema celular como : “Um sistema móvel terrestre de alta capacidade no qual
o espectro alocado é dividido em canais que são alocados, em grupos, a células
que cobrem determinada área geográfica de serviço. Os canais podem ser
reusados em células diferentes na área de serviço” [2].
A idéia do conceito celular constitui-se basicamente na substituição
do transmissor único de alta potência (responsável pela cobertura de uma
grande área) por vários transmissores de baixa potência, cada um provendo
cobertura a uma pequena região (célula) da área total. A cada uma dessas estações
base é alocada uma porção do número de canais disponíveis para todo o
sistema. Às estações base são alocados diferentes grupos de canais, de forma
que todos os canais disponíveis no sistema são alocados a um determinado número
de estações vizinhas. A alocação de canais a estações base vizinhas é
feita de forma que a interferência entre estações base (e entre usuários móveis)
seja minimizada. Através do espaçamento sistemático das estações base bem
como dos grupos de canais, os canais disponíveis serão distribuídos através
da região geográfica e poderão ser reusados quantas vezes forem necessárias,
desde que a interferência entre estações cocanal (estações que possuem
grupos de canais em comum) seja mantida a níveis aceitáveis.[1]
Essa idéia é antiga : a primeira proposta de sistema celular foi da
Bell, feita à FCC, em 1971 [2].
Mas o desenvolvimento da idéia é ainda anterior, não posta em prática pela
complexidade do sistema de controle. Sua execução foi viabilizada pelo uso de
microprocessadores nos terminais (móveis e fixos) [3]
e, em outubro de 1983, o primeiro sistema celular foi posto em operação, em
Chicago, pela AT&T. [2]
Segue um comparativo listando as diferenças básicas entre sistemas móveis
convencionais e sistemas celulares. [3]
sistemas móveis convencionais
|
sistemas celulares
|
-
baixa
densidade de usuários
|
-
alta
densidade de usuários
|
-
não
reutilizam freqüências
|
-
fazem
reuso de freqüências
|
-
alta potência
de transmissão
|
-
baixa potência
de transmissão
|
-
antenas
elevadas
|
-
antenas
pouco elevadas
|
-
grande área
de cobertura
|
-
área de
cobertura dividida em células
|
-
sem
expansão modular
|
-
expansão
modular teoricamente ilimitada
|
A Figura
2-1 ilustra a mudança no conceito de comunicações móveis.
a - cobertura
convencional
b - cobertura
celular
Figura 2-1 - Conceitos de cobertura para comunicações móveis
A célula é a área geográfica coberta por sinais de RF de determinada
estação base. Cada célula é, em essência, um centro de rádio-comunicações
onde um assinante móvel pode estabelecer uma chamada para um telefone móvel ou
fixo através da Central de Comutação Móvel (MSC, ou CCC - Central de Comutação
e Controle) e da Rede de Telefonia Pública Comutada (PSTN). Essa plataforma
composta permite que usuários comuniquem-se entre si estando em qualquer lugar
da área de cobertura, seja essa comunicação entre usuários móveis ou entre
usuários móveis e fixos. O tamanho e forma da célula dependem de vários
fatores, tais como ERP (Effective Radiated
Power, potência efetiva irradiada), diagrama de radiação das antenas e
ambiente de propagação. Tradicionalmente, embora o formato real das células
seja altamente irregular, para efeito de projeto e gerência dos sistemas é
assumida uma forma geométrica (usualmente, um hexágono), como será melhor
explicado adiante.
