Michael Stanton

WirelessBrasil

Ano 2000       Página Inicial (Índice)    


18/09/2000
Internet 24 horas em casa

Quem usa muito a Internet através de acesso discado logo percebe que a maior parte dos gastos não são do provedor de acesso, mas da companhia de telefonia, que cobre uma gorda tarifa sobre o acesso, faturando os impulsos, dos quais estamos isentos apenas de madrugada, aos sábados a partir das 14 horas, e o dia inteiro aos domingos e feriados. Sem dúvida o acesso "gratuito", através do iG e congêneres, apelou para o espírito de economia dos usuários, mas apenas ofereceu um serviço discado de qualidade menor, pois não seria viável financeiramente oferecer a mesma qualidade de um provedor que cobra pelo serviço e terá que justificar esta cobrança.

Vemos então que o acesso discado normalmente é tarifada por tempo, o que certamente restringe o uso da Internet, pois as pessoas tenderão a minimizar a utilização nos horários tarifados por duração, evitando o uso de sessões longas, por exemplo, para surfar a Web, ou para chat. Felizmente já começam a aparecer alternativas ao acesso telefônico discado, que cobram um preço fixo para acesso permanente, e até oferecem, além de Internet 24 horas, a promessa de taxas de acesso superiores às possíveis via o acesso discado, limitadas a 56 kbps nas linhas analógicas, e 128 kbps nas linhas digitais. Falamos aqui de três das novas tecnologias de acesso: o ADSL (Asymmetric Digital Subscriber Link) das operadoras de telefonia, a TV a cabo, e o acesso sem fio.

O ADSL foi introduzido este ano pela Telefônica em São Paulo com o nome Speedy (www.speedy.com.br), e foi também lançado pela Telemar como o nome Velox (www.telemar.com.br/adsl/text.html), a ser introduzido em outubro em Belo Horizonte e Salvador. Ele consiste do uso de uma linha telefônica convencional com um par de modems de 2 Mbps, o que permite estender ao assinante uma linha privada digital até um roteador na Internet. A Telemar ainda não divulgou o preço do serviço, mas a Telefônica pratica a seguinte estrutura de preços: a instalação custa R$210,00, o aluguel mensal do par de modems sai por R$14,80, e o aluguel mensal da linha privada depende da taxa de transmissão, custando R$50 (para 256 kbps), R$120,00 (para 512 kbps) ou R$410,00 (para 2 Mbps). O usuário típico se contentará com 256 kbps, já bem mais rápido que o acesso discado. No caso da Telemar, são previstas as taxas de 256 kbps, 512 kbps e 1,5 Mbps. Em ambos casos, poderá ser usada a linha telefônica existente do usuário, o que continuará funcionando também para a telefonia.

As duas principais empresas de TV a cabo já lançaram seus serviços de acesso Internet. A da NET se chama Virtua (www.virtua.com.br), e da TVA se chama Ajato (www.ajato.com.br/cadastro.shtml). Ambos utilizam um cable modem, que liga o computador ao cabo da distribuição do sinal de TV.

No caso da Virtua, o tráfego no cabo é bidirecional. O modem é adquirido por R$599,00 (R$299,00 para assinantes da NET), ou por R$21,00 de aluguel mensal, e a instalação custa R$279,00 "incluindo configuração do micro, instalação da placa de rede e dos softwares antivírus e firewall (Norton)", o que parece bem caro. O serviço de acesso é prestado por R$68,00 por mês para uma taxa de transmissão de 256 kbps, e está disponível hoje em Campinas, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo e Sorocaba (www.virtua.com.br/virtua_precos.asp).

O serviço Ajato está disponível em várias cidades, por um preço mensal de R$35,00, mas requer o uso simultâneo de uma linha telefônica e modem para envio de mensagens do computador à Internet, pois o tráfego pelo cabo da TV e cable modem é unidirecional. Em outras palavras, este serviço não é de preço fixo e não livra o usuário da cobrança de impulsos pela duração da sua utilização da Internet. Há outros custos, tais como da aquisição e instalação do cable modem, o que podem ser obtidos apenas por telefone (parece que a Ajato não acredita muito na Internet como meio de comunicação). A Ajato opera hoje em São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Rio de Janeiro e Niterói.

