Michael Stanton
WirelessBrasil
Ano 2005 Página Inicial (Índice)
29/04/05
•
Reunião de primavera de CUDI
Esta semana realizou-se na cidade de Veracruz no México a reunião semestral da Corporação Universitária para o Desenvolvimento da Internet - CUDI (www.cudi.edu.mx), que opera a rede acadêmica de México, e equivale nesse país à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa - RNP - no Brasil. Como México e Brasil são os países mais populosos e com as maiores PIB da América Latina, é interessante observar tanto as semelhanças como as diferenças entre eles, e isto também inclui o setor das redes avançadas usadas pela comunidade acadêmica.
Para a área de telecomunicações, privatizada nos dois países, é impressionante o grau de domínio no mercado de empresas do grupo Telecomunicações de México - Telmex, tanto na telefonia fixa como a celular. Este domínio possibilitou a expansão dos seus negócios para fora do país, e as empresas do grupo hoje controlam importantes empresas em outras países, inclusive a Embratel e a Claro no Brasil. Das grandes empresas de telecomunicações na América Latina, somente duas são controladas por capital da própria região: a Telemar no Brasil e a Telmex. As demais são controladas por grupos europeus ou norteamericanos.
A posição forte da Telmex no México fez com que a rede acadêmica mexicana tivesse forma de sustentação diversa da brasileira. No Brasil, as redes acadêmicas são sustentadas pelos governos, quer sejam dos estados, como nos casos da ANSP em S. Paulo e da Rede-Rio no Rio de Janeiro, quer seja federal, no caso da RNP. Em estes casos, as redes acadêmicas são montadas usando serviços de telecomunicações comprados de empresas operadoras do ramo, valendo para isto as condições e os preços do mercado. No México, por outro lado, a rede da CUDI é uma doação da Telmex e sua concorrente, Avantel, para a comunidade acadêmica - a CUDI não paga o aluguel dos serviços de telecomunicações usados para a montagem da sua rede.
Por enquanto isto tem servido muito bem à CUDI, que é um consórcio de universidades e centros de pesquisa espalhados em todos os cantos do México. Em termos de capacidade nominal, a rede da CUDI até recentemente era maior do que da RNP, embora esta relação tenha se invertido em 2004. Também conta com conexões boas e relativamente baratas ao exterior, ou seja, aos EUA, país vizinho com longuíssimo fronteira comum. México foi o primeiro país de América Latina a estabelecer uma conexão em rede aos EUA, já em 1986 - no Brasil as primeiras conexões foram instaladas em 1988. Na questão de colaboração externa usando estes novos meios de comunicação, até recentemente os mexicanos se comunicavam com mais facilidade com os nortamericanos e os europeus do que com os colegas latinoamericanos.
Isto mudou-se um pouco com a criação da Rede CLARA (www.redclara.net), que começou a funcionar em setembro passado, e fornece conexões de boa capacidade entre as redes acadêmicas de todos os países continentais da América Latina de língua espanhol, do Brasil e de Cuba (v. a coluna de 5 de outubro de 2004). A CUDI foi uma das fundadoras da organização CLARA, e se convenceu da importância de participar nesta iniciativa de grande importância para o desenvolvimento regional. Hoje a Rede CLARA chega ao México com conexões do Panamá de São Paulo até a cidade setentrional de Tijuana, aonde em breve também chegarão enlaces desta rede vindo de pelo menos quatro países da América Central.
Com o início do funcionamento da Rede CLARA começam a se estreitar colaborações científicas entre mexicanos e pesquisadores de outros países na região, e especialmente do Brasil. Estas já existem em tais áreas como da física, da saúde e da engenharia, e devem com o tempo florescer em outros setores do saber. Por exemplo, já participam mexicanos e brasileiros (e também argentinos, chilenos, cubanos, peruanos e venezuelanos) num novo projeto de montagem de grades computacionais para servir de infra-estrutura para a chamada ciência eletrônica. Este projeto, denominado EELA (Extending E-infrastructure to Latin America), também envolve a colaboração de pesquisadores europeus de mais três países e do laboratório CERN em Genebra. Quando pronto, permitirá o cientista participante usar um conjunto de computadores em alguns ou todos estes países para realizar seus trabalhos mais exigentes.
Nesta última semana de abril a cidade de Veracruz recebeu cientistas e engenheiros de todo o México para discutir como usam a rede da CUDI para seus trabalhos. Também participaram vários pessoas de outros países: da comunidade CLARA, que realizou um encontro técnico no início da semana, e convidados dos EUA e de Europa. Também foram discutidas as futuras tendências de evolução das redes da CUDI, da RNP e da CLARA. Enfim, foi uma semana cheia.
É evidente para este observador que a vigorosa comunidade acadêmica mexicana está bastante animada com o acesso aos novos recursos de comunicação e computação possibilitados pelas redes avançadas que se estendem rapidamente, como é também o caso do Brasil. Seria de todo conveniente explorarem estas duas comunidades as possibilidades de efetiva colaboração entre si, abertas, por exemplo, por contatos pessoais mais diretos, facilitados por ferramentas como a videoconferência. O bom aproveitamento destas ferramentas barateia substancialmente os custos de colaboração tornando mais ricos e produtivos eventuais encontros presenciais. Comparado com a comunicação escrita ou até por telefone, os contatos realizados por videoconferência possibilitam um contato humano mais próximo, pela grande importância da comunicação visual.
Já li
uma vez que as redes de comunicação têm como objetivo principal acabar com a
tirania da distância. Em termos geográficos, México fica bastante longe, mais de
8 horas de vôo direto de São Paulo. Mas sinto que a distância já está bastante
encurtada, graças às novas tecnologias.