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TELEFONIA
CELULAR (3) |
Autor: MÁRCIO
RODRIGUES |
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2.1.1.1.
Cluster
e Reuso de freqüência
Cluster
é o nome dado ao conjunto de células vizinhas que utiliza todo o espectro
disponível. Uma configuração muito utilizada é a de cluster
de sete células, como exemplificada na Figura
2-4a [4].
Sistemas celulares baseiam-se em um sistema inteligente de alocação e
reuso de canais através da área de cobertura. A cada estação base é alocado
um grupo de canais de rádio que serão usados em uma região geográfica
relativamente pequena, a célula. Estações base de células adjacentes possuem
grupos de canais diferentes de suas células vizinhas, para que não haja
interferência. Através da limitação da área de cobertura até os limites da
célula, um mesmo número de canais pode ser usado em outra célula desde que as
células estejam separadas um da outra de uma distância suficientemente grande
para que os níveis de interferência sejam aceitáveis. Dessa forma, usuários
em diferentes áreas geográficas podem usar um mesmo canal simultaneamente. O
conceito de reuso de freqüência é fundamental para o uso eficiente do
espectro. O processo de seleção e alocação de grupos de canais para todas as
estações bases faz parte do planejamento
de freqüência.
a - exemplo
de cluster
b - reuso
de freqüências
Figura 2-4 - Cluster e reuso de freqüências
A Figura
2-4b [4]
ilustra o conceito do reuso de freqüência, onde células com o mesmo número
utilizam os mesmos grupos de canais. Nessa figura, D é a distância de reuso
cocanal, que separa duas células pertencentes a clusters
adjacentes que utilizam o mesmo conjunto de freqüências. O plano de reuso de
freqüências é sobreposto a um mapa para mostrar onde serão usados diferentes
grupos de canais. A forma hexagonal das células é conceitual, sendo um modelo
simplista da cobertura provida por cada estação base. A cobertura real de uma
célula é conhecida como planta (footprint)
e é determinada por medições ou estimada por modelos de predição de propagação.
A planta real de cobertura é irregular por natureza, porém um formato regular
de célula é necessário para o planejamento sistemático e adaptação a
futuro crescimento. Embora pareça natural a escolha de um círculo para
representar a área de cobertura de uma estação base, a superposição de círculos
adjacentes sobre um mapa gera áreas descobertas (gaps)
ou regiões de sobreposição. Quando se considera os formatos geométricos que
podem cobrir uma região sem que haja falhas ou sobreposições, as três
melhores escolhas recaem em: quadrado, triângulo equilátero e hexágono, como
apresentado na Figura
2-5. [1],
[3]
triangular
quadrado
hexagonal
Figura 2-5 - Padrões regulares de geometria de células
Na Figura 2-6 [5]
são apresentados os sistemas de coordenadas convenientes para a análise das três
geometrias.
a - geometria triangular b - geometria quadrada
c - geometria
hexagonal
Figura 2-6 - Sistemas de coordenadas dos padrões regulares
As áreas de um triângulo equilátero, um quadrado e um hexágono são
dadas, respectivamente, por
,
2R2
e
, onde R é o raio das células, de
mesmo comprimento nas três geometrias, indicado na
Figura
2-6. Portanto, para um dado raio de célula, o hexágono é o que tem a
maior área entre as três geometrias propostas. Assim, através do uso da
geometria hexagonal, a região em que será prestado o serviço móvel pode ser
coberta usando-se o menor número de células possível. Além disso, o hexágono
é mais próximo de um diagrama de radiação circular que seria provisto por
uma base com antenas omnidirecionais e propagação em espaço livre [1].
Deve ficar claro, porém, que a planta de cobertura real é determinada pelo
contorno no qual a base serve os móveis de forma satisfatória. A seguir são
explicados os sistemas de coordenadas usados na Figura
2-6, com ênfase na geometria hexagonal.
A distância unitária sobre os eixos é a distância entre o centro de células
adjacentes. Assim, para a geometria triangular, a distância unitária é o próprio
raio da célula, R (Figura
2-6a); para a geometria quadrada, a distância unitária é
(Figura
2-6b); e, para a geometria hexagonal, a distância unitária é dada por
(Figura
2-6c). A distância unitária é chamada distância celular. Tomando como
exemplo a geometria hexagonal: o ponto (u1,v1) = (1,2) e o
ponto (u2,v2) = (3,-1).
