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[04/09/05] Cheiro de pizza na extinção da assinatura básica está no ar [21/08/05] Voltamos a idade das trevas? [07/08/05] Consumidores declaram guerra total a Anatel [31/07/05] Telcos querem legitimar mensalão disfarçado Cheiro
de pizza na extinção da assinatura básica está no ar [04/09/05]
Nesta edição da coluna trago a público
– ainda que a contragosto e estarrecida - um fato lamentável que
ocorreu conosco e que sinceramente não o desejo a ninguém. Todavia,
em consideração aos honrados leitores, colaboradores e apoiadores do
site me vejo na obrigação moral de revelar essa ocorrência no mínimo
assustadora.
Acontece que na semana passada o
AliceRamos.com sofreu uma inaceitável e inacreditável ação de
censura prévia, que foi perpetrada por quem jamais um veículo de
imprensa poderia esperar. Não, dessa vez a agressão não partiu do
governo, de políticos, ou de qualquer órgão público, e nem mesmo
da justiça.
A atitude que, esta sim, nos fez
relembrar os tempos de exceção do período de ditadura militar foi
praticada – para nossa perplexidade – pelo Portal iG , do qual
este site, através do iG Economia / Último Segundo / Mundo Virtual,
era parceiro desde janeiro de 2003. O referido veículo de comunicação
simplesmente nos tirou abruptamente do site Mundo Virtual, e só
depois de dois dias, nos comunicou verbalmente ‘que não tinham mais
interesse em prosseguir com a parceria’.
Enquanto o controle acionário do iG não
foi alterado tudo estava bem, mas, após passar para as mãos de
outros controladores, vemos agora o resultado.
Mas o real motivo para a aplicação de
tamanha arbitrariedade foi (agora pasmem) o posicionamento do site, em
relação ao conteúdo das duas últimas edições desta coluna:
Telcos querem legitimar mensalão disfarçado e Consumidores declaram
guerra total a Anatel.
Ambos os artigos analisam e denunciam as
manobras orquestradas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
que, em conluio com as telcos, estão tentando impedir que a população
elimine a assinatura mensal do Serviço de Telefonia Fixo Comutado do
próximo contrato de concessão e manter a população cativa, por
mais 20 anos, a um pagamento compulsório para a telefonia fixa, que
é, em última análise, uma tecnologia que já entrou em fase de
obsolescência.
Além disso acena com supostos
redutores, como o suspeitíssimo Fator X (em PDF), quando neste
momento o Brasil poderá extinguir a cláusula a qual o Poder Judiciário
diz dar sustentação à cobrança da assinatura.
Tanto é verdade que essas relações da
Anatel com as operadoras são perigosas, e que há indícios de que
mais um mar de lama virá à tona desta vez no setor de telecomunicações
é que a Câmara dos Deputados aprovou no dia 17/8 a CPI da Anatel
para apurar os contratos assinados pela agência entre 1997 e 2003.
Mas como essas verdades publicadas pelo
AliceRamos.com atingem em cheio os interesses de muita gente
importante, daí pode-se deduzir claramente que o ‘corte’
repentino nas relações com o portal mencionado, tratou-se claramente
de uma retaliação. Ou seja, por não encontrarem outra forma de nos
atingir tentaram de forma autoritária nos calar.
Desta vez esbarramos fortemente nos
interesses das telcos, pois acabamos por frustrar-lhes em parte suas
intenções, pois logo em seguida à publicação desses textos vários
movimentos e abaixo-assinados contra a assinatura começaram a se
formar pelo país. Tanto que o presidente da Câmara se viu
pressionado e colocou em andamento o Projeto de Lei 5476/2001 do
deputado federal Marcelo Teixeira (PMDB-CE) - [leia a íntegra e os trâmites],
que prevê o fim da assinatura.
E essa não foi a primeira agressão, já
sofremos outras, de naturezas diversas, quando por exemplo nos
posicionamos contra determinadas falácias do governo federal a
respeito do software livre, como se o mesmo fosse uma questão
meramente ideológica.
É bem provável que nosso
posicionamento contra os atos do governo Lula já tenha sido motivo
suficiente para estarmos em sua lista negra, assim como outros veículos,
pois o próprio presidente tem acusado a imprensa de estar ‘tentado
fazer a lama subir a rampa e chegar ao Planalto’.