As tecnologias ADSL e de TV a cabo requerem infra-estruturas razoavelmente grandes para sustentar o acesso. A companhia telefônica dispõe da sua rede de cabos até o assinante, e passou a operar uma rede digital de acesso à Internet. A companhia de TV a cabo usa sua rede de distribuição, complementada no caso de Ajato pelo acesso discado, para providenciar acesso a um roteador na Internet. Tecnicamente, o ADSL fornece um canal dedicado, o que deveria garantir a taxa de transmissão, enquanto a rede de TV a cabo é comum a todos os usuários, o que poderia levar a congestionamento e redução da taxa efetiva de dados. Em ambos casos, o usuário precisará de um provedor Internet, para poder enviar e receber e-mail. Poderão ser usados os serviços de Internet gratuitos.

Uma alternativa requerendo investimentos bem menores em infra-estrutura de cabeamento é o uso de comunicação sem fio. Neste caso, o modelo é do provedor de acesso tradicional, onde uma empresa oferece serviços de acesso, de e-mail, de servidor WWW para seus clientes. A diferença é que o acesso é feito via rádio, usualmente do tipo WaveLAN (rede local via rádio seguindo o padrão IEEE 802.11), popularizado pela Lucent Technologies (www.lucent.com). A comunicação via rádio requer visada direta, e usa a tecnologia CDMA (Code Division Multiple Access), o que dispensa a autorização da Anatel. A taxa de transmissão varia entre 2 e 11 Mbps, e, tipicamente, o enlace de rádio estabelece conectividade entre o provedor e uma rede local de usuários, de tecnologia Ethernet, instalada num prédio de apartamentos. A conexão entre o provedor e algum backbone Internet é realizada usando um enlace convencional.

Meu provedor no Rio de Janeiro (www.wnetrj.com.br) é deste tipo, e atende apenas ao bairro onde resido, por causa da topografia montanhosa. Ele já atende a dezenas de prédios e recentemente aumentou sua conexão externa para 6 Mbps. O preço cobrado é R$100,00 de instalação e R$50,00 de mensalidade, incluindo serviços de e-mail. Como as conexões são compartilhadas, não há garantia de banda, mas o serviço é sensivelmente mais rápido do que o acesso discado que eu usava antes, que chegava a me custar o dobro na minha conta telefônica, para um serviço muito mais limitado. Estes preços seriam típicos para o caso de prédios de 20 andares comuns no meu bairro. Em Niterói, onde trabalho, há muitos casos de uso desta tecnologia por prédios menores, mas nestes casos seria necessário um acordo prévio dos moradores sobre o projeto, para tornar os preços acessíveis. Com um pouco de boa vontade, projetos semelhantes poderiam ser montados para atender a conjuntos de casas, usando rádio para interligar as casas em rede local, que então se comunicaria com o provedor também via rádio..

O acesso Internet 24 horas, sem ocupar o telefone, é essencial para sustentar o tele-trabalho, onde as pessoas trabalham usando a Rede sem sair de casa. Ele já começa a se estabelecer aqui, e muda a maneira de encarar acesso à Internet. Uma casa de Internet 24 horas está sempre on-line.

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Nota transcrita da na Coluna de 09 de outubro de 2000:

Ao leitor Adriano Atuati tenho uma dívida de gratidão por ter-me mostrado uma falha na coluna de 18 de setembro. Nela, por falta de conhecimento íntimo do funcionamento dos serviços ADSL e de TV a cabo, afirmei que estes dois serviços dariam acesso direto à Internet a seus usuários. Adriano aponta a necessidade de contratar um serviço de provedor de acesso, ao qual o acesso de faixa larga manteria a conexão do usuário. Portanto, os custos deste serviço de acesso seriam acrescidos pela taxa cobrada pelo provedor de acesso, estimada em R$30 mensais.