Todo o processo de comunicação é controlado e monitorado pela inteligência
do sistema, que reside na MSC. O projeto, implementação e manutenção dessa
complexa rede exige estudos de propagação de ondas de RF (rádio-freqüência),
antenas, planejamento de freqüências e engenharia de tráfego. [4
]
Com o acréscimo da demanda, ou seja, aumento do número de canais necessários
numa determinada região, o número de estações base pode ser aumentado (em
conjunto com a diminuição da potência de transmissão), gerando assim um
aumento na capacidade sem necessidade de ampliar o espectro alocado. Esse princípio
fundamental é a base para todos os sistemas modernos de comunicação móvel,
pois ele permite que um número fixo de canais (dado pela disponibilidade de
espectro) sirva um grande número de assinantes através do reuso dos mesmos
canais pela região total de cobertura. [1]
A respeito do que foi exposto, pode-se citar como características típicas
de sistemas macro-celulares (células maiores que 2 km, aproximadamente): [3]
-
cerca de 650
canais disponíveis;
-
potências de
transmissão da base variando de 10 a 45 Watts;
-
alturas de
antenas da base variando de 30 a 100 m;
-
raio de
cobertura de célula entre 2 e 15 km;
-
cada célula
utiliza de 25 a 75 canais.
2.1.1.
Componentes básicos de um sistema celular
Os três elementos principais em uma rede celular são: [5]
-
Estação base
-
Estação móvel
-
Central de
Comutação Móvel (MSC)
Embora
não conste entre os componentes da rede celular, pode-se também incluir a Rede
de Telefonia Pública Comutada (PSTN), devido à sua interligação estreita com
a rede de telefonia celular.
A Figura
2-2 [4]
esquematiza uma rede de comunicação celular, com sua interligação à PSTN.
Desse ponto em diante a representação de células será feita através de hexágonos.
A escolha é conveniente, como será mostrado na sequência do texto.
Figura 2-2 - Rede celular e interligação à PSTN
2.1.1.1.
Estação base
As estações base são responsáveis pela realização das chamadas
vindas ou destinadas aos móveis localizados em cada uma das células. São o
elo de conexão dos móveis com o restante do sistema. São conectadas à
Central de Comutação e Controle através de ligações terrestres ou via rádio.
Consistem de dois elementos básicos: a parte de rádio e o controle. O rádio
engloba todo o conjunto de transmissão e recepção, além de torres e antenas.
O controle é uma unidade com microprocessador responsável pelo controle,
monitoração e supervisão das chamadas. A alocação e realocação de canais
aos móveis também é feita pela estação base. E ainda, a estação base
monitora os níveis de sinal dos móveis para verificar a necessidade de handoff
(explicado adiante). [5]
Os canais utilizados na comunicação entre móveis e bases são
divididos em dois grupos: canais de voz e canais de controle. Nos canais de voz
ocorre a conversação (ou troca de dados) propriamente dita. Pode também ser
feita alguma forma de sinalização para a manutenção da chamada, como
sinalização de handoff, por exemplo.
Os canais de controle, que existem em número bem menor que os de voz, carregam
as informações necessárias ao estabelecimento de uma chamada, bem como
informações sobre o estado atual do sistema. Canais de voz podem ser analógicos
ou digitais, dependendo do sistema. Canais de controle são sempre digitais.
2.1.1.2.
Estação móvel
A unidade móvel do assinante constitui-se basicamente em um transceptor
portátil de voz / dados, desenvolvido para comunicar-se com os rádios das estações
base em qualquer dos canais alocados. Opera em modo full-duplex, possuindo um caminho de ida e um de retorno em relação
à estação base, que são os links
reverso (móvel para base) e direto (base para móvel), conforme ilustra a Figura
2-3. Além da comunicação de voz, a estação móvel também
comunica-se com a estação base através de suas funções de controle e
sinalização. Alguns exemplos de mensagens de controle trocadas entre móvel e
base são: [5]
-
pedido do móvel
para acessar um canal e efetuar uma chamada;
-
registro do móvel
na área de serviço atual (outra MSC);
-
mensagem de
alocação de canal para o móvel, oriunda da estação base;
-
mensagem de handoff
oriunda da estação base, para que o móvel sintonize outro canal.
Ressalta-se nesse ponto que o que está sendo chamado de “canal”
constitui-se na dupla link direto e
reverso.