Durante a ‘guerra contra a MP 232
(leia o texto), o AliceRamos.com deu todo apoio ao movimento nacional
contra o aumento de impostos, também foi contra o reajuste de salários
dos parlamentares, sem visar nenhum tipo de recompensa que não fosse
evitar que a nossa população já tão sacrificada fosse garfada mais
uma vez.
Nós bem sabemos que para um veículo de
imprensa assumir uma postura ética, de lisura e manter acesa a chama
de idéias que beneficiem de verdade a população, paga-se um preço
bem alto. Realidade que todo jornalista cioso de seu papel social
conhece muito bem e que, mais cedo ou mais tarde, irá acabar se
confrontando com interesses poderosos e até destruidores.
No entanto a gente sempre espera esse
tipo de reação do governo, ou de políticos corruptos, do crime
organizado (como no caso do Tim Lopes), ou de empresários
inescrupulosos como aqueles que a todo o momento se apresentam às
CPI’s, mas não de pares.
Mesmo assim, não deve restar dúvida
que repercutiremos tal absurdo em todo Brasil, inclusive através de
outros órgãos de imprensa que certamente não compactuam com esse
tipo de golpe contra a liberdade de expressão, a democracia, e muito
menos contra o povo.
A propósito disso, jamais pensei que
uma frase de Lenin, que provavelmente já foi muito usada pelos
‘companheiros’ de Lula para acusar jornalistas, pudesse ser tão
bem aplicada a essa conjunção carnal das teles com a Anatel, sob um
governo de esquerda: “A liberdade de imprensa de uma sociedade
burguesa consiste na liberdade dos ricos para fraudar, desmoralizar e
ridicularizar sistemática e incessantemente as massas exploradas e
oprimidas do povo”.
Nada como um tiro no próprio pé para
os maiores interessados reconhecerem que a assinatura mensal da
telefonia fixa pode sair pela culatra.
Consumidores
declaram guerra total a Anatel
07/08/05 • Alice Ramos Mais uma batalha na guerra pela derrubada da assinatura básica da telefonia foi travada na semana passada. De um lado os algozes, com a Anatel liderando as operadoras de telecomunicações, do outro a sociedade brasileira que vem tentando a todo custo e sem sucesso se defender de uma rapinagem absurda.
No dia 1 de agosto a 2ª Vara Federal de
Brasília considerou ilegal a cobrança e determinou que a Anatel
informasse a todas as operadoras para cessarem a cobrança sob pena de
multa de R$ 100 mil diários para cada uma das empresas caso se
negassem a cumprir liminar concedida em favor do Instituto Nacional de
Defesa do Consumidor (Inadec).
No dia 4 a Anatel impingiu nova derrota
à população conseguindo derrubar a liminar. O pedido foi acolhido
pela juíza substituta Lilia Botelho Neiva, da mesma Vara.
As argumentações da agência foram as
de sempre. Só que desta vez, ao contrário das anteriores, a Anatel
pode já não ter tanta certeza que vai conseguir manter essa vantagem
para as concessionárias de telefonia.
Acontece que diversos setores da
sociedade já deram sinais de que não vão recuar, e tudo indica que
haverá novos confrontos e atacarão pelos flancos. Para quem ainda não
sabe os pontos vulneráveis por onde a Anatel e todas as prestadoras
de serviço de telefonia fixa comutado irão cair, terei o prazer de
informar.
Em primeiro lugar, o mais importante de
tudo vai além da discussão sobre semântica jurídica, se a
assinatura é taxa, tarifa, ou tenha outro nome qualquer. O que vai
valer a partir de 2006 será um novo contrato de concessão onde as cláusulas
poderão ser alteradas. A nação não pode de forma nenhuma se tornar
refém das operadoras por mais 20 anos, sendo algemada a uma imoral
assinatura básica.
E não é só isso.
Não bastasse ser muito difícil prever
quais serão as necessidades dos consumidores, e as demandas do
mercado daqui a duas décadas, frente aos avanços tecnológicos que
deverão ser imensos, a Anatel não fez absolutamente nada para tornar
os contratos, por assim dizer, ‘escaláveis’, a fim de adaptá-los
a cenários futuros em relação aos usuários. Pelo contrário, só
trabalhou até agora no sentido de garantir tudo do bom e do melhor
para as teles, em detrimento dos interesses e demandas da população.
