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Leia na Fonte: Estadão
[09/01/04]
Anatel quer negociar com teles troca de R$ 3,5 bi em multas por investimentos
- por Eduardo Rodrigues e Anne Warth
Embora o setor tenha cerca de R$ 25 milhões de multas e outras penalidades
acumuladas como dívidas, apenas 14% desse total poderá ser negociado com órgão
regulador para a assinatura de acordo (TAC) que permite a troca de multa por
investimento
BRASÍLIA - A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tentará negociar
acordos com as empresas do setor para transformar R$ 3,5 bilhões em multas
aplicadas pelo órgão regulador em investimentos e descontos para os usuários.
Isso será formalizado por meio de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), que
têm valor legal.
O objetivo desses acordos é trocar multas por abatimento nas contas dos usuários
e melhorias em áreas consideradas estratégicas pelo governo, desde que as falhas
que causaram as punições também sejam solucionadas.
O regulamento que disciplina a negociação e fechamento dos acordos foi aprovado
pela Anatel no começo de dezembro, e estipulou que apenas as multas ainda em
tramitação no âmbito administrativo podem ser discutidas. Com isso, as
penalidades já questionadas na esfera judicial não poderão ser convertidas em
outras medidas.
De acordo com a Superintendência de Controle de Obrigações da Anatel, os R$ 3,5
bilhões passíveis de serem negociados se referem a processos relativos a quatro
grandes causas de reclamações dos clientes: direitos dos usuários, interrupções
dos serviços, qualidade do atendimento e universalização.
"Sabemos que as empresas estão resistentes e consideram que podem ainda derrubar
algumas multas na Justiça, por isso não sabemos ainda qual será o impacto desses
acordos", admitiu João Rezende, presidente da Anatel. "Mas o custo para se
recorrer de uma multa hoje é grande, com depósitos judiciais, cartas de
garantia. Cada empresa vai analisar o que é mais oportuno neste momento."
Prazo. Ao assinar os acordos, as companhias terão seis meses para corrigir as
falhas que deram origem às multas e poderão trocar o valor da penalidade por
compromissos adicionais que terão até quatro anos para serem executados. Essas
ações poderão se dar por descontos aos usuários ou investimentos em programas do
setor que a Anatel considere interessantes.
"Por exemplo, a empresa poderia dar um desconto de 5% na assinatura básica
durante esse período. Isso inclusive a deixaria mais competitiva", explicou
Rezende. "É possível que as teles tenham resistência num primeiro momento
alegando perda de receita, mas não acho que seja isso. O que nós percebemos é
que quando o preço das ligações cai, as pessoas falam mais minutos. A relação
não resulta em queda de faturamento", acrescentou.
Ao todo, o setor possui cerca de R$ 25 bilhões de multas e outras penalidades
acumuladas - os R$ 3,5 bilhões representam 14% do total. "A maior parte da
dívida do setor, desses R$ 25 bilhões sobre os quais se comenta, trata-se de
dívidas tributárias sobre as quais nós nem podemos discutir acordos", afirmou
Rezende ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. "Boa
parte das multas aplicadas pela agência já foi depositada em juízo por causa das
contestações na Justiça."
Lista. Segundo o presidente da Anatel, o órgão deve publicar em breve uma lista
dos investimentos que terão prioridade na negociação dos acordos. A maior parte
deles deve beneficiar áreas menos atendidas, como as regiões Norte e Nordeste,
além dos pequenos municípios do resto do País. "As empresas também podem
apresentar propostas, que serão analisadas. Há muitas possibilidade de se
resolver essas questões", ressaltou.
Procuradas, as quatro principais teles que atuam no País - Claro, Oi, TIM e Vivo
- responderam por meio de suas assessorias de imprensa que estão analisando o
regulamento. Nenhuma delas informou se pretende procurar a Anatel para negociar
TACs, nem citou eventuais medidas que seriam propostas por elas nesses acordos.