Usando as três geometrias dadas,
é possível mostrar que a distância d entre duas células é dada por : [5]
Geometria
triangular:
(2-2)
Geometria
quadrada :
(2-3)
Geometria
hexagonal :
(2-4)
onde :
i
= (u2 – u1) e
j = (v2 – v1)
com
:
(u1 , v1) e (u2 , v2)
- coordenadas do centro de
duas células quaisquer, no sistema de coordenadas adotado.
É possível demonstrar que, para a geometria hexagonal, o fato de se
desejar distâncias de reuso isotrópicas (distâncias iguais entre todas as células
cocanal) implica em que os clusters
sejam hexagonais, como mostrado na Figura
2-7. [3],
[5]
Figura 2-7 - Formato hexagonal dos clusters
É possível se obter uma expressão para o número de células por cluster,
da seguinte forma. Seja a a área de uma célula e A a área de um
cluster [3]
:
Figura 2-8 - Representação de célula e cluster para cálculo de área
A área da célula é dada por :
(2-5)
Como a distância do centro de um cluster
ao centro de seu cluster
vizinho
é a distância de reuso D, se dividirmos o hexágono que representa o cluster
em seis triângulos equiláteros, a altura de cada triângulo será D/2,
como indicado na Figura 2-8. Então :
(2-6)
A área do cluster é, então :
(2-7)
Dessa forma, o número de células
que cabem dentro de um cluster é dado
por:
(2-8)
Como,
de acordo com a Figura
2-6c,
é a distância unitária :
(2-9)
Assim, conforme a expressão (2-4)
:
N =
= i2 + ij + j2
(2-10)
Como i e j são inteiros, pela combinação de seus valores chega-se aos
valores de N possíveis : N =
1, 3, 4, 7, 9, 12, 13, 16, 19, 21, etc.
Para entender o conceito de reuso de freqüências, considere-se um
sistema celular que possui um total de S canais (duplas de link direto e reverso) disponíveis para uso. Se a cada célula é
alocado um grupo de k canais ( k < S ),
e se os S canais são divididos entre N células de forma que cada célula
possua um grupo exclusivo e com o mesmo número de canais, o número total de
canais pode ser expresso por: [1]
S
= kN
(2-11)
As N células que utilizam o conjunto completo de freqüências disponíveis
constituem, como já dito, um cluster.
Se um cluster é replicado M vezes na
região de interesse, a capacidade do sistema pode ser medida por: [1]
C
= MkN = MS
(2-12)
ou seja, o número M de vezes que o conjunto S de canais foi repetido. Se
o tamanho de cluster N é diminuído,
mais clusters serão necessários para
cobrir a área desejada, aumentando o valor de M e, por conseqüência,
aumentando a capacidade de usuários do sistema, segundo a expressão (2-12).
Na situação oposta (N crescente), a capacidade é diminuída.
O fator
de reuso cocanal, q,
é definido pela relação D/R. A Figura
2-9 [3]
ilustra o conceito.
Figura 2-9 - Fator de reuso cocanal
A tabela de q é criada da seguinte maneira. Sabendo-se que :
(2-13)
de
acordo com a expressão (2-8)
:
(2-14)
Através de variações no valor de N, obtem-se os valores de q
correspondentes. A tabela da
ilustra alguns exemplos.
Um valor grande de N indica que a razão entre a distância entre células
cocanal e o raio das células é grande. Por outro lado, um valor pequeno de
tamanho de cluster indica que as células
cocanal estão localizadas muito mais próximas entre si, comparado ao valor de R.
Nesse último caso, N pequeno, fica
claro o problema que pode haver quanto à interferência entre células cocanal.
Referindo-se à Figura
2-9, uma região coberta com clusters de uma célula apresentará muito mais problemas quanto à
interferência cocanal (se nenhuma medida for tomada) do que apresentaria se
fosse coberta com clusters de doze células.
Dessa forma, o valor de N (ou q) a ser escolhido é também, além de uma função
da capacidade desejada, função de quanta interferência um móvel ou estação
base pode suportar mantendo uma qualidade aceitável de comunicação.
Estabelece-se, dessa maneira, um compromisso entre capacidade e interferência
cocanal. A seguir, é analisado o problema de interferência nos sistemas
celulares.