Mas tanto a Anatel com as empresas de
telecomunicações sabem que as coisas podem mudar especialmente por
causa do projeto de lei que está tramitando na Câmara, do deputado
Marcelo Teixeira (PMDB-CE), que prevê o fim da cobrança.
Chegou a hora da nação exigir dos
parlamentares que aprovem incondicionalmente a extinção da
assinatura na telefonia. O próximo contrato não precisa ter em suas
cláusulas uma vantagem extremamente exagerada às operadoras,
desequilibrando totalmente a relação com os consumidores, o que por
força do Código de Defesa do Consumidor é nula de pleno direito.
Portanto essa conversa fiada de
cumprimento de contratos que seriam, nas alegações das telcos, um
‘ato jurídico perfeito’, não encontra amparo em nenhuma lei.
Mesmo que o Supremo Tribunal Federal (STF) continue decidindo a favor
das operadoras, isso só vai continuar acontecendo enquanto essas cláusulas
não forem extintas por uma nova lei, em um novo contrato, ou quando o
STF começar a ser responsabilizado por comprometer a paz social, a
estabilidade econômica, ou provocar profunda ruptura em todas as relações
de consumo entre a população e as teles, tornando inviável a permanência
de investimentos no setor.
Aliás, o panorama do mercado já
caminha para essa degradação. A rejeição a essas práticas tem
aumentado em escala geométrica. Não devemos esquecer que a função
de fazer a leis é do Congresso Nacional, e não de outro poder.
Tanto é verdadeiro que essa conjuntura
favorável às teles, que tem todo o aparato de estado a seu favor (só
faltam incluir as Forças Armadas para defender essas empresas), já não
mais se sustentará por muito tempo.
Percebendo isso representantes das
operadoras e da Anatel resolveram que irão tentar negociar a
assinatura básica nesta semana. Elas se reunirão com o presidente da
Inadec, o deputado federal Celso Russomano para juntos tentarem achar
uma solução para o impasse. O ministro das Comunicações Hélio
Costa estará intermediando o encontro.
Embora seja interessante a idéia de
Russomano de se criar uma Convenção Coletiva de Consumo, instrumento
jurídico previsto no Código de Defesa do Consumidor, tentativas de
negociação ou de redução da assinatura, nessas alturas do
campeonato é GOLPE.
A Anatel e as operadoras jamais
propuseram, ou sequer cogitaram, qualquer mudança nesse pagamento
compulsório de valor pecuniário aos consumidores. Sempre que tiveram
chance recorreram à Justiça contra a sociedade, alegando estarem
cumprindo contratos, e nunca quiseram saber de conversa.
Agora que está chegando o momento
previsto para se fazer um novo contrato, e o ministro das Comunicações
se mostra contrário à perpetuação da cobrança, e o Congresso está
propenso a aprovar o fim da assinatura, as teles querem NEGOCIAR?
A resposta é a mesma que foi para a MP
232, para o Mensalão, ou para qualquer outra falcatrua deste país:
um peremptório e sonoro NÃO!
NÃO para redução da assinatura. A
população quer sua extinção.
NÃO para qualquer tipo de negociação
nesse sentido.
NÃO para o monopólio privado ou
estatal das telecomunicações.
Quando o governo quis fazer o Brasil
engolir a força um aumento de impostos baixando a MP 232, foi
poderosamente repelido pela sociedade. Quando viu que encontrou resistência,
começou a fazer jogo sujo, tentando ‘negociar’, depois tentou
sensibilizar os empresários, em seguida tentou seduzir parlamentares
(quantos mensalões não devem ter pago, hein?).
Quando se viu acuado, o governo começou
a fazer ameaças ao povo dizendo que o país não teria como custear
os programas sociais. A sociedade assim mesmo disse NÃO. E não teve
fisiologismo, mensalão, corrupção, lobby, manobras, propinas,
aumento de salários de deputados que demovesse o Brasil de rejeitar a
MP 232.
Ela foi derrubada e certamente muita
gente no governo que contava com esse dinheiro para suas farras ficou
desolada.
