Michael Stanton

WirelessBrasil

Ano 2004       Página Inicial (Índice)    


21/01/2004
Notícias pela rede

Desde pequeno sou consumidor contumaz de notícias em diversas formas. Naquela época os meios disponíveis eram os tradicionais: a imprensa, o rádio e a televisão. Destes de longe considerava como o mais conveniente o jornal impresso, pois ele serve ao seu leitor, não ditando a ordem dos assuntos e o tempo dedicado a cada, ao contrário do rádio e da TV, que impõem seu horário e ritmo. Saí da Inglaterra com 23 anos, e qualquer viajante aprende logo que os noticiários de outros países não dão muito atenção aos assuntos que interessam principalmente a nós. Para um brasileiro no exterior, saber do que passa aqui é, ou, melhor, era, muito complicado se dependesse da imprensa, rádio e TV do local onde ele estivesse. Durante quase trinta anos, eu assinava um seminário britânico (The Guardian Weekly, antigamente The Manchester Guardian Weekly) para me manter em contato com o que passava na ilha onde nasci, e às vezes escutava o rádio da BBC World Service, através das ondas curtas. Só deixei de renovar minha assinatura desse seminário quando já era assinante de TV por assinatura aqui no Rio, o que também liquidou com qualquer pretensão minha de sintonizar um rádio com o som vacilante da estação britânica.

Entretanto, o que me toca mais profundamente é a palavra escrita, pelos motivos já citados acima, e hoje em dia passo muito pouco tempo assistindo noticiário na TV porque as novas alternativas, disponíveis através da Internet, são muito melhores. Meu primeiro contato com a imprensa brasileira foi quando morei em São José dos Campos, entre 1971 e 1973. Nessa época, ler o jornal era um dos principais exercícios que fazia para aprender português, e o jornal que lia era O Estado de S. Paulo, na época cheio de longos trechos de As Lusíadas, em protesto contra a censura prévia da ditadura militar. Depois, mudei-me para o Rio, e passei a assinar um jornal carioca, e até hoje assino o Jornal do Brasil, embora tente ler também os concorrentes, tanto do Rio como de São Paulo, quando tiver oportunidade (alô, alô, Varig e TAM!). Foi então com grande interesse que acompanhei o pioneirismo do Jornal do Brasil em 1994 ou 1995 ao iniciar sua publicação na Internet, mantida até hoje (www.jb.com.br). Ele foi seguido pelos outros principais jornais do Rio e São Paulo nos anos seguintes, e quem se deliciava com o texto tinha um prato cheio, com acesso imediato aos excelentes artigos ou colunas publicados em nossos melhores jornais. Evidentemente isto se estendeu depois a outras cidades e a outros jornais deste grande país.

Melhor do que isto, como a Internet é verdadeiramente internacional, pela mesma maneira podíamos ter acesso à imprensa de outros países, e hoje em dia sou leitor diário (de partes) do jornal britânica The Guardian (www.newsunlimited.co.uk), do qual o seminário que assinava era uma seleção, e do norte-americano The New York Times (www.nytimes.com). Se me limito a citar apenas jornais em inglês, é uma comodidade minha, mas não é necessário. Como cheguei a comentar na coluna de 24 de outubro de 2003, os jornais de Bolívia também estão disponíveis pela Internet, e às vezes eles são a única maneira de descobrir o que passa naquele país. E há, evidentemente grandes jornais com cobertura e opiniões sobre o que passa neste mundo, que são publicados em dezenas, senão centenas, de línguas diferentes. Um dos tesouros que descobri na Internet nos últimos tempos é um sítio australiano (www.onlinenewspapers.com), onde se montou um diretório de jornais disponíveis pela Internet, organizado por país. Quando adolescente lia os jornais na biblioteca central da minha cidade, onde havia uma sala de leitura. Hoje a sala de leitura fica na minha casa, e não preciso esperar outra pessoa liberar o único exemplar de um jornal para poder lê-lo.

