Michael Stanton
WirelessBrasil
Ano 2004 Página Inicial (Índice)
20/11/2004
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Recorde de velocidade nas redes
A partir das zero horas do último dia 11 de novembro, hora do Brasil, iniciou-se um experimento conduzido por físicos em diferentes partes do mundo, para ver se juntos seriam capazes de quebrar o recorde de transferência de informação entre computadores em rede. Este experimento foi coordenado pelo professor Harvey Newman, do California Institute of Technology (Caltech), e foi realizado no evento SC2004 em Pittsburgh, EUA (v. ultralight.caltech.edu/sc2004). Foi enviada informação em altas taxas por computadores de físicos de outras instituições dos EUA, Inglaterra, Suiça, Japão, Coréia e do Brasil. Toda esta informação convergiu para Pittsburgh onde era recebida pelos equipamentos da equipe do Caltech. Durante duas horas estes equipamentos foram literalmente bombardeados pelos fluxos de bits vindo de tantos lugares distintos, e foi ultrapassada a expectativa dos realizadores do experimento - o alvo era alcançar a taxa agregada de 100 Gbps (100.000 megabits por segundo), e foi medida a taxa máxima de 101,13 Gbps. Isto seria aproximadamente o equivalente a baixar (copiar) o conteúdo de três DVDs típicos de 4 GBytes a cada segundo, ou em torno de 11.000 DVDs a cada hora. Isto também corresponderia à transmissão em 15 minutos do conteúdo inteiro da biblioteca do Congresso norte-americano (a biblioteca nacional desse país), e estimou-se que isto corresponderia a 5% da taxa de produção de conteúdo novo em toda a Terra.
Os físicos brasileiros que participaram desta façanha eram as equipes dos professores Alberto Santoro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Sérgio Novaes da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Elas integram a comunidade nacional de físicos de altas energias, que mantém colaborações internacionais organizadas em torno dos grandes aceleradores de partículas, tais como do Fermi National Laboratory (Fermilab) em Chicago, EUA, ou do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) em Genebra, Suiça. Na coluna de 27 de fevereiro, foi mencionada a oficina realizada na UERJ, organizada pelos professores Harvey Newman e Alberto Santoro. Naquela ocasião, era patente a impaciência dos físicos brasileiros perante os impedimentos à sua participação em atividades como o experimento do último dia 11. Apenas nove meses mais tarde, pôde finalmente ser demonstrada pela primeira vez esta contribuição dos brasileiros ao esforço internacional de juntar não apenas os físicos de diferentes países, como também seus computadores através das redes de comunicação, para juntos poderem analisar os resultados experimentais destes grandes aceleradores.
Ambas as participações brasileiras no experimento deste ano contaram com recursos de comunicação cedidos excepcionalmente para o evento. A contribuição paulista foi feita utilizando um circuito internacional de 2,5 Gbps entre São Paulo e Miami emprestado durante o evento pela provedora de telecomunicações LANautilus, do grupo Telecom Itália. De Miami o tráfego seguia para Atlanta, a partir de onde passava pela rede Abilene (Internet2). Já a contribuição carioca usava uma rota mais longa, passando por várias redes de pesquisa existentes no Brasil, na Europa e nos EUA, devidamente configuradas para atender as suas necessidades. No caso, o tráfego usava a rede experimental do Projeto GIGA entre a UERJ no Rio até a USP (v. coluna de 9 de maio), a Rede CLARA de São Paulo até Madri (v. coluna de 5 de outubro), a rede GÉANT de Madri até Frankfurt, e daí para Nova Iorque, onde entrava na rede Abilene (Internet2). A taxa de transmissão de dados sustentada pela equipe da UERJ durante o experimento foi 400 Mbps.
Com a entrada em operação em poucas semanas de novas conexões internacionais de grande capacidade entre Brasil e os EUA para o uso da comunidade acadêmica nacional, espera-se que se torne corriqueiro e habitual o tipo de intercâmbio de informações científicas entre os dois países demonstrado pelos físicos durante o evento SC2004. Estas novas conexões contarão com recursos financeiros concedidos pela National Science Foundation (NSF) dos EUA, em apoio de dois projetos distintos: o CHEPREO e o WHREN/LILA.
CHEPREO é um projeto da Florida International University (FIU) para criar um centro de pesquisa e extensão em física de altas energias, em colaboração com o Caltech, e com outras universidades na Flórida e no Brasil (www.chepreo.org). No Brasil a colaboração é com os físicos envolvidos na projeto CMS do laboratório CERN (v. cmsinfo.cern.ch/Welcome.html), liderado pelo grupo do professor Santoro da UERJ, e envolvendo outros grupos de pesquisa na UFRJ e CBPF no Rio de Janeiro, na UFBA em Salvador, na UFRGS em Porto Alegre, e na USP e UNESP em São Paulo, sendo este último liderado pelo professor Novaes. A conexão que sustentará o acesso aos físicos brasileiros será compartilhada e co-financiada pela FAPESP, em substituição à conexão AmPath entre São Paulo e Miami, que ela mantém desde 2002.
WHREN/LILA (Western Hemisphere Research and Education Network/Links Interconnecting Latin America) é projeto conjunto de FIU com CENIC (a rede acadêmica do estado de Califórnia), e faz parte do programa IRNC (Conexões Internacionais entre Redes de Pesquisa) lançado pela NSF em 2004. Este projeto procura interligar as redes de pesquisa dos EUA com as da América Latina, através de duas conexões de grande capacidade a pontos de presença da Rede CLARA em Tijuana, México, e São Paulo (v. www.redclara.net). A primeira deverá ser construída iluminando fibra apagada entre as cidades de San Diego na Califórnia e Tijuana, e dará acesso em alta capacidade tanto à rede mexicana da CUDI como à Rede CLARA. A segunda conexão à Rede CLARA seria realizada através de enlace de Miami a São Paulo, provavelmente na forma de aumento significativo de capacidade da nova conexão do projeto CHEPREO. Deve-se observar que os pontos de presença da Rede CLARA em São Paulo e Tijuana estão interligados entre si por um enlace direto, interno a esta rede.
Isto
tudo significa que a partir de 2005 os cientistas do Brasil passarão a ser muito
bem servidos em termos da sua conectividade às redes dos EUA e do resto do
mundo, com múltiplos caminhos alternativos (via Tijuana, Miami e Madri), o que
permitirá estreitar ainda mais o grau de colaboração com seus pares no exterior.
Em particular, as atividades apresentadas experimentalmente pelos físicos
durante o recente evento em Pittsburgh deverão passar a fazer parte do
cotidiano, não apenas destes físicos, como de cientistas de outras áreas de
saber que possam se beneficiar por boa comunicação de informação digital.