No final, descobriu-se que todas as ações
do governo e do ministro da Fazenda não passaram de um monte de
MENTIRAS. O mesmo acontece agora com a Anatel e as operadoras: estão
MENTINDO.
O fim da assinatura não irá
comprometer a estrutura de telecomunicações do país. O que vem
trazendo transtornos ao mercado é a falta de competição que o Poder
Judiciário continua ajudando a manter. A assinatura, entre outras
coisas, colabora para isso.
Extinguir essa cobrança abusiva não
afastará investimentos no setor. Se acontecer de alguma concessionária
se desinteressar em continuar explorando os serviços de telecom, é só
devolver a concessão. Isso abrirá espaço e oportunidade para que
outras empresas mais arrojadas e competitivas entrem no mercado.
Não sentiremos falta de qualquer uma
das marcas telefônicas caso elas queiram deixar de ser player, pois
até o momento é a única coisa que elas significam para ao povo:
meros logotipos. Diferem-se uma das outras apenas nisso.
Convém pontuar que os interessados em não
pagar mais essa conta, não devem ter medo. O marketing do medo é uma
das estratégias da Anatel e de ‘suas’ operadoras para tentar
dissuadir a população da idéia de deixar as telcos sem mais essa
mamata.
Suponhamos que a assinatura seja extinta
amanhã. Será que uma Telemar, uma BrasilTelecom, uma Telefônica, e
outras vão realmente querer abandonar o mercado e deixar, de mão
beijada, de ganhar bilhões de reais diversificando serviços e
produtos?
Tenho certeza que não.
Por isso é importante que seja iniciado
imediatamente um movimento nacional pelo fim da assinatura básica no
serviço de telefonia fixo comutado. A participação da nação é
indispensável para pressionar sem tréguas os parlamentares para que
aprovem logo a extinção da assinatura agora, e nos contrato futuros,
e retire poderes da Anatel.
A agência reguladora até o momento não
fez jus a independência que a ela foi concedida para regular o setor.
Pelo contrário, se aproveitou dessa condição para se tornar o
sindicato das empresas de telecom e impingir sacrifícios à população.
Minha proposta é que o Congresso
Nacional submeta a Anatel ao controle de uma Comissão Técnica
Nacional de Defesa do Consumidor, ou órgão equivalente, para que a
agência não mais se julgue e haja como se estivesse acima da lei.
Telcos
querem legitimar mensalão disfarçado
31/07/05 • Alice Ramos
O tratamento deste assunto chegou num nível
tal de leviandade que qualquer veículo de imprensa que se preze, se
julgue independente, tenha compromisso com a verdade e com seu público,
não pode ficar impassível diante da multiplicação sistemática e
crescente de argumentos jurídicos-econômicos, que pretensamente
tentam justificar a perpetuação da cobrança da assinatura básica
da telefonia, sem levantar severos questionamentos.
Justamente por isso não acho recomendável
usar de imparcialidade para indevidamente me furtar de abrir o jogo
com os leitores. Agora não é hora de sermos imparciais. O problema
é grave demais para falarmos superficialmente a respeito de tema de
tamanha importância para a nação.
Não se assuste com o que vai ler aqui,
mas tenha em mente que depois que seus olhos forem abertos, você não
conseguirá mais ser um inocente-útil.
Para começar, me reporto ao dia 8 de
julho quando o ministro Hélio Costa assumiu o Ministério das
Comunicações. Em seu primeiro pronunciamento ele declarou que
lutaria pela redução do custo da assinatura básica da telefonia
fixa. Sua afirmação causou um tremendo mal estar entre alguns
agentes do mercado tanto financeiro, como principalmente o de
telecomunicações. Dias depois, em 11 de julho, quando foi
oficialmente empossado, ele reiterou sua disposição de questionar a
referida tarifa.
Na sua argumentação, veiculada pela Agência
Brasil, o ministro disse que não dava “para um trabalhador
brasileiro que ganha dois salários mínimos pagar R$ 40 para ter
telefone fixo em casa” e que “na época da privatização houve
essa imposição das empresas para que não acabasse a tarifa básica.