Ainda melhor, freqüentemente é possível também acesso via rede a números atrasados, organizados por data de publicação, ou indexados por conteúdo, ou ambos. Nesta área tenho grande admiração pelos jornais que façam (quase) idênticos os conteúdos impressos e disponíveis via rede. Para ratos de bibliotecas, como às vezes sou para pesquisar uma matéria específica, por exemplo, para esta coluna, não há nada melhor do que estes recursos tão ricos. Entretanto, tudo tem seu custo, para quem precisa administrar, e às vezes tem seu preço para o leitor.

Desde que a Folha de S. Paulo iniciou sua publicação pela Internet, o acesso a seu conteúdo nunca foi gratuito. O leitor precisa ser assinante, ou do jornal impresso, ou do provedor UOL. Isto deve torná-lo inacessível a leitores no exterior, além de fora do alcance de muitos patrícios. Admirava muito a postura de O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde, que franqueavam o acesso a seu conteúdo a todos. Entretanto, me surpreendi recentemente ao descobrir que esta postura foi substituída pela restrição de acesso apenas a assinantes. O mesmo vem ocorrendo com alguns outros jornais que lia de vez em quando, por exemplo, El País de Madri e The Times de Londres. Outros, como The Independent de Londres, cobram uma tarifa para ler certas reportagens, por exemplo, as colunas de Robert Fisk sobre as últimas guerras de George W. Bush. Ainda outros jornais cobram por acesso a artigos publicados há mais de uma semana, por exemplo, The New York Times. Entretanto, este último jornal franqueia acesso a todos os leitores, embora requeira que estes se cadastrem. Pessoalmente considero um grave erro interpor estas restrições de acesso aos jornais, por não crer que vai trazer um aumento significativo de receita para o dono do jornal - leitor simplesmente buscará seu material de leitura em outro canto. O malefício é evidente: restringe o fluxo de informação e conhecimento e empobrece o meio cultural em que vivemos.

Apesar destas baixas no que era antes um mundo relativamente livre de custos deste tipo, a maioria esmagadora de jornais ainda está acessível gratuitamente pela Internet, mantendo aberto para o interessado em notícias, e especialmente para aquele que quer adquirir visões equilibradas sobre assuntos controvertidos, o poder de se informar. Dos principais jornais do Rio e São Paulo, o que está mais disponível hoje em dia é O Globo (www.oglobo.com.br), hoje, sem dúvida, o jornal mais completo do Rio de Janeiro, com um grande elenco de colunistas (muitos dos quais antes publicados no Jornal do Brasil).

Evidentemente, os sítios dos jornais impressos concorrem como fontes de notícias com outros portais de notícias, alguns associados a estações de TV, como a Rede Globo (www.globo.com) e a Rede Band (www.band.com.br) no país, e a CNN (cnn.com) e a BBC (news.bbc.co.uk) no exterior, outras a provedores Internet, como a iG (www.ig.com.br), a Terra (www.terra.com.br) e a UOL (www.uol.com.br), e ainda outros associados a grupos de mídia, como nosso querido Estadão.com (http://www.estadao.com.br). A vantagem destes sítios é que tendem a ser atualizados continuamente, diferente dos sítios dos jornais, que às vezes somente são atualizados uma vez por dia, porque registram o que foi, de fato, publicado na edição impressa.

Poderíamos estender esta discussão de notícias, tratando do assunto de blogs, onde as notícias e, principalmente a interpretação e reação de um observador atento, são o prêmio do leitor. Blogs tem características semelhantes a colunas como esta, talvez com menor formalidade. Outro vertente interessante seria o mundo do rádio via rede, o que, no meu caso, permite voltar a escutar a "voz de Londres", com muito melhor qualidade do que antes (www.bbc.co.uk/worldservice/index.shtml). Estes assuntos vão ter que ficar para outra ocasião.