Michael Stanton
WirelessBrasil
Ano 2001 Página Inicial (Índice)
23/12/2001
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Surfando as
ondas do rádio
Na coluna, "A Internet sem fio e sem licença", publicada em 26 de março, abordamos algumas novidades na utilização de comunicação sem fio para conseguir acesso à Internet. Voltamos ao assunto hoje, para dar maiores detalhes, inclusive do aparecimento de pelo menos um provedor nacional que utiliza a tecnologia Wi-Fi (rede local de rádio), usando o padrão IEEE 802.11b, acessível por usuário de computador portátil munido de cartão de rádio, com taxa de acesso até 11 Mbps, usando a faixa de freqüência de 2,4 GHz, sem necessidade de licença.
Uma rede local destas precisa de um "ponto de acesso" (estação de base), com o qual se comunicam as estações móveis por perto. Preços típicos para estes componentes são em torno de US$100 por um cartão de rádio PCM-CIA, e a partir de R$300 por um ponto de acesso. Tipicamente o ponto de acesso dá acesso à Internet, através de conexão em rede local cabeada, ou de linha telefônica. O raio de alcance de um ponto de acesso destes normalmente não excede uns cem metros, usando apenas a antena interna, e cada ponto de acesso é capaz de atender a algumas dezenas de computadores clientes. Podemos dar cobertura mais ampla a um prédio, por exemplo, interligando vários pontos de acesso por meio de uma rede Ethernet. Com uso de antena externa, o alcance pode ser estendido muito.
Os usuários de Wi-Fi são de duas categorias, não necessariamente disjuntas. Por um lado temos o pessoal que leva seu notebook consigo para o trabalho. Os escritórios das empresas já estão provendo suporte para estes usuários, por exemplo, nas salas de reunião, onde eles podem ligar suas máquinas à rede local e à Internet, sem fio. Torna-se comum também dar suporte para tais usuários nos congressos e exposições, franqueando as mesmas facilidades para aqueles devidamente equipados. Por outro lado, existem os usuários domésticos que se sentem tolhidos em prender-se a locais fixos nas suas casas para usar o computador ligado à Internet, e querem fazer acesso, ora no quarto, ora na cozinha. Para mim, estes são os verdadeiros computadores pessoais, que acompanham as pessoas onde estas queiram ir, ao invés de obrigá-las a se deslocarem aos computadores.
Mesmo tendo identificado estas duas categorias de usuário, ainda podemos tornar mais rica esta descrição, examinando as outras formas que podem ser usadas para estender o alcance das redes de rádio. Aqui vamos investigar duas formas: os provedores comerciais de acesso, e os informais ou comunitários.
Na coluna mencionada antes descrevemos, sem dar detalhes, as características do serviço oferecido pelos provedores comerciais. Um provedor norteamericano, a MobileStar (www.mobilestar.com), vem instalando seus pontos de acesso em locais freqüentados por viajantes: aeroportos, hotéis, restaurantes, centros de convenções e a cadeia de cafeterias Starbucks, cada um dos quais teria um canal de pelo menos 1,5 Mbps à Internet. O serviço tem vários preços, dependendo da franquia de tempo: com tempo de acesso irrestrito, o acesso local (área metropolitana) custa US$30 mensais, e o acesso nacional custa US$60. Também existem planos cujo preço varia de acordo com o tempo de conexão. O sítio da MobileStar indica os locais atualmente disponíveis.
Desde agosto, começa ser oferecido serviço parecido no Brasil, pelo provedor Pointer Networks (www.pointer.com.br/pn), que já anuncia sua presença, atual ou planejada para breve, em 60 aeroportos em todo o país, além de ter planos para estender sua rede de modo semelhante ao modelo norte-americano citado. Não se encontra no seu sítio dados sobre a capacidade de conexão à Internet disponível a partir dos seus pontos de acesso. O preço informado deste serviço seria de R$60 mensais, o que não parece ser muito caro para a clientela de viajantes pretendida.
Os provedores informais são usuários domésticos que oferecem acesso Internet a seus vizinhos, através de uma rede Wi-Fi. Tipicamente um provedor informal destes contrata um acesso de banda larga, via ADSL , TV a cabo ou semelhante (v. a coluna de 18/9/2000), e compartilha-o com os vizinhos, à revelia do provedor comercial que lhe fornece o acesso. Há pouco que este provedor comercial possa fazer para coibir tal compartilhamento, pois é da própria natureza da Internet tratar da interconexão de redes locais, sem distinção de tipo. Do ponto de vista do provedor comercial, é enxergado apenas um computador na ponta da conexão, e, se este for uma parede corta-fogo, com serviço de NAT (tradução dinâmica de endereços), dificilmente ele poderá comprovar a existência de múltiplos computadores sendo atendidos. O único controle seria a banda máxima contratada do provedor comercial por seu cliente, o provedor informal, que teria que compartilhá-la com todos seus vizinhos. Há quem argumenta que é saudável esta forma de acesso comunitário, e que muito ganhará o primeiro provedor de banda larga que a aceite e dê suporte adequado, num nicho de mercado localizado entre o usuário individual e o cliente corporativo.
Para quem acha que acesso sem fio não consegue concorrer com acesso via cabo, é bom saber que existem outros padrões de redes de rádio com taxas de transmissão ainda bem mais elevadas do que os 11 Mbps de IEEE 802.11b. O padrão IEEE 802.11a, por exemplo, permite transmissão até 54 Mbps na faixa de freqüências de 5 GHz (www.extremetech.com/print_article/0,3428,a%253D19393,00.asp). O uso desta faixa de freqüências ainda requer licença para utilização no Brasil, embora tenha sido liberada para uso sem licença em vários outros países (EUA, Canadá, Austrália, Grã Bretanha). Já começam a aparecer equipamentos seguindo este padrão, e seria decisiva para seu aproveitamento aqui a tomada de uma decisão pela Anatel de optar pelo alinhamento brasileiro com estes outros países do uso desta faixa do espectro de rádio. Uma alternativa mais recente, ainda em fase de padronização, é o IEEE 802.11g, que utiliza a mesma faixa não licenciada de 2,4 GHz, já usada por IEEE 802.11b, mas alcançando também a taxa de transmissão de 54 Mbps (biz.yahoo.com/rf/011116/n16297470_1.html).
A contribuição mais importante do rádio no desenvolvimento das comunicações é
de diminuir os custos de acesso. Isto já vem acontecendo, e tende a crescer com
o aprimoramento da tecnologia e a economia de escala tornada possível por sua
ampla utilização. Isto já se mostrou na telefonia móvel, e vai se estendendo
para a comunicação entre computadores. São muito interessantes estes tempos em
que vivemos!