Isso foi uma exigência, está na lei, e chegou o momento de pelo
menos rediscutir essa questão”. Falou ainda que o valor é o mesmo
pago nos Estados Unidos e Europa, países com renda per capita muito
superior à brasileira.
Até aqui o pronunciamento do titular do
Ministério das Comunicações foi o mais sensato possível, não
havendo nada de falso ou equivocado.
Mas bastou isso para que as operadoras
de telecomunicações entrassem, como se diz, ‘com os dois pés’
(para não dizer os quatro), valendo-se de um jogo pesado para tentar
intimidar qualquer tentativa de mudança. O que elas fizeram? Dessa
vez foram buscar ajuda da seguradora estadunidense Bear Stearns para a
realização de um estudo que concluiu sabe o que? Adivinhem?
‘Que a assinatura mensal da telefonia
fixa vem ganhando cada vez mais importância na receita das operadoras
do setor’.
Eu fiquei me perguntando como uma
empresa dessas consegue sobreviver, e ainda fez a proeza de aumentar
seu lucro no segundo trimestre de 2005, em 5%, atingindo uma receita
de US$ 365 milhões, com essa capacidade incrível de descobrir o óbvio
ululante? A resposta para mim foi uma só: trata-se de um estudo
encomendado com objetivos meramente políticos. O que, convenhamos, um
levantamento com um propósito desses tem menos credibilidade do que a
aparição do E.T. de Varginha.
A razão pela qual os especialistas da
Bear Stearns produziram esse relatório foi exatamente uma reação às
palavras de Hélio Costa, encomendada – e certamente muito bem paga
– pelas telcos.
Os analistas Rizwan Ali e Miguel Garcia
da Bear Stearns, ainda confirmaram a real intenção do estudo quando
disseram: "Não importa o quanto a idéia (de por um fim na
cobrança da assinatura) pareça interessante aos políticos; o
governo brasileiro não pode ignorar os contratos de concessão e o
impacto no sentimento do país para investimentos e na lucratividade
das operadoras de telefonia fixa”.
Destrinchemos então o teor da peça
oratória anteriormente reproduzida:
1) Não importa o quanto a idéia pareça
interessante aos políticos.
O fim da assinatura não foi concebido
pelos políticos, mas sim pelas pessoas mais afetadas por essa cobrança
arbitrária, e decidida à revelia do interesse público, ou seja, dos
consumidores. Os primeiros projetos de lei começaram a tramitar na Câmara,
e depois no Senado, em função do enorme volume de ações na justiça
movida ora por usuários, ora por associações de defesa do
consumidor questionando a assinatura. O que começa a ser interessante
para os políticos, devido a crescente insatisfação da população,
são os dividendos eleitorais dos quais eventualmente poderão
usufruir nas próximas eleições.
Por esse motivo é que todas as pessoas,
que tenham telefone ou não, devem começar a pressionar os políticos
de suas localidades para votarem leis que extingam a cobrança desse
’mensalão da telefonia’. Quanto a propor uma compensação às
operadoras, isso não é problema nosso. Quem deve fazer esse tipo de
proposta é a Anatel junto com as operadoras e apresentá-las, com
ampla divulgação, em audiências públicas e ao Congresso Nacional.
Aliás, os atuais projetos de lei que estão tramitando na Câmara já
prevêem essa compensação com a elevação das demais tarifas.
É importantíssimo ressaltar que se não
houver mobilização séria, contumaz e sistemática da população em
escala ainda maior do que aquela que derrubou a famigerada MP 232 no
início do ano, não vai adiantar nada ficar perdendo tempo e dinheiro
com processos na Justiça.
Sabem por que?
Porque embora algumas ações tenham
sido vitoriosas aqui e ali, a tendência geral do Poder Judiciário
tem sido a de zelar pela manutenção dos contratos de concessão e o
Supremo Tribunal Federal (STF) não destoa dessa linha. O ministro
Edson Vidigal já andou falando sobre isso, uma vez que ele é um dos
maiores entusiastas da estabilidade jurídica dos contratos a fim de
atrair os investidores estrangeiros.
O Judiciário não está errado. O que
está errado é maneira como esses contratos foram negociados, e
fechados à época da privatização do Sistema Telebrás. Se esses
contratos respeitassem e considerassem o consumidor como parte
importante no jogo do mercado, o STF também teria que zelar por seu
cumprimento. Mas o que se viu durante a privatização da telefonia
brasileira foram verdadeiras negociatas e manobras suspeitas, sobre as
quais alguém apelidou seus articuladores de telegangues.