Figura 2-3 - Comunicação entre terminal móvel e base
2.1.1.3.
Central de Comutação Móvel (MSC)
É o centro de comutação celular, que interliga um conjunto de células.
Também provê interligação com a rede de telefonia pública (PSTN). Entre as
funções desempenhadas por uma MSC estão: gerência e controle dos
equipamentos da base e de conexões; suporte a múltiplas tecnologias de acesso;
provisão de interligação com a PSTN; provisão de registros de assinantes
locais; provisão de registros de assinantes visitantes; suporte a conexões
entre sistemas; suporte de funções de processamento de chamadas e funções
necessárias à tarifação. [4]
O número de células conectadas e, portanto, controladas por uma MSC
varia de acordo com as necessidades. Uma MSC pode ser responsável por uma
grande área metropolitana ou por um pequeno grupo de pequenas cidades vizinhas.
A área servida por uma MSC é denominada área
de serviço e o assinante de uma determinada área de serviço é chamado
assinante local (home). É possível que um assinante desloque-se para uma outra área
diferente daquela na qual ele está cadastrado. Nesse caso, o assinante é
denominado visitante (roamer).
2.1.2.
Arquitetura do sistema
Um sistema rádio móvel pode ser elaborado segundo uma arquitetura
centralizada ou descentralizada. Em uma arquitetura centralizada, a Central de
Comutação Móvel em geral controla uma grande quantidade de estações base,
tanto de células próximas como distantes. Em um sistema descentralizado, as
MSC’s têm uma região menor de abrangência, controlando menos estações
base quando comparado à outra arquitetura. [5]
Sistemas pequenos tendem a ser centralizados, enquanto que sistemas
maiores seguem a abordagem descentralizada. Há diferentes níveis de
descentralização, onde pode ou não haver interconexão entre as MSC’s. No
primeiro caso (há conexão entre MSC’s), uma chamada de um móvel passará
pela PSTN apenas quando o usuário chamado for fixo. Por outro lado, no segundo
caso (não há conexão entre MSC’s), mesmo que o usuário chamado seja móvel,
mas pertencente a uma outra área de serviço (outra MSC, portanto), a chamada
terá que passar pela PSTN [5]
, pois é ela que proverá o contato entre as duas MSC’s.
2.1.3.
Características do sistema celular
2.1.3.1.
Mobilidade
A mobilidade é uma das principais características dos sistemas de
comunicação celular. Esse conceito significa que uma chamada celular,
originada em qualquer lugar e em qualquer momento dentro da área de serviço,
pode ser mantida sem interrupção enquanto o assinante está em movimento. Isso
deve-se ao mecanismo de handoff, que
é um processo de troca de freqüência das portadoras alocadas ao móvel,
conforme este muda da região de cobertura de uma base para a de outra.
2.1.3.2.
Cobertura da célula
A cobertura provida por uma célula depende de parâmetros pré-definidos
como, potência de transmissão, altura, ganho e localização de antena. Vários
outros fatores como, presença de montanhas, túneis, vegetação e prédios
afetam de forma considerável a cobertura RF de uma base. Esses últimos
fatores, obviamente, não são definidos pelo projetista de sistema e variam de
uma região para outra.
Devido às características variáveis e complexas das diversas regiões
a serem cobertas por sistemas celulares, vários modelos de predição de
propagação foram e têm sido desenvolvidos, com a intenção de fornecer
estimativas de atenuação de sinal nos diversos ambientes.
A perda de propagação predita pelos modelos pode ser, de forma geral,
representada pela seguinte expressão: [4]
L
(dB) = L0
(dB) + 10glog
(d/d0)
(2-1)
onde:
d0 - é
uma distância de referência
d -
é a distância total de cobertura
g - é
a constante de perda de propagação (função do ambiente)
Lo - é
a perda na distância de referência do
L - é
a perda de propagação