Não é nem preciso dizer que o
interesse da sociedade não esteve em questão em momento algum, pois
tudo foi feito à revelia da mesma. O resultado é que o país acabou
assumindo arremedos de contratos que prejudicaram profundamente o
povo. Os prejuízos foram muito maiores do que os benefícios, apesar
de uns e outros atestarem o contrário. Então não restava aos
tribunais superiores outra coisa a não ser confirmar o que foi
tratado.
Mesmo porque, a quebra de um desses
contratos ensejaria uma série de retaliações por parte dos países
players, como os EUA, que poderia por exemplo, para forçar os
brasileiros a cumprirem os contratos, suspender a venda de
medicamentos para o Brasil.
Infelizmente, apesar de possuirmos uma
enorme biodiversidade, de onde poderiam ser extraídos todos os
medicamentos que precisamos, o Brasil é extremamente dependente dos
laboratórios internacionais. Não cumprir as regras com as operadoras
poderia significar nossos velhinhos ficarem sem seus remédios vitais
de uso contínuo. Alguém duvida? Tem gente que diz que uma coisa não
tem nada a ver com a outra, mas eu não apostaria nisso.
O que todos nós podemos fazer agora é
exigir a alteração das cláusulas desse contrato, cuja renegociação
está prevista, no próprio contrato, para 2006, as mudanças, porém,
precisam ser encaminhadas e discutidas imediatamente. No entanto há
uma nítida operação tartaruga em andamento para que não haja tempo
hábil para levar essas alterações a efeito.
Mas uma coisa me trouxe enorme preocupação:
O ministro Hélio Costa falou também que modificar a cobrança da
tarifa básica é um desafio em primeira instância do Congresso
Nacional, pois os contratos com as operadoras para 2005 e 2006 já
foram negociados com o Ministério das Comunicações (em exercícios
anteriores ao do atual ministro).
Isto é: mais uma vez as operadoras
querem dar um golpe no Brasil, pois nada disso foi amplamente
divulgado. Você sabia dessa negociação? Sabia que as operadoras de
telecomunicações estão tentando desesperadamente por debaixo dos
panos (e por cima deles também) passar novamente a manutenção da
assinatura para a próxima versão do contrato de concessão que irá
vigorar pelos próximos 20 anos?
Uma coisa deve ficar bem clara e é bom
que os interessados se dêem por avisados: se não agirmos AGORA,
vamos ser obrigados a ficar amarrados a um novo contrato de concessão
com as velhas cláusulas que tanto nos prejudicam. Essa negociação a
que o ministro Hélio Costa se referiu ainda tem que passar pelo
Congresso Nacional, e não me admiraria se as telegangues começassem
a agir novamente para manter a assinatura exatamente do jeito que está.
Eles vão fazer lobbies fortíssimos, pois nesse negócio rola muito
dinheiro e ano que vem é período eleitoral.
Portanto aguardem, provavelmente ano que
vem o mensalão, a CPI dos Correios e Marcos Valério serão
esquecidos e a politicalha desvairada sabe muito bem em que portas vão
bater para pedir dinheiro para suas campanhas. Não é preciso ser
cientista político para deduzir que as empresas de telecomunicações
devem estar nessa lista.
A atual crise com relação à corrupção
e o mensalão não pode, e não deve ser o único alvo de nossas atenções,
nos distraindo dos outros grandes assuntos nacionais, como essa
absurda tarifa mensal. Desconfiem de quem defende ardentemente a
manutenção de mais essa conta, mesmo que essas pessoas aparentemente
não tenham ligação direta com as operadoras. Em geral a formulação
dessas teses tentam infundir o medo de desestabilização da rede de
telecomunicações do país. Não passa de proselitismo e marketing de
guerra.
Fiquem certos de que isso não irá
ocorrer. É mais fácil haver uma hecatombe na malha de telecomunicações
do país por incompetência ou imperícia de seus gestores do que por
falta da assinatura básica.
Há um dado no mínimo curioso a
respeito disso. Quando pagamos a assinatura do telefone, nos são
concedidos indistintamente uma franquia de 100 pulsos, outorgados pelo
artigo 3º da Portaria nº 226/97 do Ministério das Comunicações.
Mas o mesmo contrato de concessão, que as operadoras tanto usam para
seus próprios fins, prevê o creditamento tarifário que jamais foi
cumprindo e sequer citado pelas telcos e seus fiéis escudeiros.
E o que vem a ser isso? Os consumidores
que gastam menos de 100 pulsos deveriam ser beneficiados com desconto
proporcional no valor da assinatura do mês subseqüente. Mas tal
nunca foi feito, pelo contrário, algumas empresas telefônicas tomam
o crédito do consumidor no mesmo período de sua concessão, e não
se fala mais nisso. Tais créditos teriam como objetivo beneficiar
principalmente os usuários de baixa renda. Mas as teles não falam
dos milhões, ou quem sabe, até dos bilhões que recolheram nos últimos
11 anos só comendo esses créditos em milhões de linhas.
Então, dizer que as teles não vão
prestar serviços de qualidade e nem investir em inovação tecnológica
se ficarem sem a assinatura, é uma falácia. Elas nunca tiveram
qualidade, e o que usamos no Brasil geralmente é refugo tecnológico
de outros países. Não será pela ausência da assinatura que elas
deixarão de fazer suas obrigações. O oposto é o correto. As telcos
só cumprirão com suas obrigações se lhes for tirado esse subsídio
vergonhoso.
Além disso precisamos considerar a
entrada de novas tecnologias como a Voz sobre IP (VoIP), o Wireless
Fidelity (WiFi), a de Terceira Geração (3G) que são capazes de
derrubar enormemente os custos de manutenção das telcos, e aprimorar
em progressão geométrica a qualidade não somente das transmissões,
mas também a experiência dos usuários, e conseqüentemente do valor
agregado dos produtos e serviços que serão capazes de gerar novíssimas
e rentáveis oportunidades de negócios.
Se assim não fosse, todos os seminários
de telecomunicações organizados pelas próprias operadoras estariam
mentindo.
Já é mais do que consenso no mercado
de telecomunicações que voz irá virar commodity, pois será de graça
e portanto as empresas terão que diversificar mais e atender melhor
os consumidores.
E querem saber porque isso tudo não
acontece com as teles brasileiras no serviço fixo comutado?
Exatamente porque continuam usufruindo desse subsídio irracional da
assinatura básica. Quem vai querer trabalhar, se possui renda líquida
e certa todo mês, sem ter que fazer nenhum esforço, e sem precisar
se preocupar com a concorrência?
Os poucos que conheço que vivem assim são
os descendentes da Família Imperial que moram em Petrópolis, no Rio
de Janeiro, que recebem compulsoriamente uma alíquota de todos os
impostos relacionados a toda compra, venda e aluguel de imóveis
realizada no município. Além deles, somente as operadoras de
telecomunicações que têm mamata certa.
Daí vocês podem ver como é arcaica
essa visão imperial da assinatura básica.
Apesar da discussão sobre temas jurídicos
que tratam do respeito ao contrato de concessão de 1998 serem em
geral bem estruturados, não interessa mais à população saber se a
cobrança está ou não coerente com a legalidade de um contrato que
vai expirar em menos de um ano. Nós queremos saber é que a
assinatura seja extinta daqui para frente.
Para os que imaginam que a assinatura básica
é legal, vejam o excelente texto do advogado Paulo Andreatto Bonfim,
no site Jus Navegandi, que demonstra, à luz do ordenamento jurídico,
o descabimento de tal tarifa.
Para os que questionam: o que as
operadoras vão fazer para sobreviver, se até agora a maior parte da
receita dessas empresas está baseada nesta ‘reservinha de
mercado’, eu faço minhas as palavras do ministro das Comunicações
às telcos: “com a sua capacidade criativa encontrem caminhos”.
Assim sendo, não acreditem de forma
alguma em teorias da conspiração que dizem que as telcos vão
acabar, ou serem destruídas se ficarem sem a assinatura básica. Esse
argumento é velho e coisas parecidas foram usadas sob diferentes
formas, para inúmeras finalidades desde a época do Império.
A mesma coisa o governo dizia com relação
à MP 232, de que o fisco levaria um enorme prejuízo se abrisse mão
de aumentar os impostos dos prestadores de serviços. A nação
derrubou essa MP e o Brasil não acabou, pelo contrário, descobriu-se
que tudo não passara de armação e de uma grande mentira. Tempos
depois o senador Aluísio Mercadante (PT-SP) admitiu que o aumento não
era necessário. Às vezes parece até que ainda estou ouvindo aquelas
palavras do ex-presidente Itamar Franco: “Os números não mentem,
mas os mentirosos fabricam números”.
Temos que mobilizar a nação para
derrotar as telcos dessa vez. Há um ‘complôzinho’ se formando
mas o povo pode ganhar essa disputa. O AliceRamos.com, assim como fez
em relação à MP 232, propõe que os nomes dos parlamentares que
votarem contra o fim da assinatura básica sejam expostos em listas públicas
para que a população veja e não votem neles.
Como parte de nosso compromisso com a nação
também iremos listar o nome de todos os deputados federais e
senadores que estarão contra ou a favor da assinatura. Quem votar a
favor da extinção da assinatura deve ser ovacionado e eleito
novamente, quem não o fizer deve cair no ostracismo e no
esquecimento, e ser punido com a ausência de votos.
Ainda sobre o discurso dos especialistas
da Bear Stearns, vejamos:
2) O governo brasileiro não pode
ignorar os contratos de concessão
O governo já deu inúmeras demonstrações
de forma inequívoca que jamais ignorou os contratos de concessão.
Nenhum dos poderes até agora passou por cima deles. Por isso mesmo é
que a população tem o direito inalienável de mudar suas cláusulas
em 2006, extinguindo a assinatura básica e o readaptando aos
interesses da nação e não somente de um grupelho de empresários de
telecomunicações que julgam estar acima da lei, de tudo e de todos.
3) E o impacto no sentimento do país
para investimentos e na lucratividade das operadoras de telefonia fixa
Mero jogo de palavras vazias. Aliás, a
logorréia (necessidade incoercível de falar) parece ser uma das táticas
dos defensores da assinatura básica. Se ela fosse justificável
haveria necessidade de tantas legitimações?
Aqui o especialista da seguradora que
estava falando em nome das telcos quis colocar o sentimento (e os
interesses escusos) das operadoras, como se fosse o sentimento da nação.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, usou desse mesmo artifício
verborrágico logo no início do seu mandato, dizendo que a sociedade
queria o aumento de salários dos deputados. Só omitiu a que
sociedade ele se referia. Aqui aconteceu a mesma coisa, quando
omitiram o país a que estavam se referindo. Provavelmente aos EUA, já
que a maior parte dos controladores das operadoras brasileiras é de lá.
O sentimento do Brasil, no qual se
inserem 185 milhões de cidadãos, é de repúdio às práticas
lesivas das telcos, e principalmente contra a assinatura básica,
assim como o foi em relação à farra que os deputados queriam fazer
com o dinheiro público. Deputados os quais já estavam envolvidos com
recebimento de mensalão.
Esse estudo é a prova cabal e
definitiva da construção de um ardil sem precedentes para a
consolidação legal desse mensalão das operadoras.
Enfim, o ministro das Telecomunicações
sozinho não pode combater essas distorções é necessário a pressão
da sociedade sobre os políticos que lhes dão sustentação. Porque
faço questão de apoiá-lo nesse quesito?
Porque, como sou a primeira (e muitas
vezes a única, ainda que pagando um alto preço) a deplorar o governo
publicamente quando faltam com a lisura e cometem erros, quero ser
também sempre a primeira a aplaudir e manifestar todo o apoio que eu
puder oferecer, quando esse mesmo governo, diretamente, ou através de
um de seus ministérios, faz as coisas certas e age em prol de
beneficiar a nação.
É necessário porém que o ministro
alinhe melhor suas idéias com os anseios do povo: ninguém está
querendo que se abaixe o valor da assinatura, mas sim que ela seja
extinta. Bom será se ele entender isso logo no início para evitar
desgastes desnecessários como os que ocorreram com Lula em relação
à MP 232. Se tivesse cedido logo no princípio dos protestos não
teria passado por tanta vergonha.
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